Casimiro de Brito homenageado no Festival Literário de Querença
O escritor Casimiro de Brito regressou por estes dias às origens, mais concretamente ao interior do concelho de Loulé, onde hoje arranca o I Festival Literário de Querença (FLIQ), onde é homenageado juntamente com a sua vasta obra.
Organizado pela Fundação Manuel Viegas Guerreiro, sediada naquela aldeia, o FLIQ tem um programa intenso para o qual estão convidados 20 escritores portugueses e espanhóis que, em diferentes espaços públicos da aldeia, vão ter conversas em torno da literatura.
"O meu avô dizia que aprendi a cantar antes de aprender a falar e que isso ocorreu na casa dele, na horta. Queria ele dizer, sobre o domínio dos bichos e das árvores", declamou Casimiro de Brito frente à antiga casa dos seus avós maternos, em pleno barrocal algarvio.
À Lusa, o escritor falou sobre a forma como a natureza do interior algarvio o inspirou desde tenra idade, como os cinco livros "de cordel" que os avós tinham em casa o ajudaram a conhecer-se e a formar-se enquanto pessoa e como o soletrar das palavras do avô ainda hoje lhe parece uma forma interessante e poética de dar pujança às palavras.
"Dá-me impressão que fiquei mais encantado com esta proposta para um festival aqui em Loulé, em Querença, do que em Quioto. Fiquei radiante", revelou o poeta a propósito deste festival onde, este sábado, vai ser inaugurada a exposição "Entre mil águas: a vida literária de Casimiro de Brito".
O festival de três dias propõe-se a eliminar quaisquer barreiras e colocar a literatura "a nu" e liberta por vários cantos e recantos da aldeia, por onde estão espalhados poemas.
"Aquilo que pretendemos é que Querença seja um lugar de encontro de todos e de convívio em que possamos celebrar a literatura e a poesia, mas sem restrições, sem dicotomias entre o erudito e o popular, o nacional e o internacional", explicou Patrícia Palma, da organização do FLIQ.
Uberto Stabile, Fernando Esteves Pinto, María Alcantarilla, Gabriela Rocha Martins e Vitor Gil Cardeia são alguns dos escritores confirmados no evento. A organização espera que a iniciativa atraia outros escritores e amantes da literatura para discutir temas mais ou menos polémicos.
"A literatura do Algarve é uma das coisas que vamos saber se existe. Essa será uma das polémicas", observou Patrícia Palma, lembrando que o primeiro dia é dedicado aos poetas andaluzes, o segundo dia dedicado a Casimiro de Brito e o último dia dedicado aos poetas portugueses.
O programa daquele evento, que coloca o interior algarvio como ponto fervilhante do pensar e viver da literatura, inclui exposições de esculturas, lançamento de livros e sessões de autógrafos, performances, espetáculos musicais, um mercadinho de livros usados, ateliês para o público infantojuvenil e gastronomia.