"As Aventuras de Tom Sawyer" na Quinta da Regaleira

A história do endiabrado rapaz que acompanha gerações desde o século XIX ganha vida todos os sábados e domingos, em Sintra.
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Há tesouros e índios, travessuras e diabruras e até uma aula de matemática em que o público é posto à prova nesta adaptação de Paulo Cintrão do clássico da literatura infantil As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain. Alguns dos espaços da pequena cidade de São Petersburgo, no estado do Missouri, nos Estados Unidos, onde a ação se passa no original publicado em 1876, são recriados num dos socalcos da Quinta da Regaleira, em Sintra. É aí que todos os sábados e domingos, sete atores do grupo bYfurcação Teatro dão vida às principais personagens.

Não estão lá todas nem tão pouco se pode esperar que num espetáculo pensado para um público a partir dos seis anos percorra todas as aventuras relatadas pelo escritor norte-americano nas margens do rio Mississipi. "Não podíamos fazer a obra toda", assume Paulo Cintrão. É um espetáculo para miúdos e, por isso mesmo, não convém que a duração ultrapasse uma hora. Ficaram pelos 50 minutos. Mais coisa menos coisa, porque, como explica, "o texto está feito de modo a deixar alguma margem de manobra aos atores, alguns deles, como José Frutuoso, habituados ao teatro de improviso".

Para os mais familiarizados com a história, a primeira estranheza ao olhar para o cenário é precisamente a ausência do rio, o segundo mais longo dos Estados Unidos. Puro engano, como se verá durante o espetáculo com o protagonista Tom Sawyer (João Parreira) e o seu amigo de aventuras Huckleberry Finn (Flávia Lopes) a pescarem por diversas vezes no rio Mississipi, uma tarefa a que se dedicam afincadamente em vez de... irem à escola.

Sobre as personagens, Paulo Cintrão explica que estão lá quase todas, embora algumas delas com características um pouco diferentes das originais, numa adaptação aos dias de hoje. "É o caso do índio Joe. Na altura era visto como uma figura perfeitamente aterradora, muito má, algo normalíssimo na América do final do século XIX. Tal como o escravo Jim. A escravatura era normalíssima", assinala.

Assim, temos um índio Joe (Patrícia Duarte) que se assume como ladrão, mas um ladrão muito especial que não rouba mais do que sapatos ou chapéus ao público. E no último sábado, em que assistimos à peça, era uma plateia muito pacífica pois quando o índio Joe e o seu ajudante começaram a juntar o seu tesouro, foram as próprias pessoas a estenderem-lhe os seus pertencentes, malas incluídas. O ajudante (José Frutuoso) não resistiu e lançou uma deixa de improviso - "nem é preciso roubar, eles dão", provocando uma gargalhada.

E quanto ao escravo Jim (Núria Semedo), apesar de manter a ingenuidade da personagem original, aqui não é minimamente mal tratado pela tia Polly (Patrícia Duarte, que no espetáculo do último sábado substituiu a habitual Joana Lobo). Mais, para quem não saiba que a personagem original é um escravo, nesta adaptação fica apenas com a ideia de que é um normal empregado da tia Polly.

E como uma das imagens de marca do bYfurcação Teatro é a participação do público, a plateia também é chamada a entrar em ação numa outra ocasião, quando Tom Sawyer deixa o seu amigo Huck e a pesca e decide, afinal, ir à escola. E aqui, tal como no livro que serve de base a esta peça de teatro, a responsável por esse interesse inesperado de Tom pela letras e pelos números é Becky (Patrícia Bruheim). Quanto ao original tesouro de Tom Sawyer, é preciso assistir à peça para o descobrir.

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