Ziguezague entre documentário e ficção

Nas retrospetivas de autores organizadas pelo LEFFEST, cruzam-se temas e olhares de diversas origens geográficas e culturais.
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Jane Campion, neozelandesa. Maria Speth, alemã. Mike Dibb, inglês. Ryusuke Hamaguchi, japonês. Cristi Puiu, romeno. Assim é o ziguezague geográfico proposto pelo LEFFEST na secção de Homenagens e Retrospetivas. Escusado será dizer que Campion, Palma de Ouro em Cannes-1993 com O Piano, é o nome de maior destaque, a par de Puiu, autor marcante na renovação do cinema da Roménia com boa divulgação no mercado português (lembremos o seu recente e admirável Malmkrog).

Hamaguchi surge como a referência de culto desta lista, estatuto reforçado pelo impacto do seu Drive My Car, neste ano, em Cannes, onde ganhou o prémio de argumento (adaptado de um conto de Haruki Murakami). Seja como for, sublinhemos as possibilidades de descoberta em torno dos nomes de Speth e Dibb, cineastas com especiais contribuições na área documental.

Dibb, veterano da tradição documentarista britânica, começou a sua carreira, na BBC, com a produção e a realização de um verdadeiro clássico: Ways of Seeing/Modos de Ver (1972), série de quatro episódios de meia hora em que John Berger analisa a nossa perceção das imagens, da pintura renascentista europeia até às linguagens da publicidade no século XX. Na sua vastíssima filmografia incluem-se trabalhos sobre Octavio Paz, Elmore Leonard, Stephen Frears, Miles Davis ou Edward Said (com quem filmou A Última Entrevista, difundida em 2004, um ano depois da morte de Said).

Quanto a Speth, vale a pena lembrar que a sua ficção Madonas (2007), sobre a condição materna, teve estreia em Portugal. Entretanto, assinou aquele que ficou como um dos títulos maiores da última edição do Festival de Berlim (distinguido com o Prémio do Júri): Herr Bachmann und seine Klasse acompanha o dia-a-dia de uma turma de uma escola de Stadtallendorf, cidade alemã onde se cruzam habitantes provenientes de diversos países europeus, criando uma teia de línguas e culturas com importantes reflexos nas relações entre o professor Bachmann e os seus alunos - é uma das obras-primas do mais recente documentarismo europeu.

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