O presidente da China inicia nesta sexta-feira uma deslocação ao continente africano, em que visitará o Senegal, o Ruanda e a África do Sul, onde participa, entre os dias 25 e 27, na cimeira dos BRICS, organização que agrupa as cinco maiores economias emergentes: África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia..A visita do dirigente chinês àqueles três países africanos, na que é a sua terceira deslocação ao continente, está a ser vista como uma oportunidade para reforçar as relações comerciais e económicas sino-africanas..A China é o primeiro parceiro comercial de África, tendo as trocas registado um valor total de 170 mil milhões de dólares em 2017, com as exportações chinesas a alcançarem os 94,7 mil milhões de dólares, enquanto as importações de África se cifraram nos 75,2 mil milhões de dólares, segundo números oficiais de Pequim..Esta é a primeira deslocação de Xi Jinping a África desde o lançamento da iniciativa da nova rota da seda - "Uma Rota, Uma Faixa" - em que, particularmente, a costa oriental do continente é envolvida..Esta iniciativa do líder chinês abrange 70 países e está avaliada em 900 mil milhões de dólares, e visa reativar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através de Ásia Central, África e Sudeste Asiático..Redes ferroviárias intercontinentais, portos, aeroportos, centrais elétricas e zonas de comércio livre estão a ser construídos em mais de 60 países. Estruturas que terão um impacto em cerca de 65% da população mundial..Na anterior cimeira dos BRICS, em 2015, garantiu que a China disponibilizava um total de 60 mil milhões de dólares para financiar projetos na área industrial, as trocas comerciais, a criação de pequenas empresas em África e para fundos de créditos. Espera-se que na cimeira deste ano Pequim avance com um valor ainda mais elevado..Além da componente económica e comercial, a China tem mostrado interesse em incentivar a cooperação na área da segurança e defesa, onde muitos africanos enfrentam sérios desafios..Entre os temas agendados para este encontro, figuram a industrialização e as novas tecnologias, o crescimento inclusivo e a cooperação em temas como a manutenção da paz e em matérias de saúde, como a criação de uma plataforma de vacinação que abranja estes países. Além disso, a África do Sul incluiu na agenda a discussão sobre igualdade de género e a defesa dos direitos das mulheres..Segundo o embaixador do governo sul-africano para os BRICS, Anil Sooklal, os líderes dos cinco países membros participarão numa reflexão sobre as conquistas do bloco nos seus quase dez anos de existência e sobre a estratégia a ser seguida nos próximos anos..Na lista dos temas "espinhosos" estarão questões relacionadas com os direitos humanos e a democracia que foram amplamente abordados após as reeleições dos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, tendo este último efetuado uma reforma constitucional para eliminar o limite máximo de dois mandatos presidenciais no país.."Não estamos calados em relação aos direitos humanos, é um dos pilares da nossa política externa", afirmou o representante sul-africano em nome do governo do novo presidente, Cyril Ramaphosa. Não obstante, Sooklal lembrou que "os BRICS respeitam a soberania de cada país" e a organização não interfere "nos assuntos domésticos" assim como não avalia o "sistema de governo" que vigora em cada nação..Além dos contactos bilaterais com os seus homólogos dos países que visita e do encontro dos BRICS, a presença de Xi em África servirá igualmente para se avançar nos preparativos de uma outra reunião de alto nível: a cimeira China-África, marcada para setembro em Pequim..Um encontro para o qual Xi definiu um objetivo ambicioso na mensagem enviada à cimeira da União Africana, que decorreu nos dias 1 e 2 de julho na Mauritânia. Nesse texto, Xi pediu a "construção em conjunto de uma comunidade de destino sino-africana ainda mais sólida para se concretizar uma cooperação em que todos saiam a ganhar". Pequim aposta "num novo nível de cooperação estratégica global", afirmou o presidente chinês na referida mensagem..O presidente chinês, assim que chegou ao poder, incluiu três países africanos na primeira visita oficial ao estrangeiro, o que prova a importância estratégica da África para a China.Xi Jinping iniciou o mandato de presidente da China a 14 de março de 2013, e dez dias depois já se encontrava na Tanzânia. Seguiu-se uma passagem pela África do Sul e pelo Congo..Recorde-se que a China mantém relações com África desde os anos 50 do século XX, no auge da Guerra Fria, através do apoio a movimentos independentistas e, mais tarde, entrou na construção de estradas, ferrovias e oleodutos capazes de chegar aos campos de petróleo e às minas de cobre e urânio que ajudaram a alavancar as economias africanas. Mais de um milhão de chineses trabalham no continente na construção e nas atividades de mineração. Nos últimos 50 anos, o governo chinês enviou 18 mil médicos para África que assistiram cerca de 250 milhões de pessoas.