Mais casas em risco com nova boca eruptiva. Neblina nos Açores pode ser consequência do vulcão
Na ilha espanhola de La Palma a abertura de uma nova boca eruptiva do Cumbre Vieja marca esta sexta-feira e o fim de mais uma semana de atividade vulcânica. "Não é uma boa notícia porque é possível que novas infraestruturas sejam afetadas". Quem o diz é Manuel Nogales, delegado do Conselho Superior de Investigações Científicas nas Canárias.
Terá sido durante a madrugada, por volta das 02:00, que surgiu esta nova boca eruptiva, paralela à principal, 400 metros mais a norte, originando um novo fluxo de lava, de acordo com a Televisão Canária, o que representa um novo foco de preocupação. Trata-se de uma boca eruptiva "muito efusiva", considerou o Instituto Geológico Nacional.
De acordo com o jornal El Mundo, o vulcão de La Palma já emitiu mais de 80 milhões de metros cúbicos de lava desde o início da erupção, a 19 de setembro.
Regista-se também, desde quinta-feira à noite, um aumento de emissões de dióxido de enxofre, que não representa riscos para a saúde pública, indicam as autoridades.
Ainda assim é recomendado o uso de máscaras FFP2 nas zonas mais afetadas, "especial atenção às pessoas vulneráveis", que devem evitar os espaços ao ar livre, diz o serviço de emergência Canárias 112.
Isto numa altura em que mais de mil edifícios (1005) já foram afetados pelo Cumbre Vieja - 870 foram destruídos - segundo a avaliação mais recente do Copernicus, sistema europeu de satélites para monitorização terrestre.
Aliás, o Programa de Observação da Terra da União Europeia mostra agora uma imagem captada a partir do espaço do vulcão e do caminho que a lava encontrou até ao Oceano Atlântico.
O Instituto Geográfico Nacional (IGN) mostra nas redes sociais a dimensão da língua de terra, onde antes havia mar. Uma área de terreno que está constantemente a crescer e que já ultrapassa os 17 hectares enquanto se mantém o fluxo de lava do Cumbre Vieja.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) fez saber, entretanto, que está a estudar a possibilidade de uma reação química provocada pelo vulcão de La Palma estar a criar uma "neblina" em torno das ilhas do grupo central dos Açores.
Em declarações à Lusa, Carlos Ramalho, do IPMA nos Açores, refere que a "visibilidade mais reduzida" e a "neblina" verificada no grupo central do arquipélago "poderão ter origem no vulcão de La Palma".
Segundo disse, trata-se um "sulfato" que se "agrega com o vapor de água" e que cria aquela "neblina" devido à humidade elevada registada nos Açores.
O meteorologista realçou que o IPMA ainda "está a confirmar" a hipótese e destacou que essa possibilidade "não tem a ver com as cinzas" do vulcão, sendo antes um processo químico.
"São reações químicas que depois se propagam pelo Atlântico. São processos químicos que se dão a partir da erupção do vulcão, que emite diversos gases. Alguns desses gases, à medida que se deslocam na atmosfera, sofrem reações químicas. Quando chegaram aqui [à região] deram origem a este sulfato", afirmou.
E prosseguiu: "Este sulfato agrega-se ao vapor de água, e como a humidade relativa está muito elevada, forma-se esta neblina. Isso é o que nós achamos, mas ainda não temos resposta oficial".
Carlos Ramalho referiu que quando a redução da visibilidade é provocada por areias do deserto, "normalmente fica tudo muito sujo e com pó", situação que não está a acontecer atualmente.
Segundo disse, é "provável" que esse sulfato se tenha propagado a outras regiões, mas "como a humidade não era tão elevada" nesses locais "as pessoas nem deram conta".
Esperando ter a confirmação oficial nas "próximas horas", Carlos Ramalho disse que a "concentração" do sulfato "é muito baixa" e que a "situação deve melhorar" no sábado.
Com Lusa