"Vou bater-me contra quem está a fazer mal ao futebol"
Porque é que um adepto deve ler o seu livro Mentira$ Futebol Clube?
Este livro é a minha reflexão sobre o mundo do futebol e tem uma forte componente de atualidade em relação aos principais temas e protagonistas do futebol português. Não quero colocar-me na posição de guardião dos valores que o futebol deverá projetar, mas entendo que em Portugal é necessário investir num comportamento mais ético por parte dos dirigentes e num maior respeito institucional, independentemente das rivalidades, pois será mais fácil resolver alguns problemas que afetam a indústria e o negócio. O futebol deixou de ser há muito uma atividade de lazer associada à prática desportiva para se tornar um gigantesco negócio. E, como estamos a falar de alta competição, as regras têm de ser adaptadas não apenas à evolução dos tempos mas também à crescente tentação de apostar em práticas lesivas. O livro tem uma componente de alerta e de crítica, também de denúncia construtiva; acentua que a limpeza, absolutamente necessária, tem de ser realizada através da FIFA, e o facto de ela ter começado a ser feita, muito por influência dos EUA, é um bom sinal para a sua regeneração.
É um processo que vai demorar?
É um processo que vai levar tempo, não falo de um futebol bacteriologicamente puro, porque essa "pureza" não existe na condição humana, mas é preciso estudar o passo dos assaltos, dos negócios sem regras e da ideia de que no futebol, pelo seu estatuto de desporto universal, cuja organização consegue condicionar, até, a soberania dos Estados, pode valer tudo. Não pode valer tudo. Escrevo sobre as figuras, figurinhas e figurões e tento chamar a atenção para as particularidades da comunicação dos clubes. Há muita areia nos olhos das pessoas, oportunismo e tentativas de silenciar quem não se deixa capturar. Não quero ser herói, mas uma democracia não pode consentir que certos ditadores ponham em causa os seus princípios fundamentais. Ponho nomes, conto episódios e tento chamar a atenção para o papel de todos aqueles que, a coberto do nome e da força social dos clubes, mostram a sua indigência intelectual. Em Lisboa, como antigamente no Porto, ainda há resquícios muito vivos daquela máxima segundo a qual "se não és incondicionalmente a nosso favor, estão estás contra nós". Sou contra esse aproveitamento e esse oportunismo e lutarei por um futebol democrático. Pela convergência, mas se for necessário pela divergência. O futebol em Portugal está demasiado clubitizado, no pior dos sentidos; na exploração da falta de educação, da mentira, da manipulação. Os clubes, e sem querer generalizar em absoluto, não entendem o alcance da responsabilidade social que têm. Usam a sua força, vezes de mais, no pior dos sentidos.
Vai fazer alguma revelação ou este livro é uma espécie de resumo de tudo o que tem dito e escrito?
O livro tem muito de análise e introduz revelações e alguma novidade. Para contextualizar, recupero ideias que tenho defendido publicamente mas a prosa é quase 100% original. Quem está verdadeiramente interessado em perceber algumas dinâmicas que acontecem no futebol português, deve ler este livro, que tem um bocadinho de buraco da fechadura...