Vodafone Mexefest. Ouvir música e descobrir uma certa Lisboa

Com concertos em palácios, igrejas e até numa piscina, é muito mais que um festival de música alternativa
Publicado a
Atualizado a

Desde a primeira edição do Vodafone Mexefest que a Casa do Alentejo é um dos pontos de passagem obrigatório nas deambulações pelo festival. "Pelos concertos, mas também pelo espaço", como faz de questão de sublinhar Ricardo Leal, assessor comercial da Casa do Alentejo, que ontem nos conduziu numa visita guiada enquanto prosseguiam os preparativos para o festival.

O que poucos saberão é que este edifício, originalmente construído no século XVII e também conhecido como Palácio Alverca, Palácio Pais do Amaral ou Palácio São Luís, foi no início do século XX um dos locais mais em voga da então "movida" lisboeta, quando aqui funcionou, a partir de 1919, um dos primeiros casinos da capital, o Magestic Club - vem dessa altura o estilo neoárabe que se haveria de tornar o seu principal cartão-de-visita. "Era um dos mais luxuosos de então, onde vinha toda a alta sociedade para jogar e ver os espetáculos. No fundo apenas estamos a manter essa tradição", explica Ricardo. O casino haveria de fechar em 1928, na sequência do golpe militar que haveria de dar lugar ao Estado Novo, transformando-se então na sala de espetáculos Monumental Club, em funcionamento até 1932, quando aqui finalmente se instala o Grémio Alentejano, mais tarde tornado Casa do Alentejo.

[artigo:4902547]

A igreja dos franceses da cidade

Algumas portas ao lado, a Igreja de São Luís dos Franceses é outro dos locais improváveis para assistir a um festival rock, mas assim é desde há alguns anos. Aberta em 1572 pela Confraria do Bem Aventurado São Luís Rei de França, composta por caldeireiros franceses e bretões residentes em Lisboa, ficou arruinada com o terramoto de 1755, mas viria a ser reconstruída com dinheiros concedidos pelo reino de França, passando a partir de então a ostentar as três flores-de-lis francesas por toda a igreja, onde ainda hoje é assegurado o serviço religioso e espiritual da comunidade francesa de Lisboa.

"Continua a ser uma igreja real francesa, restando apenas mais duas, em Roma e em Moscovo", explica Martine de Stoop, uma espécie de guardião do templo, enquanto nos guia pelo seu interior, recuperado em 2011. "Sou reformada e viúva, tenho muito tempo e por isso estou quase sempre cá", afirma Martine, que também nunca falta aos concertos - e este ano lá estará, a assistir às atuações de Anna B Savage e Beautify Junkyards. "A igreja tem uma acústica muito bonita e a escolha do programa tem sido sempre muito acertada. Já assisti aqui a concertos muito bons", confessa.

Os contrastes no Palácio Foz

Do outro lado da Avenida da Liberdade e depois da estreia, o ano passado, o Palácio Foz volta também a fazer parte do portefólio de salas do festival. Palco de uma regular programação cultural, este palácio, construído entre finais do século XVIII e meados do século XIX, mais habituado a ouvir as delicadas sonoridades da música erudita, será este ano palco, por exemplo, da iniciativa Ciência Rítmica Avançada, uma curadoria do jornalista Rui Miguel Abreu, que transpõe para a nobre Sala dos Espelhos o programa de rádio com o mesmo nome, dedicado à nova geração do Hip Hop/Soul/R&B/Reggae nacional, com a presença de nomes como Bison & Squareffekt, Roger Plexico, Nerve e Dj Firmeza. "Este contraste é muito interessante e é por isso que estamos sempre à procura de eventos diferentes e enriquecedores, como este, porque não queremos ser exclusivos. Pelo contrário, pretendemos alargar a nossa programação o mais possível", explica Adelaide Banha, Relações Públicas do Palácio Foz, para quem "faz todo o sentido" a presença no Mexefest.

Um tanque musical

Ao todo, serão 14 os espaços em volta da Avenida da Liberdade que vão receber os mais de 50 concertos desta edição do Mexefest, um deles em estreia absoluta nestas lides. Chama-se Tanque e funcionará dentro da piscina do Ateneu Comercial de Lisboa, encerrada há quase dez anos e recentemente transformada num novo espaço de eventos culturais, por onde passarão este fim-de-semana nomes como San Holo, Da Chick ou Peaches, entre outros. O palco será instalado dentro da piscina de 25 metros, com capacidade para 800 pessoas, naquele que será sem dúvida uma dos mais surpreendentes salas do festival, também ele, como se vê, um modo de partir à descoberta, não só de nova música, mas também de uma Lisboa ainda para muitos desconhecida.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt