"Vitória! Vitória!": os laranjas cantaram antes dos socialistas o grito para domingo
O PSD ainda mal tinha começado a descer a Rua Garrett, no coração do Chiado, em Lisboa, e os jotas já cantavam "vitória! vitória! vitória". Os socialistas, que tinham descido este bairro horas antes, demoraram mais a cantar as mesmíssimas palavras no mesmo ritmo: já iam no Rossio quando se ouviu também "vitória! vitória! vitória".
Para domingo, os apelos de última hora nesta sexta-feira foram de mobilização ao voto. Costa lembrou que "as sondagens não ganham nada" e "por um voto se ganha e por um voto se perde", enquanto Rui Rio lembrou que "quem não votar, quem se abstiver, está no seu direto, mas ao fazê-lo está a reforçar aquilo que existe, que é o PS, o PC e o Bloco de Esquerda".
No último dia, esteve pois o Chiado carregado de mil campanhas, apesar de o CDS ter desmarcado idêntica arruada e comício ao fim da tarde para a zona, em sinal de luto pela morte do seu fundador, Diogo Freitas do Amaral.
Entusiasmados com o incidente de António Costa, que teve uma altercação com um homem no Terreiro do Paço, em Lisboa, já no final da sua ação de campanha, os sociais-democratas reuniram largas centenas de apoiantes para descer também até ao Rossio, mas infletindo para a esquerda (ao contrário dos socialistas que viraram à direita) para a Rua 1.º de Dezembro, subindo a íngreme Calçada do Carmo em direção ao Largo do Carmo, onde estava um palco montado.
Esta arruada fit contrasta com o percurso clássico do PS: descido o Chiado, os socialistas percorrem a Rua Augusta, num slalom entre esplanadas, estaleiros de obras e turistas espantados, até se despedirem junto ao arco da rua, com o Terreiro do Paço ali ao pé.
A tarde socialista começou com o tradicional almoço da Trindade, onde não há qualquer alternativa que pisque o olho ao PAN: é bife e batata frita e é se quiser. Já o PSD almoçou com agentes culturais no Parque Mayer, no restaurante A Gina, servido um bacalhau à Brás.
Rio sublinharia os dois lugares simbólicos que os sociais-democratas ocuparam hoje: o Parque Mayer, "simbólico para Lisboa", e o Largo do Carmo, "simbólico para Portugal". As bandeiras laranjas ocuparam metade do largo onde caiu a ditadura num comício-que-não-era-comício: "A festa é hoje anulada, em memória de Diogo Freitas do Amaral", anunciou o speaker, mas houve discursos como é suposto e também o hino cavaquista, recauchutado com batidas eletrónicas, "Nós somos um rio", tocou à exaustão no final.
Sem nunca se cruzarem - António Costa e a comitiva socialista já iam de comboio a caminho do Porto - quando Rui Rio chegou ao Chiado. Um e outro são diferentes na rua: apesar de ambos irem numa bolha de figuras do partido, seguranças e jornalistas, o socialista procura o contacto com militantes ou simples anónimos que passam, obrigando a mole humana a ir num acordeão improvisado, enquanto o social-democrata fica mais preso, segue a direito, limitando-se a levantar os dedos à PSD e sorrindo para quem lhe acena.
Rui Rio bem disse no comício: "Se quiser a mudança, não é para a esquerda, não é para a direita, é para o centro, onde está equilíbrio e moderação." Já António Costa pediu o mesmo equilíbrio, piscando os olhos aos eleitores à direita e à esquerda. "Nunca há um governo com mãos livres, o que não podemos ter é um governo com mãos atadas", repetiu na Rua Augusta o que tinha dito no almoço da Trindade. Faltou-lhe a moderação, depois quando o popular o acusou de estar de férias nos fogos de 2017.
Já Rui Rio saudou os seus adversários, no final do comício, para dizer que agora é a vez do voto. Afinal, lembrou, "o povo é quem mais ordena", atirou, citando Grândola, Vila Morena.