Vítor Proença: "A atual ministra da Saúde não ouve os municípios, nem os autarcas"
Que projetos a Câmara de Alcácer do Sal tem até final do ano?
Estamos com um conjunto neste mandato na ordem dos 13 milhões de euros de investimento. Desde logo, a componente educativa, com o combate ao insucesso escolar e com a construção da Escola Básica dos Telheiros, uma obra de 1,5 milhões de euros. Também na área ambiental temos um conjunto de intervenções, como a Estação de Tratamento de Águas da Comporta e águas e tratamentos de esgotos em Foros de Albergaria. Também outras obras, como a reconversão urbana da zona nascente de Alcácer do Sal, num total de 4,5 milhões de euros. E a reconversão das piscinas cobertas, que têm mais de 20 anos e necessitam de obras para melhorar a eficiência energética. Já concluímos a primeira fase dos corredores cicláveis da cidade de Alcácer e estamos na conclusão do Plano de Mobilidade do Torrão. É um conjunto de obras que coloca Alcácer do Sal com um nível de investimento municipal nunca antes visto num só mandato.
O município aprovou um manifesto a pedir mais investimento do Estado no concelho. O que pretendiam?
Esse manifesto foi aprovado por unanimidade na Assembleia Municipal, e isso dá-nos um conforto muito grande relativamente à valia e ao bom senso das propostas. Esse manifesto é uma bandeira de intervenção do município, há áreas desse manifesto que estão em curso, há outras mais demoradas, por exemplo do retorno dos comboios de passageiros a Alcácer do Sal. E há outras intervenções, como a reparação do IC1, que é uma estrada nacional de uma importância incalculável, mais de 8000 veículos por dia, em média, que exige uma reparação urgente entre Palma e Alcácer.
Há interação entre o poder local e o poder central?
Há. Muitas vezes não é difícil e no meu caso não tem sido difícil o diálogo. Não tem sido difícil, de um modo geral, salvo com a senhora ministra da Saúde, o encontro com ministros ou secretários de Estado. O grande problema são os resultados, ou a falta de resultados, porque não basta ouvirem-nos, não basta dizerem que sim, a questão é a concretização para a região.
Disse que tem um bom acesso aos membros do governo, com a exceção da ministra da Saúde.
A ministra da Saúde não ouve os municípios, nem os autarcas. Há um conjunto de questões que temos colocado e que se prendem com a falta de médicos e de enfermeiros. Não entendo como é que pode haver dois ou três médicos que saem de Alcácer do Sal e vão para outras regiões, inclusive para uma das regiões autónomas, ganhar mais, com muito melhores condições materiais, e aqui no Continente, em particular no Alentejo, não serem dadas essas condições a esses profissionais, que continuam no Serviço Nacional de Saúde.
Qual tem sido a resposta da câmara à covid-19?
Estamos a falar de equipamentos de proteção individual para os funcionários municipais e para IPSS, para a GNR, para profissionais de saúde. Duas entregas e distribuições gratuitas a toda a população de máscaras. Foi aprovado um segundo pacote de medidas de emergência para os comerciantes da restauração e os cafés, salões de cabeleireiro, esteticistas, até junho terem isenção da tarifa fixa da água. Isenção até final do ano da tarifa social de água, quer a fixa, quer a variável, para as pessoas com menores rendimentos. Isenção de rendas das empresas que estão nas zonas industriais até ao final do ano. É um conjunto de medidas que ciframos em cerca de, neste momento, 500 mil euros.
Alcácer tem uma zona forte de turismo que é a Comporta. Sentiram o impacto da covid no turismo?
Alcácer está a ser fortemente procurada para grandes investimentos. Temos um Plano de Pormenor do Pego do Altar, da barragem do Pego do Altar, que é um plano de pormenor para uma área de mais de 250 hectares, em que estamos a falar de um hotel e de quatro hotéis rurais, com uma área de excelência junto à barragem do Pego do Altar, que é uma zona no corredor entre Alcácer do Sal e Évora. Temos a ADT2 na Comporta a avançar, estamos a falar da ADT2 que era uma parte da Herdade da Comporta, que já está com obras de urbanização que vai conduzir a um campo de golfe de 18 buracos, vai conduzir a vários hotéis, aparthotéis e residências, estamos a falar de quase 200 camas que o Grupo Pestana vai iniciar ainda este ano também na Comporta. Contudo, há problemas que têm de ser resolvidos. O Ministério do Ambiente tem que encontrar soluções com a Herdade da Comporta e o município de Grândola e o município de Alcácer para o estacionamento dos veraneantes.
Que impacto vão ter?
Estamos a falar de investimentos de largas centenas de milhões de euros. O projeto do Rio Mourinho, barragem do Pego do Altar, o investimento da ADT2, o investimento do Grupo Pestana, e outros investimentos só na área do turismo, estamos a falar de qualquer coisa como mais de mil milhões de euros. Vai trazer impactos ao nível do emprego, vai ter impactos muito grandes a nível económico, a todos os níveis... Tem também que haver capacidade para a região receber bem o novo emprego que aí virá. E preços para que também as populações locais não sofram esses impactos do turismo. Por exemplo, se alguém paga um café por 70 cêntimos não tem de estar a pagar um café por três euros.
O que acha da possibilidade dos autarcas serem vacinados numa primeira fase?
Penso que na primeira fase têm de ser vacinados os idosos com mais de 80 anos e deve ser dada prioridade a segmentos dos funcionários municipais. Temos de estar eternamente gratos, eu estou, aos funcionários da Câmara Municipal de Alcácer que estiveram sempre na primeira linha. Os funcionários municipais, julgo que em todo o país, estão muito expostos ao perigo. Do meu ponto de vista, bombeiros, funcionários municipais, naturalmente a saúde, e algumas pessoas que estão nos apoios sociais, voluntários que estão a entregar, como aqui em Alcácer do Sal, comida diretamente a pessoas confinadas ou infetadas, essas pessoas são prioritárias, tal como são prioritárias as pessoas com mais de 80 anos.
E em relação aos autarcas?
Não acho que seja prioritário, mas compreendo quem defende isso.
Que balanço faz dos seus dois mandatos?
Falar em causa própria é sempre difícil. Disse sempre que não era milagreiro, foi um primeiro mandato muito difícil, porque se entrou em contraciclo no país duplamente, por um lado as políticas restritivas centrais da troika, que tiveram consequências gravíssimas em Alcácer do Sal, e, por outro lado, o ciclo descendente do anterior quadro comunitário de apoio. Mas foi o primeiro mandato todo ele preparado para a organização interna da câmara e para novos projetos. E os resultados estão à vista neste segundo mandato, com o maior ciclo de investimento público municipal de que há memória aqui em Alcácer.
Vai recandidatar-se?
Ainda é cedo para pensar nisso, as eleições provavelmente serão a 3 de outubro. Mas direi que, se continuar a sentir o apoio maioritário que estou a sentir por parte das pessoas, naturalmente que estou inteiramente disponível para o fazer.
Depois das presidenciais começou a colar-se o Alentejo ao Chega, dizendo-se que o Chega tinha roubado votos ao PCP. Como eleito da CDU qual é o seu comentário?
Aqui em Alcácer isso não se passou, isso de todo não se passou. O candidato João Ferreira ganha uma freguesia, São Martinho. Em Alcácer do Sal, fica em segundo e julgo que alguma diminuição de votos que tenha tido comparativamente com o anterior candidato apoiado pelo PCP Edgar Silva tenha sido mais deslocação para Marcelo Rebelo de Sousa do que para o Chega. A candidatura de André Ventura julgo que entrou muito mais em eleitorado do PSD e do CDS, e do próprio Partido Socialista, do que da CDU. Sei que o presidente do PSD, que parecia mais o presidente do Chega na noite eleitoral, tanto tempo gastou com esse tema do Alentejo e dos bastiões comunistas no Alentejo, esteve imenso tempo a discorrer sobre essa matéria, mas não assenta em nenhuma base científica. Nenhum partido é proprietário do voto de quem quer que seja. Agora, está demonstrado que em Serpa, em Moura, em Beja, Santiago do Cacém, Alcácer, em Grândola, de um modo geral no Alentejo, o PCP, e a CDU, tem uma forte representação e vai demonstrá-la nas próximas autárquicas.