Viseu. Comboios, água, autocarros e uma bazuca que é um pressão de ar

Questão dos transportes, a construção de uma nova barragem, a reposição das ligações ferroviárias e o "abandono" do poder central são temas fulcrais da discussão em Viseu.
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É urgente resolver a questão do abastecimento de água. A rede de distribuição está feita, o que falta é uma segunda barragem no rio Vouga: a que existe, a de Fagilde, perdeu capacidade. O governo não pode continuar a ignorar o interior do país, não pode ignorar Viseu sob pena de deixar morrer à seca o interior. A opção política de só apostar nas áreas metropolitanas e no litoral tem de acabar. As pessoas têm direito a nascer, viver e morrer com dignidade. Há outra questão, a dos transportes. Não consigo perceber porque razão a linha férrea não é uma prioridade. Dizem que é muito caro, mas para as obras do Metro de Lisboa já há dinheiro, aqui nada. Depois também dizem que o governo espanhol está pouco interessado. Não é verdade, isso ficou claro na última Cimeira Ibérica. Mas ainda que fosse, o que é que os espanhóis têm a ver isto? É desculpa de mau pagador. A ligação a Aveiro, à linha da Beira Baixa, a ligação aos portos da Figueira da Foz e de Leixões é importantíssima", reclama Fernando Ruas.

O candidato social-democrata também não consegue "perceber" o que está previsto no PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) para Viseu. "Só falam do PRR, da bazuca, e o que há para esta zona é uma estrada de cinco quilómetros? Isso não é uma bazuca, é uma pressão de ar."

Fernando Ruas, no seu programa, diz procurar o "esbatimento e a erradicação de assimetrias e potenciar um crescimento mais harmonioso de todo o território", nomeadamente através da criação de "áreas de reabilitação urbana nas freguesias como medida suscetível de atrair as famílias a reabilitar imóveis degradados e de captar empresas geradoras de emprego, em condições financeiras aliciantes".

"Em todas as comunidades do concelho de Viseu, a atenção terá de ser consistentemente holística, com a integração de todos os ecossistemas, passando pela habitação digna, à educação/ensino, ao apoio social, à criação de emprego, à mobilidade amiga do ambiente, ao abastecimento público, à saúde, à promoção do turismo, ao apoio aos jovens e menos jovens constituindo-se uma sociedade intergeracional", afirma.

O candidato assegura que "irá manter um diálogo muito responsável com a administração central, falando com respeito, suportado na razão e sem subserviência", mas avisa que "não pode, não podemos deixar que apouquem os viseenses e os nossos empresários".

João Azevedo, candidato socialista, sublinha a existência, para breve, de "instrumentos financeiros que precisam de uma gestão autárquica ativa, rápida, forte, moderna, com ideias, iniciativas e projetos. E isso não é, nunca foi característica de Fernando Ruas. No programa dele até há a ideia de acabar com o dinheiro para a cultura e pôr tudo nas freguesias. Mas isto faz algum sentido?".

No programa para Viseu, o candidato apresenta dezenas de medidas para sete áreas que vão da saúde à desburocratização. "Tornar Viseu uma Cidade Saudável/Healthy Cities Network certificada pela OMS, "promover políticas municipais de promoção da natalidade e criar o kit Nascer Viriato de apoio à recém-maternidade", "reestruturar a rede municipal de transportes públicos, de forma a criar linhas de mobilidade entre hospital e rede de centros de saúde circundantes", "implementar, em articulação com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e o Instituto Politécnico de Viseu, a Escola Superior de Tecnologia da Saúde", "promover um forte investimento em habitação a custos acessíveis que permita fixar jovens no concelho", "promover a reabilitação do edificado devoluto e degradado, quer no centro da cidade quer nas aldeias", "garantir que os prazos administrativos são cumpridos", "criar um simplex nos processos municipais de licenciamento das atividades económicas", "acompanhar, em estreita proximidade com a administração central, a execução das obras do IP3, em perfil de autoestrada, sem pagamento de portagens, entre Viseu e Coimbra", "ajustar os horários dos transportes públicos aos munícipes e às suas necessidades" e "garantir livros escolares gratuitos até ao ensino secundário", são algumas das medidas defendidas por João Azevedo.

Nuno Correia da Silva, candidato do CDS, defende "três prioridades": "O apoio ao pequeno comércio e aos empresários que estão numa situação desesperante, a criação de uma "fita do tempo" que permita perceber a cada instante o que está a acontecer aos processos que entraram na câmara e assim poder responsabilizar quem atrasa esse trabalho e investir numa fórmula de apoio para a terceira idade: serem as pessoas a escolher o que querem e onde querem ficar, se for esse o caso."

No programa eleitoral, são apresentados seis eixos principais para o desenvolvimento de Viseu. Entre as medidas apresentadas surge a certeza de que "Viseu voltará a ter ligação de comboio aos principais eixos ferroviários, pois ter permitido o encerramento da estação de Viseu, foi um erro, um absurdo económico e uma irresponsabilidade social", a aposta na "capital de turismo de inverno", "transformar o espaço da Feira de São Mateus num centro de turismo económico", "transformar Viseu no centro do futuro do desporto: promover condições para, com investimento privado, construir um novo estádio, que manterá o nome de um grande campeão: Carlos Lopes", "receber o aeroporto de apoio ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, com dimensão internacional" e a criação de "um sistema de apoio jurídico e técnico ao contribuinte, um gabinete que apoiará os viseenses nos diferendos com a Autoridade Tributária".

Manuela Antunes, candidata do BE, fala na urgência de resolver "o problema do saneamento básico, a falta de habitação e o problema da água" "Há muitas pessoas sem água da rede pública obrigadas a recorrer a furos. E não é só nas aldeias, também acontece na cidade, mas não é com obras megalómanas que isto se resolve. Já falam numa segunda barragem sem avaliar o tremendo impacto ambiental, sem que seja feita uma avaliação por especialistas da requalificação que é possível fazer na barragem de Fagilde", diz, acrescentando: "E depois temos a questão dos transportes. Não há transportes com horários reais, feitos para a vida das pessoas. Na segunda-feira até aconteceu uma coisa engraçada: começaram a afixar os horários dos transportes nas paragens dos autocarros. A uma semana das eleições apareceram..."

Francisco Almeida, candidato da CDU, apresenta um projeto para Viseu com 14 ideias principais. "Valorização da agricultura, da pecuária e das indústrias tradicionais", "apoio à indústria e ao comércio tradicional", "água e saneamento para todos", "melhoria das acessibilidades e da rede de transportes públicos", "desenvolvimento do turismo" e a "reversão do processo de transferências de competências, sobretudo nas áreas da saúde, educação e segurança pública", são algumas dessas medidas.

Diogo Chiquelho, candidato do PAN, apresenta um extenso programa de 140 páginas. "Incentivar a microprodução e armazenamento de energias renováveis, com a criação de um pacote municipal de apoio à microprodução de energias renováveis, incluindo tecnologias de armazenamento de energias renováveis em pequena escala, para particulares e cooperativas, com apoios de financiamento bonificado e de subsídios a fundo perdido, promovendo a autonomia energética", "reconverter a frota municipal em veículos menos impactantes no referente a emissões de GEE" e o incentivo de "práticas agrícolas que reduzam a utilização de produtos químicos" são algumas das propostas.

Fernando Figueiredo, candidato da Iniciativa Liberal, propõe "devolver o poder às pessoas, com menos impostos e mais liberdade de escolha", "aumentar a competitividade, atraindo capital e libertando os contribuintes dos prejuízos de empresas públicas ineficientes", "descentralização de serviços da câmara para as juntas de freguesia, baseado em critérios de eficiência e considerando o serviço ao munícipe" e a criação de "condições para que os cidadãos possam ter uma verdadeira oportunidade de escolha na educação, na saúde e na segurança social".

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