Viseu aposta na recuperação de património cultural
O município de Viseu deu hoje início a um plano de ação dedicado ao património cultural da cidade, que durará oito anos e que abre a possibilidade de uma eventual classificação junto da UNESCO como Património da Humanidade.
Durante a apresentação do plano de ação Viseu Património, o presidente da autarquia, Almeida Henriques, explicou que esta "será uma maratona com vários sprints dentro", sendo que a primeira fase decorrerá até julho de 2017 e terá como coordenador científico Raimundo Mendes da Silva.
Almeida Henriques deixou claro que "uma eventual classificação na lista de Património da Humanidade da UNESCO será sempre a cereja em cima do bolo" e "o corolário e a consequência natural de um processo", mas que o objetivo é a valorização do património.
"Propomo-nos resgatar 2500 anos de história, trazer ao de cima os aspetos mais relevantes deste percurso muito rico que Viseu tem, quer do ponto de vista do património físico, quer do património imaterial", frisou.
Segundo o autarca, este percurso será feito tendo como objetivo "ir qualificando todo este património" mas, ao mesmo tempo, "caminhando para uma posterior classificação como Património da Humanidade de um aspeto que venha a ser realçado".
"Todo este trabalho está muito focalizado entre aquilo que é o casco urbano e a sua ligação à Cava de Viriato", explicou, acrescentando que será neste âmbito que deverá "surgir a possibilidade" de ambicionar a classificação da UNESCO.
O plano de ação hoje iniciado tem como alvos "o conhecimento, a proteção e a valorização do património cultural, material e imaterial da cidade e da sua história profundamente ligada à nacionalidade".
A primeira fase, que durará 18 meses, visa a "identificação e avaliação dos valores em presença e consolidação das opções estratégicas de valorização do património cultural e da Área de Reabilitação Urbana".
O seu coordenador científico, Raimundo Mendes da Silva, é especialista em reabilitação de edifícios e na gestão e salvaguarda de património cultural e foi curador da candidatura da Universidade de Coimbra à classificação de Património da Humanidade.
Raimundo Mendes da Silva avançou que a primeira fase terá como projetos, por exemplo, a criação de uma agenda de investigação local e o desenvolvimento de uma carta patrimonial de Viseu.
O desenvolvimento de um manual de reabilitação, com "ferramentas de apoio à reabilitação sustentável no centro histórico", e o alargamento do "Viseu Estaleiro-escola", com um novo serviço de apoio à qualificação das intervenções no património edificado são outros projetos previstos.
Por outro lado, as obras de reabilitação em edifícios municipais -- como o antigo Orfeão, a Casa das Bocas e o edifício da Águas de Viseu -- irão assumir-se como exemplos de boas práticas, acrescentou.
O especialista disse que, partindo do que já está a ser feito na cidade, há dois horizontes: o da UNESCO, que, "mais do que a vontade de ter o selo, é ter uma direção, uma orientação", e o da sustentabilidade, relativamente ao qual "Viseu está no momento certo para poder ter um papel emblemático".
A arquiteta Ana Pinho, que integrou um grupo de reflexão criado em abril de 2015 para avaliar as condições de Viseu numa candidatura a Património da Humanidade da UNESCO, disse que a cidade tem um património cultural "de valor incontestável", mas que "ainda não alcançou o reconhecimento pleno do valor que possui".
Os bens que "têm maior potencial de poderem vir a ser reconhecidos como Património Mundial são o conjunto monumental originário da cidade, que integra a Sé Catedral e o Museu Nacional Grão Vasco, em articulação com o centro histórico, a Cava de Viriato e o seu papel na construção da ideia de nacionalidade/definição da independência como reino/país", explicou.
Apesar do reconhecimento do potencial destes bens, "não existem ainda dados suficientes que possam sustentar uma declaração de Valor Universal Excecional, nem garantias de que tal valor venha a ser comprovado", acrescentou.