Violência nos subúrbios parisienses irrompe na campanha presidencial
A violência que tem marcado os dias nos subúrbios de Paris já contaminou a campanha para as presidenciais francesas, que serão disputadas a 23 de abril e 7 de maio. Marine Le Pen, que lidera as intenções de voto para a primeira volta, não perdeu tempo para jogar ao ataque: "É a consequência do laxismo que grassa pela sociedade francesa e que é responsabilidade dos políticos que nos governam há anos." A líder da Frente Nacional acrescentou ainda que as forças de segurança "têm sido alvo de uma escumalha".
Benoît Hamon, por seu turno, acusou Le Pen de fazer declarações incendiárias. "Mais uma vez provoca a desordem e encoraja a violência com um discurso de ódio", disse o candidato do Partido Socialista.
Confrontos com as autoridades, carros incendiados, montras partidas. Tem sido assim o cenário em várias localidades nos arredores de Paris desde que Théo, de 22 anos e residente em Aulnay-sous-Bois (comuna de Seine-Saint-Denis), denunciou ter sido violentado no passado dia 2 deste mês por três polícias e violado com um cassetete - dois dos agentes estão acusados por agressão e o terceiro por violação.
"Vocês sabem que eu amo muito a minha terra. Gostava de encontrá-la como a deixei, por isso parem com a guerra", disse o jovem em declarações feitas no hospital onde foi operado aos ferimentos. O apelo, porém, não foi seguido e as cenas de guerrilha urbana continuaram. Na noite de sábado para domingo, na sequência de uma manifestação de apoio a Théo, deram-se vários confrontos com a polícia e 37 pessoas foram identificadas e interrogadas. Num comício no domingo, François Fillon, candidato da direita apoiado pel"Os Republicanos, apontou o dedo ao governo pela violência, por ter autorizado uma manifestação quando "os riscos eram evidentes". No total, desde que os confrontos começaram, mais de cem jovens já foram detidos ou interrogados, tendo alguns sido condenados a seis meses de prisão.
François Hollande deverá hoje deslocar-se a Aubervilliers, em Seine-Saint-Denis, nos arredores de Paris, para uma conversa com jovens locais. Após mais de dez noites de violência, a presidência francesa e o governo tentam acalmar a situação. Para o primeiro-ministro, Bernard Cazeneuve - que recebeu em audiência associações que combatem o racismo -, "a emoção legítima" causada pelo caso Théo "não pode servir para justificar atos de violência inaceitáveis". Bruno Le Roux, ministro do Interior, fez apelou "à serenidade e à confiança na Justiça".
Ainda está fresco na memória dos franceses o mês de novembro de 2005, que se saldou em 10 mil carros incendiados e dois mortos. Também nessa altura os incidentes começaram em Seine-Saint-Denis, espalhando-se depois por outras cidades. Nessa altura a violência explodiu quando os jovens Zyed Benna (17 anos) e Bouna Traoré (15 anos) morreram eletrocutados num posto elétrico ao tentarem fugir de um controlo policial. A situação piorou depois de o então ministro do Interior Nicolas Sarkozy - que viria a ser presidente de França entre 2007 e 2012 - ter classificado os jovens dos subúrbios parisienses como racaille (escumalha).