Videojogos podem estar a ser usados para preparar ataques terroristas

Coordenador antiterrorista da União Europeia explicou que os jogos online podem estar a ser usados para fins criminosos e propagar ideologias extremistas e admite pressões das autoridades policiais para ter acesso a informação criptografada.
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Os videojogos online podem estar a ser usados ​​para propagar ideologias extremistas e até mesmo preparar ataques terroristas. Pelo menos é essa a convicção do coordenador antiterrorista da União Europeia, Gilles de Kerchove, que a 9 de novembro apresentou uma proposta de Lei dos Serviços Digitais na Comissão Europeia, que visa conter os excessos da Big Tech e o discurso de ódio na Internet.

"Não estou a dizer que todo o setor de jogos seja um problema. Há dois mil milhões de pessoas a jogar online e muito bem, mas também há grupos de extrema direita na Alemanha que criaram jogos em que o objetivo é disparar em árabes, ou em Soros [bilionário americano nascido na Hungria] ou na Sra Merkel (Chanceler alemã), etc", defendeu o belga à AFP.

Para Kerchove, os jogos online podem ser "uma forma alternativa de espalhar a ideologia, principalmente, da extrema direita", mas também "uma forma de lavar dinheiro", uma vez que "há moedas criadas em jogos que podem ser trocadas por moeda legal". Os videojogos também "podem ser usados como forma de comunicação, uma vez que é tudo criptografado", e até "podem ser uma forma de testar cenários de ataque".

A "amplificação algorítmica", onde plataformas como Facebook e YouTube colocam conteúdo "problemático" e "limítrofe" também preocupam o coordenador antiterrorista da União Europeia. Daí a UE exigir mais transparência aos gigantes digitais, a exemplo do que acontece com os chamados Five Eyes. Os cinco maiores países de língua inglesa - EUA, Grã-Bretanha, Austrália, Canadá e Nova Zelândia - já em outubro pediram às empresas de tecnologia que lhes dessem acesso backdoor a mensagens criptografadas.

O Parlamento Europeu está também a discutir uma proposta onde exige a eliminação de conteúdos online considerados terroristas no espaço de uma hora.

Outra das preocupações é uma pressão, por parte das autoridades policiais da UE, para que as comunicações criptografadas, do tipo do Whatsapp, possam ser lidas pelas autoridades com um mandado. Algo que choca os defensores da liberdade de expressão, das liberdades civis e da privacidade, que temem abusos de administrações autoritárias e ataque de hackers e criminosos.

Sobre isso, Kerchove ofereceu garantias: "Ninguém em Bruxelas quer reduzir a criptografia. Pelo contrário, somos a favor de mais criptografia. Mas será correto que não sejamos capazes de identificar quem está por trás de um endereço IP e a postar fotografias de violações de crianças? Como é que podemos ter acesso a um SMS, mas não podemos acessar ao mesmo conteúdo numa mensagem do Whatsapp? Isto é lógico?", questionou.

Por isso, sugere que a Lei de Serviços Digitais obrigue os provedores de comunicação criptografada a fornecer à polícia versões não criptografadas das mensagens enviadas, quando ordenado por um juiz. Isso, segundo ele, contornaria o problema das chaves de descriptografia caírem nas mãos erradas.

Kerchove só não explicou como isso será possível na criptografia do Whatsapp, por exemplo, uma vez que apenas o remetente e o destinatário podem ler a comunicação. Nem o Whatsapp ou o dono da aplicação, o Facebook, têm acesso à mensagem, que é codificada e tem duas chaves digitais, uma pública e outra privada.

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