O Sport Club Vianense é "ininterruptamente" o mais antigo clube de futebol de Portugal, apesar de o FC Porto ter mudado oficialmente a data da fundação de 1906 para 1893, controversa para historiadores (como Ricardo Serrado, autor da História do Futebol Português, que também tem dúvidas quanto às datas de origem de Benfica, 1904, e Sporting, 1906)..Foi criado em 1898 para as elites, mas é um clube socialmente transversal, conseguiu o único título nacional há 20 anos (campeão da III Divisão em 1998-1999, o herói da final é o atual treinador) e teve no plantel, há 30, avançados como o superagente Jorge Mendes, fortemente ligado à cidade e à região, perdeu modalidades que hoje estão em clubes de primeira (Juventude de Viana, no hóquei, e Voleibol Clube Viana) e outras como o ciclismo que se extinguiram. Passado, presente e futuro fundem-se numa ideia: uma agremiação da capital de distrito e do Alto Minho tem de ser mais apelativa para os adeptos e para os financiadores. E o processo de valorização competitiva e social está em marcha, com o empresário Jorge Mendes atento.."O Jorge [Mendes] jogou no Vianense e vai acompanhando a atividade do clube. E há pessoas de Viana que vão falando com o Jorge. Ele vai fazendo o seu caminho e o Vianense o seu. Esta montra não é a mais apelativa", conta ao DN o presidente, desde 2015, Rui Pedro Silva, professor com um plano para mudar o modelo de gestão, autonomizando o futebol de competição e de formação para abrir espaço às modalidades que foram saindo do Sport Club Vianense.."Desde 2015 temos feito pequenas obras de manutenção no Estádio Dr. José de Matos, muito degradado. Houve zonas do terreno que foram sendo alienadas. O estádio está quase asfixiado pela construção circundante. O ideal seria a relocalização do estádio e do centro de formação. A autarquia está muito sensível a esta questão. A curto e médio prazo haverá uma solução", garante, sem entrar em pormenores sobre o assunto..O plano tem quatro pilares: "Subir ao Campeonato de Portugal [CdP]. Resolver o problema das infraestruturas desportivas, que prejudica uma atividade fulcral, a formação de jogadores. Criar uma SAD e autonomizar o futebol. Reganhar a dimensão eclética do clube."."O Vianense tem de dar esse passo. Colocamos a questão aos associados: ou o clube mantém o atual modelo de gestão e oscilará entre Distrital e CdP, ou ambiciona mais e terá de constituir-se como SAD e encontrar parceiros para ter capacidade financeira para ir mais além. Temos vindo a fazer esse percurso desde que aqui chegámos, em 2015, falamos com investidores nacionais e estrangeiros. Mas queremos um casamento com um investidor com ligação à cidade para não se ir embora por razões de negócio. Já estivemos mais longe", explica Rui Pedro Silva.."O Vianense tem vivido grandes crises financeiras regulares. A mais recente foi em 2015 e a situação mais grave foi a venda do património em hasta pública para pagar uma dívida a uma instituição financeira. Na altura, a Câmara de Viana comprou o edifício no centro da cidade, a sede social, e aliviou um bocado a nossa tesouraria. Além disso, há os chamados credores tradicionais, como a Segurança Social e o fisco, os fornecedores, ex-atletas e ex-colaboradores", ilustra o presidente..A concorrência de outros da região.Atualmente, o Vianense é 2.º classificado, atrás do Limianos, que lidera a I Divisão da Associação de Futebol (AF) de Viana do Castelo à entrada para a 13.º de 30 jornadas (sobe uma equipa ao CdP).."O orçamento para o futebol andará na ordem 80 mil euros/época, muito baixo para a média da realidade nacional. O Vianense, sendo da cidade sede do distrito, não tem o mais alto. O Limianos, apear de não ser público - mas sabe-se -, tem cerca do dobro. E o Atlético dos Arcos, o Valenciano e o Ponte da Barca têm orçamentos mais altos. E uma vantagem, que deveria ser uma desvantagem: não têm instalações próprias. Nós temos, e há contas de água, luz, gás e funcionários de manutenção. Os outros concorrentes utilizam esse dinheiro poupado pela utilização das instalações municipais para investir na competitividade do plantel", diz o presidente..Mas Rui Pedro Silva tem perfeita noção de que é uma vantagem ilusória e regional. "Os clubes da AF de Viana quando sobem ao Campeonato de Portugal, invariavelmente, descem à Distrital porque não têm poder financeiro para competir com clubes de outras regiões. "O Vianense, o Limianos e o Valenciano eram presenças regulares nas provas nacionais, mas nos últimos anos abriu-se um desnível ainda maior entre Distrital e Nacional. Por exemplo, há 2,3 anos fomos convidados pelo Sp. Espinho para fazer o último jogo no Campo da Avenida - porque o Vianense tinha estado na inauguração. Naquela época, só o Espinho e outra equipa campeã distrital se tinha mantido no nacional. Mesmo clubes de Lisboa e outras associações mais fortes tinham descido. Porque a décalage aumentou fortemente", contextualiza..Portanto, o foco atual é reorganizar o modelo de gestão do clube e melhorar as infraestruturas desportivas, uma vez que no "muito degradado" estádio o futebol sénior (masculino e feminino) tem de partilhar com as camadas jovens dois campos de futebol de 11 (um de relvado natural e outro sintético, além de um de futebol de 7, este para os mais pequenos), subir pelo menos ao Campeonato de Portugal para tornar mais atrativo um investimento externo. E ir recuperando a confiança dos sócios - "com 1800, temos mais do que alguns clubes da I Liga" - e dos adeptos, do tecido empresarial, dos investidores e recuperar modalidades que em dissidência, pela falta de dinheiro que nem para o futebol chegava, foram criando novos clubes, como a Juventude de Viana ou o Voleibol Clube Viana..O título de campeão da III Divisão.A 4 de julho de 1999, a Figueira da Foz encheu-se de orgulhosos vianenses para a final do campeonato da III Divisão entre o Sport Clube Vianense e o Lusitânia dos Açores. "Nas duas semanas anteriores, o treinador Rogério Gonçalves dizia: "A câmara já reservou mais de 50 autocarros para adeptos." Claro que nós achávamos que estava a brincar", relata aquele que foi o herói do único título nacional do Sport Club Vianense, Miguel Mota, o atual treinador da equipa de futebol.."A verdade é que quando chegámos ao estádio estavam lá umas três mil pessoas de Viana. Não quero induzir em erro, mas seguramente estavam lá duas mil", diz o antigo médio de Belenenses e Farense (na I Liga), autor de dois dos três golos com que o Vianense bateu o Lusitânia e se sagrou campeão com um 3-0 na final realizada às 17.00 no Estádio José Bento Pessoa.."No regresso a Viana, só conseguimos entrar com o autocarro na Praça da República com um cordão da polícia. Que grande festa, com milhares de pessoas, discursos e fogo-de-artifício. Parecia que tínhamos ganho a Liga dos Campeões", recorda o agora treinador, nascido há 43 anos em Águeda, mas já mais vianense do que aguedense - "já vivo cá há 23 anos".."Na altura, tivemos mais um mês de competição por causa da final. Lembro-me bem porque fui para o Farense em 1999-2000 e só tive três ou quatro dias de férias antes de começar a pré-temporada" de uma época em que a equipa de Faro deu uma machadada (com um 3-3 na antepenúltima jornada) nas aspirações do hexacampeão do FC Porto de Fernando Santos, que perderia o título para o Sporting, o penúltimo da equipa de Alvalade (está sem ser campeão desde 2002). "Lembro-me bem de nessa equipa jogar o falecido Quinzinho, que estava emprestado pelo FC Porto. Eu nem fui convocado", pontua.."Costumo dizer que o Sport Clube Vianense nem que jogue com onze vassouras tem de ter como ambição ganhar sempre", diz. "Sou otimista. O grande objetivo é chegar ao Campeonato de Portugal. É preciso recuperar a confiança dos adeptos e de eventuais investidores. Chegar à II Liga encurtaria essa distância", diz o treinador Miguel Mota..(Artigo publicado originariamente na edição impressa do DN de 28 de dezembro, especial aniversário)