Viagem ao mundo da sidra
Antes de mais um reparo: aquilo que costuma beber como sendo sidra muito provavelmente não o é. O alerta é de Otávio Costa, da empresa que organiza o Sidrama, que acontece entre esta sexta-feira e domingo em Ponte de Lima, em parceria com a autarquia. Para ser catalogada como sidra, a bebida tem de resultar totalmente da fermentação de sumo de maçã, diz, explicando que as marcas mais industriais no mercado são refrigerantes cujo sucesso pode, contudo, "servir de locomotiva" para o que considera ser a verdadeira sidra.
Bebida milenar que é atualmente tendência de mercado, a sidra ou o vinho de maçã tem uma presença "muito ténue" em Portugal, lamenta Otávio Costa. Mas espera que o Sidrama dê a conhecer a bebida e seja um "boost" para potenciais produtores. Neste festival Internacional de Sidras e Bebidas de Pomar haverá mais de 100 tipos para provar. A sidra, a clássica e tradicional, será a grande protagonista, mas haverá propostas dentro do vasto universo de bebidas fermentadas com frutas, aquelas com o twist das tendências, as blá blá blá Drinks.
Sidras nacionais de várias regiões e as famosas produções madeirenses com mais de 600 anos de história e uma IGP já ativa juntam-se a novas propostas de empreendedores portugueses ainda em fase inicial. Otávio Costa destaca a Nua Cider, de Ponte de Lima precisamente, que produz sidra natural a partir de maças de variedades raras do Minho. Utiliza as maçãs das quintas e quintais da região e devolve o benefício da venda aos proprietários, para estes continuarem a cuidar e tratar das macieiras.
Do Bombarral vem a chamada Sidra do Oeste, a Sidrada, com sidras produzidas de forma artesanal, sem adição de corantes, aromatizantes e com matéria prima da região. A Sidra Alfa, nascida em 2017 em Carrazeda de Ansiães, também é de fabrico artesanal, sem adição de água, açucares, corantes e aromatizantes. Ao contrário do que o nome indica, a Castelo Branco Cider vem da zona de Lagos, no Algarve. Já a Vadia, nome de conhecida cerveja artesanal, também tem a sua sidra feita com maça nacional.
Todas elas podem ser provadas no Sidrama, evento onde ainda estarão a Somersby ou a Bandida do Pomar e que também junta sidreiros e produtores de Itália, Finlândia, Suécia, Áustria, Letónia, Catalunha, Astúrias, Cantábria, Galiza, e como país-região convidado, o País Basco.
É uma viagem ao mundo das sidras, em que, segundo o organizador, também não pode deixar de experimentar a Zapiain, de San Sebastian, "comparável a grandes vinhos", e, já na categoria das blá blá blá drinks, a Fruktstereo, da Suécia.
Tudo concentrado em Ponte de Lima, região com tradição no cultivo de maçã e na produção do chamado vinho de maçã. Conta Otávio Costa que, no final da década de 1950, em plena expansão do vinho do Porto, um decreto de Salazar proibiu o fabrico e consumo do dito vinho. "As macieiras foram ficando ao abandono", diz, sendo o seu fruto dado a animais ou vendido a preço de saldo para produtores do norte de Espanha. Na década de 1970, a Escola Superior Agrária de Ponte de Lima começou a catalogar todo o património da maçã do vale, tendo chegado a mais de 60 espécies, "três das quais muito raras e uma delas autóctone e alegadamente única no mundo". Com o boom deste tipo de bebidas nos últimos anos, sobretudo entre os mais jovens, o Sidrama espera "abrir as mentes" para que a produção nacional possa crescer.
Tudo acontece na Avenida do Plátanos, e, além das sidras e bebidas de pomar, há workshops e harmonizações ao vivo, colóquios e degustações comentadas na primeira pessoa pelos mais de 20 sidreiros presentes. E ainda um jantar secreto Supper Club pela mão do coletivo de cozinheiros Rosa Et AL Townhouse com uma seleção de sidras do festival, a desvendar aos comensais uma hora antes.
A entrada é livre. O visitante apenas tem de adquirir o copo oficial do Sidrama, com um valor de quatro euros e fichas de consumo, que pode trocar pelo que quiser beber ou provar em cada uma das sidrarias. Cada bebida custa entre 1 e seis euros. O "pack prova", por 10 euros, inclui o copo e seis bebidas.