Vespa asiática ataca em Lisboa. Este ano já foram desativados 60 ninhos

Os métodos para desativação dos ninhos são cada vez mais inovadores mas esta espécie não é tão perigosa como muitos pensam, pois estas vespas velutinas só atacam quando se sentem ameaçadas.
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As vespas velutinas, habitualmente conhecidas como vespas asiáticas, têm sido uma presença cada vez mais habitual na cidade de Lisboa e os meses de março e abril são precisamente os mais propícios à invasão desta espécie. No ano de 2021, os técnicos do serviço de Controlo Integrado de Pragas eliminaram 276 ninhos de vespa velutina e este ano o combate tem prosseguido: de janeiro a maio deste ano foram desativados 32 ninhos primários e 28 ninhos definitivos. As zonas mais afetadas são aquelas que têm mais vegetação, como a Ajuda, Belém, Benfica, São Domingos de Benfica, Lumiar e Olivais.

Na Europa, a vespa velutina foi identificada pela primeira vez em França no ano de 2004, onde terá provavelmente sido introduzida acidentalmente. Em 2010 apareceu no nordeste de Espanha e em 2012 foi detetada na Galiza. Desconhece-se como terá chegado, mas é provável que se tenha tratado de um desembarque de um carregamento de mercadorias provenientes da Ásia. Em Lisboa só foi detetada em finais de 2019.

O combate à crescente presença desta espécie em Lisboa é efetuado por técnicos do serviço de Controlo Integrado de Pragas da Câmara Municipal. E como estamos a falar de intervenções químicas, têm naturalmente de utilizar equipamento de proteção adequado à atividade, que pode ter até cerca de 27 metros, com acessórios para retirada de ninhos. Patrícia Figueiredo, coordenadora do Núcleo de Apoio à Higiene Urbana e Controlo de Pragas da Câmara Municipal de Lisboa, revela que "é utilizada uma solução de piretroides sem repelentes, de baixa concentração (2% a 3%) por litro, e uma dose de 50 ml por ninho, para menor valor residual e logo menor impacto ambiental".

Um dos métodos utilizados é o sistema de ar comprimido AirWasp, composto por um marcador de alta pressão, o que torna os projéteis menos sensíveis ao vento, logo com maior precisão e menor impacto ambiental. "Os projéteis utilizados são carregados com gel composto por biocida e feromona de modo a atrair toda a colónia, inativando o ninho após um período aproximado de 72 horas", diz.

Patrícia Figueiredo realça que "hoje em dia, com este novo método, boa parte dos ninhos já não são destruídos, mas existe a garantia de que não serão reocupados e não oferecem qualquer perigo, podendo alguns permanecer no local até à sua degradação".

Esta responsável explica ao DN que o ciclo biológico desta vespa é anual e consiste basicamente em dois períodos. "Um primeiro período para a rainha fundadora, após a diapausa no inverno, no qual constrói um ninho para fundar a sua colónia e inicia a postura (fevereiro a abril), e outro período para o crescimento da colónia (abril a novembro)", refere.

No caso de um aumento exponencial do número de ninhos que aparecem nas áreas urbanas e periurbanas, a probabilidade de ataque será maior. No entanto, esses ataques só ocorrem caso a espécie se sinta ameaçada. "Estes insetos são completamente indiferentes ao ser humano ou a animais em distâncias do ninho superiores a cinco metros, assim como no trajeto e durante a recolha de comida, água, material vegetal, entre outros. Os ataques só ocorrem em grupo e sempre após perturbação persistente dos ninhos. O macho pode morder para se defender e só a fêmea é que consegue picar", afirma Patrícia Figueiredo.

As picadas de vespa velutina podem ser perigosas se os sujeitos envolvidos forem alérgicos ao veneno da espécie, havendo mesmo o risco de provocar um choque anafilático. "A questão é que, como estas vespas são maiores, têm também uma maior quantidade de veneno. No entanto, os cuidados devem ser os mesmos que temos em relação à picada de outras vespas, aplicando um antialérgico e gelo", afirma a coordenadora do Núcleo de Apoio à Higiene Urbana e Controlo de Pragas.

Esta invasão da vespa velutina acaba por ter impacto económico direto sobre a apicultura. "Os relatos mais comuns dos apicultores são a diminuição na população de abelhas, de reservas de pólen e de mel no outono", sublinha. Acresce ainda o custo associado à desativação dos ninhos de vespa velutina.

Questionada sobre outras grandes pragas que têm exigido a atenção do núcleo que dirige, Patrícia Figueiredo respondeu prontamente "o excesso da população de pombos". E o maior problema existente no controlo de pragas "prende-se com o facto de haver condições favoráveis para o desenvolvimento e proliferação das pombas, quer devido às condições climatéricas, quer pela deposição indevida de lixo e resíduos".

Entretanto, o recente período em que a cidade ficou com muito menos movimentação de pessoas, devido ao confinamento, foi propícia ao aparecimento de muitos ratos a circular nas ruas. "Sem a presença das pessoas sentiram-se mais confiantes para andar por aí. Mas diga-se que também foi mais fácil à nossa equipa realizar o trabalho, com a colocação de material que os eliminou", revelou, acrescentando que , com o regresso das pessoas às ruas, "os ratos voltaram a sentir-se ameaçados e deixaram de aparecer em tão grande número".

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