Pelo menos desde 2017 que a embaixada de Portugal em Caracas está à espera de um reforço de segurança, tanto das instalações como do corpo diplomático. Essa foi a recomendação de uma equipa especializada em avaliação de risco que esteve na Venezuela em maio desse ano, mas nunca chegou a sair do papel - só no início deste mês foram enviados oito elementos do Grupo de Operações Especiais (GOE) da PSP que, como é sabido, foram impedidos de entrar pelas autoridades de Nicolás Maduro, em retaliação à decisão de Portugal de reconhecer o líder da oposição, Juan Guaidó, como presidente interino daquele país..Esta força de elite na PSP é normalmente destacada para proteger as embaixadas em países considerados de alto risco. Pelo menos até final de dezembro de 2018, de acordo com o Relatório Mensal do Empenhamento Internacional do Ministério da Administração Interna, só estão em Bissau e em Kinshasa, no Congo..A designada CPAT (Contingency Planning Assistance Team) foi uma missão liderada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e integrou elementos do Estado-Maior-General das Forças Armadas e dos serviços de informações. A missão não foi secreta e os seus objetivos estão até apresentados no Relatório de Atividades da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas (DGACCP): "Promover a atualização e melhoramento dos planos de contingência existentes.".Em maio de 2017, quando a missão portuguesa foi a Caracas, há um mês que a oposição venezuelana tinha voltado em força às ruas. Nessa vaga de protestos registou-se mais de uma centena de mortos nas ruas..Apesar do relatório da CPAT ser reservado, duas fontes envolvidas na missão confirmaram ao DN o pedido de reforço de meios para proteger a representação diplomática em Caracas. "O parecer a solicitar segurança foi feito pelo próprio MNE e, apesar de ser pública a situação de risco no país, com um dos maiores índices de criminalidade do mundo, a sua concretização foi sempre adiada, sem se perceber porquê", sublinha uma destas fontes, lamentando que "só agora, em cima do fogo, decidem o envio de forças de segurança"..O gabinete do ministro Augusto Santos Silva não explica o porquê da demora em acionar o reforço de segurança proposto. "A avaliação da segurança não é uma questão política, da competência do MNE, mas uma questão técnica, da competência das autoridades nacionais competentes em matéria de segurança. Quando essas autoridades verificam que é necessário tomar medidas adicionais em matéria de segurança, essas medidas são tomadas. Sem divulgação pública, porque essa é uma condição para serem bem-sucedidas." Mas não foram tomadas e quando foram, com o envio do GOE, foi publicamente divulgado e a operação fracassou..O major-general Agostinho Costa, membro do Grupo de Reflexão Estratégica sobre Segurança, considera que esta divulgação prévia foi "a decisão certa no momento errado", assinala. Ressalvando desconhecer oficialmente as conclusões da missão CPAT, não estranha, no entanto, que tivesse sido recomendado um reforço de segurança.."Os planos de contingência são acionados pelo MNE e operacionalizados pelas embaixadas locais sempre que a avaliação de segurança indica que a situação no país pode obrigar a uma proteção especial, não só da embaixada e do corpo diplomático, como da própria comunidade portuguesa e, no limite, a sua retirada. Há muito tempo que a situação de tensão na Venezuela se arrasta", assinala..O embaixador Seixas da Costa, analista de política internacional, considera que, "na circunstância específica da Venezuela, a embaixada tem necessidade de alguma proteção especial, em resultado da incapacidade das autoridades locais para a garantirem". O diplomata não vê, no entanto, que fosse necessário um reforço de segurança antes do início deste ano. "Só perante o agravamento da situação de tensão civil o governo português terá achado prudente enviar uma força especial para garantir a proteção contra eventuais tensões populares". Com Susana Salvador
Pelo menos desde 2017 que a embaixada de Portugal em Caracas está à espera de um reforço de segurança, tanto das instalações como do corpo diplomático. Essa foi a recomendação de uma equipa especializada em avaliação de risco que esteve na Venezuela em maio desse ano, mas nunca chegou a sair do papel - só no início deste mês foram enviados oito elementos do Grupo de Operações Especiais (GOE) da PSP que, como é sabido, foram impedidos de entrar pelas autoridades de Nicolás Maduro, em retaliação à decisão de Portugal de reconhecer o líder da oposição, Juan Guaidó, como presidente interino daquele país..Esta força de elite na PSP é normalmente destacada para proteger as embaixadas em países considerados de alto risco. Pelo menos até final de dezembro de 2018, de acordo com o Relatório Mensal do Empenhamento Internacional do Ministério da Administração Interna, só estão em Bissau e em Kinshasa, no Congo..A designada CPAT (Contingency Planning Assistance Team) foi uma missão liderada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e integrou elementos do Estado-Maior-General das Forças Armadas e dos serviços de informações. A missão não foi secreta e os seus objetivos estão até apresentados no Relatório de Atividades da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas (DGACCP): "Promover a atualização e melhoramento dos planos de contingência existentes.".Em maio de 2017, quando a missão portuguesa foi a Caracas, há um mês que a oposição venezuelana tinha voltado em força às ruas. Nessa vaga de protestos registou-se mais de uma centena de mortos nas ruas..Apesar do relatório da CPAT ser reservado, duas fontes envolvidas na missão confirmaram ao DN o pedido de reforço de meios para proteger a representação diplomática em Caracas. "O parecer a solicitar segurança foi feito pelo próprio MNE e, apesar de ser pública a situação de risco no país, com um dos maiores índices de criminalidade do mundo, a sua concretização foi sempre adiada, sem se perceber porquê", sublinha uma destas fontes, lamentando que "só agora, em cima do fogo, decidem o envio de forças de segurança"..O gabinete do ministro Augusto Santos Silva não explica o porquê da demora em acionar o reforço de segurança proposto. "A avaliação da segurança não é uma questão política, da competência do MNE, mas uma questão técnica, da competência das autoridades nacionais competentes em matéria de segurança. Quando essas autoridades verificam que é necessário tomar medidas adicionais em matéria de segurança, essas medidas são tomadas. Sem divulgação pública, porque essa é uma condição para serem bem-sucedidas." Mas não foram tomadas e quando foram, com o envio do GOE, foi publicamente divulgado e a operação fracassou..O major-general Agostinho Costa, membro do Grupo de Reflexão Estratégica sobre Segurança, considera que esta divulgação prévia foi "a decisão certa no momento errado", assinala. Ressalvando desconhecer oficialmente as conclusões da missão CPAT, não estranha, no entanto, que tivesse sido recomendado um reforço de segurança.."Os planos de contingência são acionados pelo MNE e operacionalizados pelas embaixadas locais sempre que a avaliação de segurança indica que a situação no país pode obrigar a uma proteção especial, não só da embaixada e do corpo diplomático, como da própria comunidade portuguesa e, no limite, a sua retirada. Há muito tempo que a situação de tensão na Venezuela se arrasta", assinala..O embaixador Seixas da Costa, analista de política internacional, considera que, "na circunstância específica da Venezuela, a embaixada tem necessidade de alguma proteção especial, em resultado da incapacidade das autoridades locais para a garantirem". O diplomata não vê, no entanto, que fosse necessário um reforço de segurança antes do início deste ano. "Só perante o agravamento da situação de tensão civil o governo português terá achado prudente enviar uma força especial para garantir a proteção contra eventuais tensões populares". Com Susana Salvador