Vencedores explicaram como as células copiam o seu material genético
O Nobel da Medicina 2009 foi hoje atribuído a Elizabeth Blackburn, Carol Greider e Jack Szostak por trabalhos sobre os tolemeros e a enzima telomerase.
"O trabalho dos três premiados tem a ver com uma parte específica do processo através do qual as células duplicam o material genético", explicou à Lusa o geneticista Cláudio Sunkel, director do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto.
A nível celular, o material genético está contido nos cromossomas, que são moléculas lineares compridas, a cujas pontas se chama telómeros.
"Nos anos 50 descobriu-se qual a composição do material genético e como é que ele se duplicava mas, logo a seguir, chegou-se a um problema complicado de resolver: Como é que a ponta destas moléculas é produzida e como é copiada durante o processo de duplicação", contou.
Elizabeth Blackburn contribuiu para a resposta a esta questão quando descobriu qual era a estrutura destes telomeros e que, quando a célula se divide, o telomero encurta, mas volta a crescer.
Por seu lado, Carol Greider, aluna de doutoramento de Blackburn, descobriu a enzima que faz com que o telómero cresça: a enzima telomerica.
Elizabeth Blackburn e Jack Szostak, o terceiro laureado, "demonstraram então que este processo de crescimento não era específico da célula que Carol Greider estava a estudar, mas que também acontecia nas células humanas".
"Em conjunto, o que eles descobriram é como as portas do cromossoma se protegem e se mantêm constantes ao longo do tempo", acrescentou Sunkel.
O investigador esclareceu que apenas as células estaminais, a partir das quais são produzidas todas as outras, e as células tumorais têm telomeragem activa, mantendo-se sempre vivas.
"Mas isso não lhes permite manterem-se sempre jovens: elas continuam a envelhecer cada vez mais, acumulando os problemas que sucedem normalmente na vida da célula, só que em vez de desaparecerem mantêm-se vivas", disse, frisando que "esta é uma característica das células tumorais".
As outras, que são a maioria das células do organismo, de cada vez que se duplicam "perdem um pedacinho dos telomeros".
"Após um certo número de vezes de duplicação, o telomero desaparece e esta célula entra em morte celular", acrescentou, realçando que, desta forma, o telomero "funciona um pouco como um relógio para marcar quantas vezes a célula sobreviveu" e quando está na hora de desaparecer.
Isto é muito importante, segundo Sunkel, porque há células, como por exemplo as da pele e as do estômago, que "sofrem muitas agressões e não convém que vivam muito tempo".
"Caso contrário, podem transformar-se numa célula tumoral, o que o organismo não quer", frisou.
Para este responsável, o Nobel hoje atribuído vem reconhecer a necessidade de aprofundar a investigação na área da biologia.
"É essencial que os governos percebam que a biologia é fundamental e que é preciso investir para conhecer melhor. Se não se investir nestas áreas, elas vão evoluir muito mais devagar", considerou, salientando que "a biologia está a influenciar a medicina quase todos os dias".