Vai sair uma biografia de José Fonseca e Costa, "um africano sedutor"
O realizador José Fonseca e Costa foi aquele que, da geração do Cinema Novo, "melhor soube equilibrar a vontade de um cinema de autor com a vontade de ter público", afirma Jorge Leitão Ramos no livro biográfico sobre o cineasta.
José Fonseca e Costa - Um africano sedutor, do crítico de cinema Jorge Leitão Ramos, é editado esta semana pela Guerra & Paz em parceria com a Sociedade Portuguesa de Autores e sai pouco antes de se assinalar um ano da morte do realizador, aos 82 anos. O livro será apresentado amanhã, às 18.30, na sede da SPA, em Lisboa.
Na introdução, o autor conta que começou a trabalhar no livro em 2014 e estava a poucas semanas de o concluir quando José Fonseca e Costa morreu, a 1 de novembro de 2015. "A doença do foro hematológico que o ia enfraquecendo desde há alguns anos acompanhava as nossas conversas, mas nunca falámos de morte, sempre de vida".
Um africano sedutor é o resultado de várias entrevistas com o cineasta, a familiares e outras figuras ligadas ao cinema assim como de pesquisas feitas pelo autor em vários arquivos, entre os quais da PIDE (Polícia Internacional da Defesa do Estado).
José Fonseca e Costa, que nasceu em 1933 em Caála, Angola, "cresceu na liberdade dos trópicos e no calor de uma família numerosa", e a ligação a África prolongar-se-á por várias décadas. Já adulto, fez amizade com muitas figuras ligadas ao Movimento Anti-Colonialista (MAC), que esteve na génese de vários movimentos de libertação em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.
Várias vezes detido durante o Estado Novo, a PIDE "suspeita que Fonseca e Costa milita no Partido Comunista ou nas organizações não clandestinas por ele participadas, mas nem sonha a sua ligação à MAC", escreve Jorge Leitão Ramos. Em 1963, recorda o autor, José Fonseca e Costa está preso quando JF Kennedy é assassinado nos Estados Unidos e quando estreia o primeiro filme da geração do Cinema Novo, Os Verdes Anos, de Paulo Rocha.
Ainda antes de rodar os primeiros filmes, José Fonseca e Costa escreveu sobre cinema. Em 1963, na revista Seara Nova dizia que "fazer um filme é aceitar, implicitamente, as condições que determinam toda a sua elaboração".
Ao longo de 50 anos de cinema, filmou quase sempre em registo de adversidades, em particular por causa de apoios financeiros, como relata Jorge Leitão Ramos.O crítico de cinema não esquece os filmes mais conhecidos, como Kilas, o mau da fita e Sem sombra de pecado, mas também os projetos que não chegaram ao grande ecrã, como a adaptação de O Anjo ancorado, a partir de uma obra de José Cardoso Pires.
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José Fonseca e Costa morreu quando estava a rodar o filme Axilas, concluído posteriormente pelo montador Paulo MilHomens e estreado nos cinemas em maio passado.
No final das mais de 200 páginas desta biografia - ilustrada com fotografias do realizador desde pequeno, da sua família e de alguns momentos de rodagem - Jorge Leitão Ramos escreveu no epílogo: "Se fosse mais livro do que é, incluiria a solidão e a amargura de um homem que estava bem na grande roda do mundo, mas sempre guardou um território de reserva".
Jorge Leitão Ramos, atualmente crítico de cinema do Expresso, é autor de vários livros, entre os quais Dicionário do Cinema Português e Fernando Lopes- um rapaz de Lisboa.