Vacinas dos ricos para os pobres e depressa

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Não pode passar despercebido o anúncio nesta semana por Joe Bidem de que os Estados Unidos já ofereceram 110 milhões de vacinas contra a covid-19 a países de médio e baixo rendimento, umas seis dezenas deles, que vão da Zâmbia ao Afeganistão. O presidente americano - que se esforça assim por cumprir o compromisso que os líderes dos países ricos assumiram junto da OMS - acrescentou que já foram comprados mais 500 milhões de vacinas à Pfizer, que deverão ser doadas até final de agosto, num esforço de promover a vacinação global, única forma de controlar a pandemia.

Na véspera deste anúncio por Biden, o jornal Politico fazia a contabilidade das vacinas doadas já pela União Europeia ao abrigo do Covax, o programa solidário promovido pela OMS, e a conclusão era que os 27 estão muito aquém dos 200 milhões prometidos. Até agora, só tinham enviado para os países pobres 7,9 milhões de doses. Ficam, acrescenta o jornal digital, atrás da América e da China, pois esta terá doado 24,2 milhões de vacinas (outros números falam de 30 milhões). A fragilidade destas estatísticas (muitas vezes sendo difícil discernir entre promessas, encomendas e entregas por parte dos países doadores), fica comprovado pelos 59 milhões de vacinas que supostamente os Estados Unidos teriam entregue, segundo o Politico.

Os números sobre as doações já feitas pelo Japão, outra grande potência económica, também são imprecisos. Sabe-se que ainda em julho o Camboja, o Irão e o Bangladesh começaram a receber parte dos 10 milhões de vacinas que lhes foram prometidas pelos japoneses, e também que Taiwan já recebeu três remessas de doses da AstraZeneca.

Para se perceber a importância destas doações, basta recordar que a OMS definiu serem necessários 11 mil milhões de doses (das várias marcas disponíveis) para vacinar 70% da população mundial. Até agora, o fosso entre países ricos e pobres tem sido evidente no ritmo diferenciado da vacinação: 80% das doses foram usadas nas populações do mundo rico, que inclui grosso modo a Europa, a América do Norte, alguns países do Médio Oriente e da Ásia Oriental e a dupla Austrália e Nova Zelândia na Oceânia .

É fácil ver uma espécie de diplomacia da vacina nestas doações (Estados Unidos e China disputam a simpatia de vários países pobres, e o Japão, por exemplo, mostra como quer atrair Taiwan para a sua esfera de influência mesmo com forte risco de irritar os chineses) e a verdade é que, comentando o atraso dos 27, o alto representante para a política externa europeia, Josep Borrell, admitiu que, ao falhar com os compromissos com África e América Latina, a UE perdia influência para os chineses em duas das suas áreas tradicionais de preponderância geopolítica.

Nesta diplomacia das vacinas, Portugal tem tentado dar resposta às necessidades dos PALOP e de Timor. Segundo dados da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, foram enviadas já 196 mil vacinas. Angola e Moçambique foram os países que mais receberam, 50 mil cada, mas Cabo Verde, dada a pequena população, foi o mais auxiliado, com 48 mil doses.

O esforço vai continuar. Por parte de Portugal e do resto do mundo. É obrigatório.

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