Vacinas aprovadas sem ouvir a DGS já tinham o aval dos pediatras
As três vacinas cuja introdução no Plano Nacional de Vacinação (PNV) foi aprovada pelo parlamento já eram consideradas seguras e recomendadas pelos pediatras portugueses. Na última atualização às suas Recomendações Sobre Vacinas Extra Programa Nacional de Vacinação, divulgada em agosto deste ano, a Sociedade Portuguesa de Pediatria referia-se já à meningite B, ao rotavírus e ao vírus do papiloma humano (HPV), defendendo a imunização das crianças.
Sobre a meningite B, o relatório lembrava que na última década esta tem sido "predominante" entre as doenças causadas pela Neisseria meningitidis, sendo recomendada pela SPP a vacinação com Bexsero de crianças "a partir dos dois meses de idade", sendo também admitida em alternativa - mas apenas a partir dos 10 anos - o recurso à vacina Trumbeta.
No que respeita ao rotavírus, um dos principais causadores das gastrenterites agudas (GEA) em crianças, sobretudo entre os seis e os 24 meses, apesar de reconhecer que a incidência de mortes ou casos graves é baixa - "nos países desenvolvidos, grande parte dos casos de GEA por RV não necessita de hospitalização" - a SPP lembrava também que "o impacto desta patologia na saúde pública é muito significativo", recomendando a vacinação.
O mesmo sucedia em relação ao vírus do papiloma humano (HPV) - cuja vacina já era gratuita para raparigas, sendo-lhes administrada aos dez anos -, com a SPP a recordar neste boletim que "a infeção por HPV é responsável por uma carga de doença significativa no homem. Os dados sobre prevalência e história natural da infeção por HPV neste género indicam que a incidência média acumulada ao longo da vida, em heterossexuais entre os 18 e os 44 anos, oscila entre os 56 e 65%, dos quais 26-50% são HPV de alto risco", referia.
Já em maio, a presidente da SPP, Fernanda Rodrigues, tinha defendido a importância da vacinação contra estas três doenças em entrevista ao Jornal Médico.
A aprovação das três vacinas no parlamento foi criticada pela Ordem dos Médicos. Não pela medida em si mas pelo facto de a decisão não ter seguido os trâmites habituais: "Acho que é uma má decisão da Assembleia da República por ser feita sem ouvir a Direção-Geral da Saúde e é uma falta de respeito pelos profissionais de saúde e pela própria Direção-Geral da Saúde", afirmou o bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães.
Mas o pediatra João Carlos Gomes-Pedro, ouvido pelo DN, defendeu que, ainda assim, a medida aprovada pelo Parlamento em sede de discussão de alterações ao Orçamento do Estado do próximo ano só pode ser vista como positiva. "É uma medida de proteção da criança. E tudo quanto sirva para a defesa da criança, nomeadamente a sua vacinação, tem de ser prioridade", considerou. "É uma medida de interesse público. Nestas tomadas de decisão devem ser ouvidos, sempre que possível, os responsáveis [do setor]. Mas estas vacinas têm um significado importante para a prevenção da saúde da criança e isso é o que prevalece", considerou.
Gomes-Pedro disse ao DN que "ainda não prescrevia" a vacina do HPV, por ser "mais recente", mas "as outras sim". E defendeu que "há já fundamentos científicos que justificam que sejam administradas" as três. "A convicção dos pediatras é que essas vacinas são muito importantes", assegurou.
Os custos destas vacinas, sem comparticipação, são bastante elevados, estimando-se que a inclusão deste lote no PNV possa poupar às famílias pelo menos 600 euros por criança. Só um esquema completo de vacinação contra o rotavírus custa cerca de 150 euros. Para o HPV, o custo varia entre os 72,45 e os 145,33 euros. E, no caso da meningite B, são necessárias sempre pelo menos duas doses, acrescidas de uma terceira, com cada dose a custar perto de cem euros.