Ursula quer paridade mas até agora só conta com cinco mulheres

Nova presidente da Comissão Europeia avisou que quer paridade total no seu colégio de comissários e que admite rejeitar, se preciso for, nomes propostos pelos governos dos Estados membros da União Europeia
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Ursula von de Leyen quer uma Comissão Europeia com total paridade entre homens e mulheres. Porém, uma contabilidade dos nomes que estão a ser confirmados nos Estados membros revela uma realidade bem diferente do desejo expresso pela alemã que vai ser a próxima presidente desta importante instituição da União Europeia: em 15 nomes falados até agora, dez são de homens e cinco apenas são de mulheres. A atual Comissão Europeia, liderada por Jean-Claude Juncker, conta com oito mulheres apenas num total de 28 comissários.

"Irei garantir uma total paridade de género no meu colégio de comissários. Se os Estados membros não propuserem nomes de mulheres em número suficiente eu não hesitarei em pedir que indiquem outros nomes. Desde 1958 houve 183 comissários. Apenas 35 eram mulheres. Isso é menos do que 20%. Nós representamos metade da nossa população. Queremos a nossa parte justa", disse a Ursula von der Leyen, ex-ministra da Defesa da Alemanha, durante o discurso que fez na passada terça-feira, dia 16, perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo.

Segundo as contas do Politico.eu, com base nos anúncios feitos nos Estados membros da UE, os homens são:

- Valdis Dombrovskis, da Letónia, atual vice-presidente da Comissão Europeia com a pasta do euro e do diálogo social
- Johannes Hahn, da Áustria, atual comissário europeu com a pasta da política de vizinhança
- Phil Hogan, da Irlanda, atual comissário europeu com a pasta da agricultura
- Maros Sefcovic, da Eslováquia, atual vice-presidente da Comissão Europeia com a pasta da energia
- Frans Timmermans, da Holanda, atual primeiro vice-presidente da atual Comissão Europeia
- Josep Borrell, de Espanha, atual ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol que foi escolhido já pelo Conselho Europeu para a pasta de Alto Representante da Política Externa da União Europeia
- Janez Lenarcic, da Eslovénia, atual embaixador da Eslovénia junto da UE
- Nicolas Schmidt, do Luxemburgo, atual deputado no Parlamento Europeu e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros
- Laszlo Trocsanyi, da Hungria, eurodeputado e ex-ministro da Justiça
- Margaritis Schinas, da Grécia, atual porta-voz da Comissão Europeia de Juncker

Segundo a contabilidade do mesmo site especializado em questões europeias as mulheres são:

- Ursula von der Leyen, da Alemanha, ex-ministra da Defesa alemã e presidente da Comissão Europeia eleita no dia 16 pelo Parlamento Europeu com 383 votos a favor, 327 contra, 22 abstenções e um voto inválido
- Margrethe Vestager, da Dinamarca, atual comissária europeia da Concorrência
- Kadri Simson, da Estónia, ex-ministra da Economia
- Jutta Urpilainen, da Finlândia, eurodeputada e ex-ministra das Finanças
- Mariya Gabriel, da Bulgária, atual comissária europeia para a economia e a sociedade digital

A novo Comissão Europeia de Ursula von der Leyen entra em funções a 1 de novembro. Se ela rejeitar nomes e o Estados membros não substituírem os candidatos há ainda a hipótese de veto por parte do Parlamento Europeu. Os eleitos dos países do chamado Grupo de Visegrado poderiam tentar vetar Frans Timmermans, embora tal pareça difícil uma vez que é preciso compensar os socialistas e os holandeses pelo facto de o atual primeiro vice-presidente da Comissão não ter sido escolhido para suceder a Juncker no âmbito do chamado processo dos Spitzenkandidaten (o seu nome foi uma solução de compromisso que esteve quase a passar no Conselho Europeu, mas que, no final, não vingou).

É preciso lembrar ainda que se o Reino Unido não sair da União Europeia até 31 de outubro, como estipulado agora, os britânicos terão direito a indicar também um comissário. Possivelmente, diz a imprensa, será mantido no cargo o atual comissário da segurança, Julian King, se porventura o Brexit não acontecer naquela data. 31 de outubro foi uma exigência do presidente de França, Emmanuel Macron, quando concordou com mais uma extensão do Artigo 50.º. A intenção do líder francês era evitar que os britânicos participassem na discussão dos altos cargos europeus ou tivesse comissários. Porém, Ursula von der Leyen já disse com concorda com mais uma extensão, se for preciso, para adiar de novo o Brexit.

Quanto a Portugal, muitas vezes se tem falado no nome do eurodeputado socialista Pedro Marques para comissário, possivelmente com a pasta do desenvolvimento regional. Esta está, hoje em dia, nas mãos da romena Corina Cretu. Numa entrevista à TSF/Dinheiro Vivo, em março, o primeiro-ministro português, António Costa, foi questionado sobre se o ex-ministro do Planeamento e Infraestruturas daria um bom comissário europeu, respondeu: "Isso daria seguramente, mas, enfim, a escolha dos Comissários Europeus será feita no momento próprio, a seguir às eleições é necessário, que entre o Conselho e o Parlamento se criem condições para que haja a escolha de um presidente da Comissão. Esse presidente da Comissão terá que organizar a Comissão Europeia, terá que dialogar com a Comissão, com os diferentes Estados, com as diferentes famílias políticas para a distribuição dos pelouros e, portanto, o que eu digo é que é importante que Portugal possa estar nessa negociação com a maior força possível. E quanto mais força tiver dentro do grupo Socialista do Parlamento Europeu obviamente mais força tem para nos pelouros que caibam à família socialista poder ter o melhor possível".

Na mesma entrevista, o secretário-geral do PS indicou que conta com Mário Centeno num segundo governo, caso os socialistas vençam as legislativas de 6 de outubro e consigam formar governo depois disso. "Acho que tem mesmo a oportunidade de poder, se os portugueses nos permitirem voltar a formar um novo Governo, de ser não só aquele que fez uma legislatura completa, mas também fazer uma segunda legislatura. Acho que, aliás, não faria sentido, o menor sentido, do ponto de vista interno não há a menor razão para não prossiga as suas funções. Do ponto de vista externo seria aliás, faria muito pouco sentido, como presidente do Eurogrupo cessar essas funções prematuramente".

Agora, esta sexta-feira, em entrevista ao Observador, António Costa admitiu que o nome de Mário Centeno para diretor-geral do Fundo Monetário Internacional é uma hipótese que está a ser considerada. "Não é um objetivo que tenhamos fixado. O objetivo que temos neste quadro situa-se no âmbito da União Europeia, e no âmbito de objetivos bastante precisos que serão objeto das minhas conversas com a senhora Von der Leyen. A hipótese que está em cima da mesa relativamente ao FMI é uma hipótese que não podemos deixar de considerar. Não era um objetivo que tivéssemos, nem um objetivo de vida pessoal, mas estando em cima da mesa... Vamos ver".

Sobre a pasta que Portugal gostaria de obter na próxima Comissão o chefe do governo declarou: "Se Mário Centeno continuar como ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, essa é uma área fundamental para o país onde já estamos fortemente presentes, por isso faria pouco sentido duplicar a mesma área na Comissão, e nesse caso seria vantajoso estarmos numa área distinta daquela que estamos no Eurogrupo".

Questionado sobre, dadas as várias variáveis em jogo, entre as quais a de uma Comissão paritária e a da possibilidade de Centeno permanecer no Eurogrupo ou até mesmo ir para o lugar de Christine Lagarde no FMI, Costa afirmou: "Não, é seguramente um excelente nome e para algumas dessas funções é seguramente a melhor pessoa para as poder desempenhar. Ou pelo menos, a melhor pessoa do género masculino para a poder desempenhar".

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