Única fábrica do País faz sinos para todas as paróquias

Na rua da Cidade do Porto, em Braga, trabalha-se há mais de 80 anos no fabrico de sinos, numa empresa familiar que é a única do ramo em Portugal e que já produziu para todas as paróquias do país.
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Para Arlindo Jerónimo, sócio-gerente e filho do fundador Serafim da Silva, "o sino é um instrumento musical e, como tal, tem de ter uma nota devidamente afinada".

É por isso que continua a supervisionar a fundição dos maiores "instrumentos", a poucos metros das temperaturas de 1.040 graus, necessárias para fundir o bronze.

A empresa, criada em 1932 e que atualmente emprega 40 trabalhadores, fabrica "entre 220 e 230 sinos por ano", trabalhando sobretudo para o mercado interno, mas exportando também "alguma coisa para Espanha, França, América Latina e para os países de expressão portuguesa", disse à Lusa Arlindo Jerónimo, depois de acompanhar a fundição de um sino de carrilhão.

"Fazemos sobretudo sinos para igrejas, mas também para edifícios públicos, como câmaras municipais ou escolas", explicou, lamentando que em Portugal não haja "muitos sinos conhecidos".

Arlindo Jerónimo recordou à agência Lusa, de entre os milhares de sinos que já produziu, o fabrico dos do convento de Mafra, para além do restauro dos sinos do Palácio da Ajuda e da Basílica da Estrela, ambos em Lisboa.

"Usamos a argila para fabricar a parte interior do sino. Depois, construímos o que chamamos de falso sino, onde é colocado todo o alto-relevo em cera. Vem, depois, a terceira forma, que será a parte exterior do sino", explicou.

"Quando as duas primeiras formas estão prontas, retiramos a terceira, partimos a do meio que é o falso sino, voltamos a colocar a terceira na primeira e preenchemos o espaço que sobra com o bronze, que é uma liga de 78 por cento de cobre e 22 por cento de estanho", sublinhou o fabricante, para concluir que "este é o processo normal de uma fundição de sinos."

Segundo o herdeiro de A Serafim da Silva Jerónimo & Filhos, Lta., a empresa produz para "todas as freguesias do país", prestando assistência aos "milhares de relógios e sinos" que existem em todo o território nacional.

"O sino funciona como um coro de cinco vozes: se está afinado, é um coro perfeito, se não, é um coro desafinado", afirmou Arlindo Jerónimo, referindo que até já cedeu alguns sinos para a orquestra da Gulbenkian.

Depois de mais de oitenta anos enquanto único fabricante destes instrumentos em Portugal, a empresa acabou por saturar o próprio mercado, pela que reagiu à quebra do negócio com o fabrico de relógios computadorizados, órgãos de igreja ou restauro dos milhares de sinos que badalam por todo o país.

O processo de fabrico é já milenar, revela Arlindo Jerónimo.

"Já antes de Cristo se faziam sinos com este processo, que sofreu apenas alguns melhoramentos. Não dá para fazer muito mais, na medida em que é uma peça artesanal que tem que ser feita com muito cuidado e atenção".

"E depois tem todo aquele rendilhado ou imagens dos santos padroeiros das freguesias para que são feitos. Cada sino representa a história da paróquia para que é feito. De facto, também é uma peça que fica para o registo daquela freguesia", disse à Lusa.

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