Unanimidade
Antes da reunião do Eurogrupo, o ministro Wolfgang Schäuble explicou que Berlim não iria permitir qualquer criatividade negocial. Atenas só poderia ficar dentro da zona euro, estendendo o programa de condicionalidade. O facto de o novo governo grego ter sido eleito para romper com uma austeridade que ultrapassou todos os limites do razoável não parece comover o braço direito de Merkel. Maria Luís Albuquerque, no final da reunião do Eurogrupo, com a sua voz suave, cometeu um grosseiro lapso freudiano, dizendo que os ministros tinham decidido o alargamento da austeridade na Grécia por "unanimidade". Ou seja, para a ministra portuguesa, a Grécia já está fora do Eurogrupo. A sua recusa já nem conta como voto contra. Existe, assim, a grande probabilidade de Atenas ser empurrada para fora da zona euro. A Alemanha, que pela terceira vez num século é a potência hegemónica da Europa, apesar de ser uma democracia robusta, continua a ter o mesmo problema com o uso da força que manifestou no passado. Não percebe que a desmesura dos poderosos pode acabar por lhes rebentar nas mãos. O velho filósofo Jürgen Habermas bem avisou, no dia 5 do corrente, para o perigo de a Alemanha destruir a União Europeia ao calcular mal o impacto do seu peso na frágil filigrana de uma Europa enfraquecida. Para Portugal, os riscos são imensos, mas a cegueira servil e obediente da coligação faz trocar o interesse nacional pela satisfação imediata do seu egoísmo de fação eleitoral. A Europa como a conhecemos parece ter entrado numa irremediável contagem decrescente.
*Professor universitário