Uma vacina contra a ignorância
As frases infelizes, uma vez proferidas no espaço público, não se apagam mesmo que se possam apagar posts ou tweets e se façam tímidos ou irónicos pedidos de desculpa. E quanto mais importante é a pessoa que as profere, mais triste se torna a situação.
Rodrigo Sousa Castro tem o papel de herói garantido na história de Portugal e não sou eu que vou questionar o seu mérito, mas, à luz de 2021, foi vilão, pelo menos durante um tweet. Acredito que se seguem tempos de cada vez maior luz, onde frases obscuras como esta deixarão de ter lugar e, logo, a necessidade de as rebater não existirá.
Mas vamos ao que está em causa. O acesso de pessoas de cultura judaica à vacina contra a covid-19. Suponho que a tal frase tenha sido originada pelo sucesso do plano de vacinação em Israel. As notícias que têm eco em Portugal dão conta de cabeçalhos como "Vacinas contra covid: imunização em massa já aponta queda de infeções e internamentos em Israel" ou "Infeções em maiores de 60 anos reduziram 46%".
A campanha de vacinação está a correr bem em Israel. É um facto. Mas não porque Israel seja o país mais rico do mundo (confinamentos são mais bastante mais caros do que vacinas) ou porque haja algum tipo de magia judaica. Simplesmente, Israel foi mais rápido a pensar e a agir contra a pandemia. Israel não esperou por ninguém, nem se alinhou como os países da UE, começando desde logo a investir em vacinas, mesmo antes de saber quais os resultados. Israel arriscou e, neste caso, está a ganhar. E como disse o embaixador israelita em Portugal, o resultado positivo poderá agora ser um contributo para todos. Até para autores de frases infelizes.
Presidente da Associação Judaica Over The Rainbow Portugal