Uma rua (um bocadinho) portuguesa em Londres
Há perto de 200 anos, o cenário da londrina Mint Street inspirou Charles Dickens a imaginar as aventuras do órfão mais conhecido do mundo. Mas os tempos em que os rapazes que fizeram nascer Oliver Twist se passeavam por ali há muito que se foram. A cinco minutos do Tate Modern Art Museum, Mint Street está agora integrada num bairro renovado e recentemente transformado numa das zonas mais apetecíveis de Londres.
É precisamente esse o local onde nasce hoje uma rua que é um bocadinho nossa -- não ladrilhada com pedrinhas de brilhantes, como dizia a canção, mas com pedra portuguesa, com certeza. Com assinatura da Primeira Pedra -- segunda edição da iniciativa que junta a Experimenta Design e a Associação dos Recursos Minerais de Portugal (a Assimagra, que representa 2500 empresas e 16 mil postos de trabalho) num projeto que pretende levar os nossos mármores cada vez mais longe -- e sob direção de Guta Moura Guedes, a Marble Street é hoje inaugurada em pleno centro de Londres.
O que é? Trata-se de uma passadeira em plena Mint Street, construída com desperdícios de mármore português, que é uma verdadeira obra de arte urbana. E que é a primeira de uma série de intervenções que vão levar a pedra portuguesa pelo mundo no próximo ano. Depois da inauguração de hoje, em Londres, a Primeira Pedra vai contar com eventos diversificados que incluem uma ação de apresentação em Nova Iorque, vai passar pela Bienal de Arte de Veneza de 2019 e pela Paris Design Week/Maisn & Object 2019, até culminar numa Exposição em Lisboa.
A associação da pedra portuguesa a obras de arquitetura e design executadas em Portugal e com tecnologia nacional já contou com projetos assinados por alguns dos mais relevantes nomes da arquitetura portuguesa, incluindo Álvaro Siza Vieira, Souto de Moura e Carrilho da Graça, assim como de arquitetos e designers estrangeiros, como Cláudia Moreira Salles (Brasil), Bijoy Jain (Índia) e Amanda Levete (Inglaterra) entre outros. Desta vez, o projeto Primeira Pedra contou com a criatividade do cipriota Michael Anastassiades, que com a sua passadeira ajudará a criar mais buzz à volta do mármore português.
Mas não se trata apenas de uma questão de visibilidade e vaidade que põe design e indústria a trabalhar juntos. "Acrescentar valor à pedra portuguesa e criar notoriedade" são objetivos destacados por Guta Moura Guedes, da Experimenta Design, que vê que aqui há negócio puro e duro.
Com um volume de negócios ligeiramente acima dos mil milhões e a crescer ininterruptamente desde 2013, o setor tem-se destacado como um dos mais vivos e demonstrado enorme pujança nas exportações, que aumentaram mais de 23% na última década e continuando a crescer a bom ritmo -- até agosto deste ano, foram mais 9% do que nos mesmos meses do ano passado, ano em que se chegou a dezembro com 347 milhões e exportações. Dessas vendas para fora, a fatia de leão (três quartos) já é em produto transformado, o que significa valor acrescido, para destinos como França (64 milhões de euros), China (42 milhões), Espanha (31 milhões), Reino Unido (23 milhões), Estados Unidos (21 milhões), Arábia Saudita (20 milhões) e Alemanha (19 milhões de euros).
"Com o trabalho que tem sido desenvolvido até aqui, com o desenvolvimento de projetos como este da Primeira Pedra, mantendo as mesmas apostas estratégicas que temos tido, estou convicto de que em 2025 estaremos em condições de atingir 1% do PIB português, e que esta relação entre material em bruto e transformado tendencialmente caminhará para que a exportação em bruto seja apenas marginal", explica o vice-presidente da Assimagra. Miguel Goulão acredita mesmo que "a nossa indústria transformadora terá no futuro a capacidade de absorver toda a capacidade instalada de extração em Portugal".