Uma queda de ouro. "Anatomie d'une Chute" conquista Cannes

Vitória para Justine Triet, jovem cineasta da nova geração do cinema francês. Anatomie d"une Chute é um dos dos melhores filmes da competição, mas fica um amargo pelas ausências no palmarés de Moretti e Bellochio. E mesmo o Prémio do Júri para Aki Kaurismaki sabe a pouco.
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Uma Palma de Ouro para um filme de tribunal? Anatomie d"une Chute, de Justine Triet, é mais do que isso, escreveu-se aqui logo no começo do festival. Uma história de uma queda de um homem no seu chalet nas montanhas perto de Grenoble. Terá sido a sua mulher? Ou foi suicídio? O filme vai para tribunal mas no núcleo está uma questão de reflexão sobre uma crise conjugal, sobre a verdade que cada um carrega. Triet com ambições bergmanianas num objeto que se tornou no título mais celebrado pela imprensa. Mal Jane Fonda deu a Palma, a sala grande do Palais de Cannes levantou-se de pé para aplaudir. Esta anatomia de uma tragédia é também o regresso de uma francesa e de uma mulher ao prémio maior do festival.

No Grand Prix, a segunda maior distinção, o outro "favorito natural": The Zone of Interest, de Jonathan Glazer, obra performática a partir do tema do livro homónimo de Martin Amis. A banalidade do mal vista por dentro através do dia-a-dia da família de um oficial nazi que vive ao lado (ou nas traseiras) de Auschwitz. Um "art-movie" sem medo dessa condição. Com a Palma de ouro há ainda uma conexão: ambos os filmes são protagonizados por Sandra Huller, que já tinha sido primorosa em Toni Erdmann, de Maren Ade. A atriz alemã este ano não venceu o prémio de interpretação devido à regra que proíbe o júri de premiar mais do que uma vez uma obra.

Na realização pontaria afinada para o júri de Ruben Ostlund: La Passion de Rodin Bouffant, de Trân Anh Hùng, cineasta vietnamita radicado em França que reemerge depois de uma fase de apagão. É precisamente na pose zen e suave da sua mise-en-scène que o filme respira e conquista. Filmar o ato gourmet não é para todos.

Como não poderia deixar de ser, dois dos filmes mais amados em Cannes conseguiram palmarés: Perfect Days, de Wim Wenders e o belíssimo Fallen Leaves, de Aki Kaurismaki. O primeiro foi contemplado através da interpretação de melhor ator, Kõji Yakusho - o japonês seguramente irá aos Óscares, enquanto que a comédia triste finlandesa venceu o prémio do júri. Poder-se-á pensar em consolação quando talvez desta vez Kaurismaki merecesse mais.

Palavra ainda para Monster, do japonês Kore-eda, vencedor de melhor argumento e para o inesperado prémio de melhor atriz para a discreta mas preciosa atriz turca de About Dry Grasses, de Nuri Bilge Ceylan, Merve Dizdar.

Ficam de fora os italianos num ator extraordinário. Não premiar Nanni Moretti com Il Sol Dell"Avvenir e Marco Bellochio, com Rapito, é quase pecaminoso, mas neste ano fortíssimo da competição, não cabem mesmo todos.

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