Uma mulher é uma mulher
Uma sequência de rostos. Rostos que espelham, ao mesmo tempo, a diversidade e universalidade do que significa ser mulher. Uns que apenas olham de frente para a câmara em silêncio, e outros que contam histórias, confessam intimidades, mostram timidez ou transmitem um pouco de esperança. Para além dos rostos, há também corpos que se dão ao manifesto e, particularmente, olhos que exprimem dor, raiva, força, confiança, ternura e alegria. Cada ser feminino que vemos e ouvimos em Woman - Mulher é um discurso vivo que se liberta perante a lente do francês Yann Arthus-Bertrand e da ucraniana Anastasia
Mikova.
A assinalar o Dia da Mulher, este documentário resultante de um trabalho de entrevistas a 2000 mulheres, em 50 países, ao longo de 2 anos e meio, é a abordagem mais direta que pode ser feita ao simbolismo da data. Um filme que não seria errado encaixar no perfil de uma instalação artística (ou de um sofisticado e humano "vídeo promocional"), mas que funciona sobretudo como um eficaz e simples dispositivo de mensagem, assentando num leque de tópicos - desde o sexo à velhice, passando pela primeira menstruação, o desejo, a maternidade, a definição de beleza, os traumas, a violência masculina... - que são explorados dentro do ângulo simultâneo da variedade cultural e da singularidade feminina.
A intercalar esses blocos de sucessão de rostos que falam, existem também imagens de mulheres em pose fotográfica, recolhidas em diferentes partes do globo. É uma forma de a dupla Yann Arthus-Bertrand e Anastasia Mikova homenagear a nobreza feminina em qualquer sociedade, colocando-a numa espécie de catálogo que revela a mulher na sua paisagem específica.
De resto, o detalhe do título Woman (mulher) - em vez de Women (mulheres) - impõe-se como o primeiro sinal de que o que aqui importa é conhecer cada um dos rostos pela sua essência e não por uma generalização de género. Daí a componente verdadeiramente pedagógica de um exercício documental empático, que visa organizar a sua informação a partir de um painel de emoções e humores. Cada mulher imprime uma nuance distinta a cada assunto, e essa nuance revela-se tanto numa lágrima como num sorriso.
Uma Mulher é Uma Mulher, diz o título de um filme de Jean-Luc Godard que venera a sua musa Anna Karina. É, no fundo, desse valor absoluto que se fala neste documentário de evidente valor simbólico para os nossos dias.
Neste sábado (18.00) haverá uma antestreia de Woman - Mulher na Culturgest, em Lisboa, precedida de um debate que conta com Catarina Furtado, o psicólogo Daniel Cotrim (APAV) e a realizadora Raquel Freire, com moderação da jornalista Fernanda Freitas.