Uma escritora contra todos os códigos

Obcecada por encontrar "uma voz própria", transgressora total, Marguerite Duras reinventou a literatura e o cinema num universo único que fascina e devora os leitores. Amanhã passam cem anos sobre o seu nascimento, na Indochina, um lugar que a escritora tornou mítico em obras como 'O Amante' e 'Barragem Contra o Pacífico'.
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Em 82 anos de vida Marguerite Duras escreveu 79 livros, de romances mais ou menos convencionais a textos fragmentários e quase ilegíveis, derrubou as fronteiras entre o cinema e a literatura como nunca ninguém antes o fizera e, nessa terra de ninguém, criou um universo absolutamente único.

Passou a infância na Indochina e aos 17 anos mudou-se para França, onde estudou Direito e Ciências Políticas na Universidade da Sorbonne, em Paris. Licenciou-se em 1935. Entretanto, adotou o nome Duras, nome da terra natal do pai.

Trabalhou no secretariado do Ministério das Colónias, onde esteve até 1941. Durante a segunda Guerra Mundial integrou a Resistência francesa, e filiou-se no no Partido Comunista.

Em 1942, lançou o seu primeiro romance, 'Les Impudents'.

Entre 1950 e 1955: 'Uma Barragem Contra O Pacífico', 'O Marinheiro de Gibraltar' e 'O Jardim'. Em 1958, lançou 'Moderato Cantabile', no qual abandonou os temas mais tradicionais por assuntos como o desejo sexual, o amor, a morte e a memória.

Em 1959, escreveu o argumento do filme 'Hiroshima Meu Amo'r e a década de 70 será sobretudo dedicada à realização

Em 1984, regressou às literatura com 'O Amante e ganhou o mais prestigiado galardão literário francês, o Prémio Goncourt. Em 1985, lançou uma coletânea de contos, 'A Dor', inspirada na situação que viveu no pós-guerra, quando teve de tratar do marido Robert Antelme que sobreviveu aos campos de concentração nazis.

Entretanto, desde 1980, Duras mantinha uma relação conturbada com Yann Andréa Steiner, 38 anos mais novo que ela e obcecado pelos seus livros.

A escritora e tradutora Maria Manuel Viana, numa conferência na Casa Fernando Pessoa recordou o dia em que foi apresentada a Duras no Festival de Cinema da Figueira da Foz, em 1980: "parecia não ter 70 mas 16 anos, que é ainda a rapariguinha de O Amante. Duras gosta de ser admirada, amada: quando Lacan lhe pediu para se encontrar com ele, à meia-noite, num bar, e lhe falou durante duas horas da imensa perturbação que a personagem Lol Von Stein lhe provocara, adorou. Como adorou que Michel Foucault lhe tivesse escrito a dizer: " A senhora é a escritora de que eu preciso". Ou que Maurice Blanchot lhe tivesse dedicado um capítulo, no livro A Amizade. Ou que Samuel Beckett tivesse ido ver quatro vezes a peça 'Square'.

"Duras permance intemporal" afirma ainda escritora portuguesa. "Ela é hoje um clássico da literatura: é o autor francês da segunda metade do séc XX mais traduzido (em 35 línguas), mais lido, mais comentado. Há cerca de 250 teses de doutoramento sobre a sua obra. A Plêiade começou, em 2011, a publicar as obras completas. Ler Duras será sempre ler a memória do séc. XX".

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