Uma crise à escala mundial

A palavra ‘subprime’ nasceu, para as audiências mundiais, em 2007. Classifica um segmento de negócio de crédito hipotecário existente apenas nos EUA. Um negócio direccionado para as famílias de baixos recursos e com poucas ou nenhumas garantias de cumprirem as responsabilidades assumidas com o crédito para a compra de casa. A única garantia era a própria casa.
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O subprime surgiu há três anos quando o crescimento imparável do sector imobiliário norte-americano, conjugado com um ambiente de baixas taxas de juro, levou o sector financeiro a procurar novas vias de rentabilizar os seus activos. A ideia era simples: emprestar dinheiro sem restrições a quem quisesse comprar casa. Como o mercado imobiliário estava em grande expansão, a previsível valorização das casas chegaria para cobrir as despesas com juros. E um eventual incumprimento pelas famílias. O problema surgiu quando o quadro macro-económico mudou. As taxas de juro começaram a subir e o sector imobiliário estagnou. Quando essa inversão se acentuou, milhares de famílias deixaram de poder pagar os seus empréstimos e as casas, entregue aos bancos, já não chegavam sequer para cobrir parcialmente os montante em dívida. As empresas do sector abriram falência, perante a impotência dos reguladores e do governo federal dos EUA, que se mostrou incapaz de antecipar a crise.


Como é que este problema local ganhou dimensão mundial, até chegar à porta de um país como Portugal? Os grandes bancos norte-americanos foram os principais financiadores deste sector. E, atraídos pelas taxas de juro elevadas de créditos de risco, decidiram montar produtos financeiros para vender pelo mundo fora. Milhões foram investidos nestes produtos. Quando o ‘subprime’ colapsou, estes produtos ficaram a valer zero. Com efeitos no valor das carteiras onde estavam integrados. Resultado: fundos congelados e milhões de danos nas contas dos bancos.


A crise ganhou ainda maior dimensão por ter afectado a confiança dos bancos em emprestar dinheiro entre si. Os juros subiram adicionalmente e, em conjunto com os recordes das matérias-primas, a actividade económica abrandou. Actualmente, milhares de despedimentos depois e de milhares de milhões de perdas no sector financeiro, a dúvida é se a economia global caminha ou não para uma recessão.


Entretanto, a gravidade e originalidade da crise fez tremer os pilares do capitalismo. Dado o impacto na saúde de grandes bancos, o Estado teve de intervir para salvar empresas privadas da falência, tendo em conta o risco que a sua falência representava para o sistema financeiro. Nos EUA, foi o caso da Bear Sterns, comprado barato por um rival com ajuda federal, e das hipotecárias Freddie Mac e Fannie Mae. No Reino Unido, o governo nacionalizou o Northern Rock. Ao mesmo tempo, os bancos centrais, especialmente nos EUA, continuaram a injectar dinheiro no sistema para minimizar os danos.

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