Uma arena olímpica, quatro escolas no futuro
Nómada. É esta a palavra a fixar quando se fala de parte da arquitetura que se verá nos Jogos Olímpicos que começam no dia 5 do outro lado do Atlântico. Se fosse preciso resumir o sentimento, dizer que Rio 2016 quer evitar o complexo Pequim 2008 seria apropriado. Quando o pano cair, a 21 de agosto, a cidade vai saber qual o destino das infraestruturas agora criadas ao contrário do que aconteceu, por exemplo, com o estádio conhecido como Ninho de Pássaro, na China, cujo uso ficou aquém das possibilidades após o evento desportivo.
A solução clássica para os equipamentos tem sido servirem de apoio a vários desportos, mas, no Brasil, a solução da Oficina dos Arquitetos e do atelier LSFG, autores da Arena do Futuro, que acolherá os jogos de andebol nos Olímpicos e de golbol nos Paralímpicos é usar o máximo de materiais deste edifício no futuro: quatro estabelecimentos de ensino da rede pública que nem sequer ficam no parque olímpico da Tijuca onde está atualmente esta infraestrutura olímpica serão construídos após os Jogos.
A novidade não é apenas haver destino, como a prefeitura do Rio de Janeiro tem querido sublinhar, é que o plano está, também ele, gizado. A estrutura metálica que hoje cobre os campos de andebol servirá estas escolas de dois andares, 16 salas de aulas em cada um e capacidade para 500 alunos.
Em mudança
A Arena do Futuro foi um dos primeiros edifícios olímpicos construídos para o evento a ser apresentado, há três meses. Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, fez as honras da casa nessa ocasião. "Toda a estrutura de aço e cimento será usada para construir quatro novas escolas em Camorim, Cidade de Deus, Anil, na Zona Oeste, e São Cristóvão, na Zona Norte", disse, então, citado pelo jornal O Globo, num edifício dado como terminado, mas onde não havia cadeiras. Mas havia explicação: essas também são temporárias. Serão alugadas para o evento.
A partir do dia 5, a Arena do Futuro, 24 214 metros quadrados de ocupação, poderá receber até 12 mil espectadores. "Como as cadeiras serão temporárias, não havia sentido em começar a pagar agora o aluguer", justificou Paes.
No entanto, não é possível falar das obras para os Jogos Olímpicos sem referir as notícias de derrapagem financeira associadas à construção destes equipamentos. Foram investidos 900 milhões de reais (250 milhões de euros), com o Governo federal a reafirmar que se envolverá no pagamento da fatura. O Rio de Janeiro decretou o estado de calamidade pública em meados de junho e ficou autorizado a fazer empréstimos à administração central (40% do investimento é público).
Reciclar e reaproveitar
Quanto à arquitetura, reaproveitar é ideia chave. Além da estrutura metálica que dará um toque olímpico às novas escolas, já chamadas de escolas olímpicas, as telhas do complexo de andebol serão usadas nesses novos edifícios. Rampas, portas, janelas, vasos, lavatórios, chuveiros, candeeiros e até interruptores serão levados para os estabelecimentos escolares. O piso da competição fica no sítio, dividido para campos polidesportivos. Mas até as madeiras que estão a ser usadas aqui já vieram de outro sítio.
Gustavo Martins, da Oficina de Arquitetos (OA), um dos autores da Arena do Futuro, diz que não gosta muito do termo arquitetura nómada, que se colou ao edifício. "Dá a impressão de uma arquitetura efémera", disse ao Globo. Ora, é mais do que isso. "Para mim, o projeto só estará realmente concluído quando se transformar nas quatro escolas", defende. O que só acontecerá em 2017, após os Paralímpicos.
Uma caixa de legos
As cadeiras - verdes, amarelas, vermelhas e laranjas -- foram entretanto instaladas. Gustavo Martins publicou as imagens na rede social Facebook. "É uma caixa de madeira com lego dentro", descreveu. O arquiteto, 40 anos, é um dos fundadores da Oficina de Arquitetos, um escritório com 16 anos, fundado em outubro de 2000, com Ana Paula Polizzo, 38 anos. Nascem depois de terem vencido o projeto para o edifício OI Futuro. Têm estado envolvidos na construção de edifícios públicos, um deles ligado à Universidade Federal Fluminense.
A paternidade da Arena do Futuro é partilhada com o atelier Lopes, Santos & Ferreira Gomes (LSFG), dos arquitetos Geraldo Oliveira Lopes, Gilson Ramos dos Santos e José Raymundo Ferreira Gomes, que estiveram envolvidos na construção do estádio olímpico João Havelange (uma antiga oficina rodoviária convertida em arena desportiva, inaugurada em 2007 e hoje conhecida como Engenhão), em parceria com a MBM Engenharia e a DW Engenharia. O contrato da obra, público, aponta para um custo total de 7,2 milhões de reais, isto é, cerca de 2 milhões de euros.
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