Um serão familiar de Páscoa com Dora a Exploradora, uma espécie de Indiana Jones

Uma proposta exclusiva dos canais TVCine neste domingo à noite: <em>Dora e a Cidade Perdida</em> é entretenimento para a família, com o charme de um Indiana Jones para os mais novos.
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Dora a Exploradora, a série de desenhos animados da Nickelodeon que conquistou o público infantil com didáticas aventuras na selva, não podia escapar à moda do live-action. Dentro da lógica que domina as produções juvenis nos últimos anos, quase nada escapa. E, no entanto, é preciso reconhecer que não estamos a falar do material mais óbvio para a empreitada: nesses episódios, em Portugal transmitidos pela RTP2, uma menina latina seguia pistas, resolvia charadas e ensinava algumas palavras em inglês (na versão original, era em espanhol), falando diretamente para os seus telespectadores mais jovens

Como é que este formato televisivo, que conta ainda com personagens próprias de um imaginário pueril, como Boots, o macaquinho companheiro de Dora, a mochila falante dela, ou Swiper, a raposa que lhe rouba itens-chave, se adapta num filme de imagem real? James Bobin, o realizador de Os Marretas incumbido desta tarefa, arranjou uma solução.

Dora e a Cidade Perdida (este domingo às 22.15, no TVCine Emotion) assume-se como um objeto híbrido que combina o tom didático da série com um contexto humano real. Assim, a protagonista é-nos apresentada ainda criança, tal como a personagem da animação, e depois do salto temporal de uma década, a sua curiosidade e espírito aventureiro mantêm-se intactos. Nada se perdeu pelo caminho. Criada pelos pais arqueólogos (Eva Longoria e Michael Peña) numa casa no meio da floresta sul-americana, Dora cresceu rodeada de elementos exóticos e amigos ainda mais exóticos. Agora, está na altura de descobrir a "cultura" urbana e entrar no ensino secundário... A custo, os pais mandam-na para a casa do primo Diego, em Los Angeles, onde vai experimentar uma realidade completamente nova, enquanto eles se dedicam à pesquisa arriscada de uma cidade perdida dos Incas chamada Parapata.

Nesta primeira parte, o filme interessa-se sobretudo pela personalidade pouco "normal" de Dora, uma adolescente espevitada, ultracomunicativa, polímata e sempre pronta para acrescentar conhecimentos, que é interpretada por Isabela Moner com um inegável magnetismo juvenil. No exato oposto disto está o primo (Jeff Wahlberg), a única pessoa da mesma idade com quem em criança partilhou aventuras, mas que já não se revê na espontaneidade dela e por isso se encolhe diante da risota dos outros alunos do liceu.

Apesar do interlúdio de angústia da adolescência, ou talvez por causa dele, Dora e o primo conseguem formar um grupo com mais dois "inadaptados" - a rapariga mais inteligente da escola e um rapaz apenas esquisito - que acabam raptados, todos juntos, naquele que é o regresso dela à selva, o seu habitat natural. Aí vão deparar-se com outro explorador à procura dos pais dela e da enigmática cidade de ouro de Parapata, seguindo-se a rota aventureira que é tão familiar à protagonista. A partir desse momento Dora e a Cidade Perdida converte-se numa autêntica versão teen de Indiana Jones, com armadilhas tropicais e quebra-cabeças de percurso que manifestam o seu ponto alto num campo de flores gigantes: algo nestas flores dá lugar a uma sequência em que os personagens se transformam em desenhos animados... Psicadélico? Um pouco.

Contra todas as expectativas, este live-action consegue tornar apelativo aquilo que à partida se perderia ou na simples autoparódia ou num filme só destinado a crianças. Com um pouco de tudo o que é reconhecível no universo de Dora a Exploradora - inclusive as canções e os "bonecos" Boots e Swiper, que felizmente não ficam higienizados pelos efeitos do digital - o filme de James Bobin tem essa qualidade de se inspirar sobretudo na sua heroína, fazendo o elogio ao espírito da curiosidade-em-ação, que hoje em dia tem vindo a perder para a ideia básica de ação vazia, como se viu no último Tomb Raider. Dora e a Cidade Perdida contraria essa cultura do videojogo, desde logo, projetando na protagonista o simbolismo de valores algo esquecidos, com um sentido de entretenimento que, mesmo sem pompas de grande produção ou genialidade, enche as medidas de um programa familiar caseiro. Não há caça aos ovos da Páscoa, mas há diversão e areias movediças.

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