O Campo de Tiro de Alcochete, a Base Aérea do Montijo ou a da Ota são algumas das mais fortes possibilidades para acolher as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) de 2022, que devem realizar-se em Portugal. Afinal, trata-se de espaços amplos, que permitirão o acolhimento estimado de um milhão de jovens para dormirem em sacos-cama ao relento no verão desse ano à espera da missa final com que estes encontros são encerrados..Só falta o anúncio formal do Papa Francisco, o que deve acontecer nas próximas jornadas - que arrancam na terça-feira no Panamá e terminam a 27 de janeiro. A Igreja portuguesa - e, em concreto, o patriarca de Lisboa, em cuja área deverá realizar-se - começou a preparar este encontro há meses, discretamente, como pede a diplomacia vaticana, porque é ao bispo de Roma que compete o anúncio, como avançou o blogue Religionline..A dimensão de um evento como este obriga a uma preparação bem antecipada. Mas a sua organização só acelerará depois da reunião no Panamá e da entrega da cruz das jornadas, que é o símbolo mais importante das JMJ, e que será "levada" para o país de acolhimento como se se tratasse da chama olímpica..Em 2005, quando o recém-eleito Bento XVI (o papa alemão que tinha sido eleito em abril, depois da morte de João Paulo II) chegou a Colónia, encontrou cerca de um milhão de jovens num campo vastíssimo, a 25 quilómetros da cidade, no meio do nada, próximo de várias aldeias, pelo menos com um quilómetro de comprimento e uns 500 metros de largura - qualquer coisa como dez campos de futebol..Anos mais tarde, em agosto de 2011, na capital espanhola, o mesmo Bento XVI deslocou-se até Cuatro Vientos, um aeródromo a dez quilómetros do centro de Madrid, para ser recebido também por um número aproximado de um milhão de jovens. O espaço era ainda maior do que o de Colónia, segundo os relatos da imprensa: um recinto equivalente a 48 campos de futebol, com seis pontos de manutenção, 14 bares e 4300 sanitários espalhados pelo aeródromo. Nem tudo era profano: em Cuatro Vientos havia 30 capelas improvisadas para oração..As jornadas realizam-se durante vários dias, com os jovens inscritos - num número sempre inferior ao que depois se reúne nos dois últimos dias para o acolhimento ao Papa - a serem distribuídos por milhares de alojamentos diferentes (e muitos improvisados). No ano de Madrid, foram registados 7000 espaços de alojamento, incluindo em Portugal. Em casas de família de Madrid e arredores havia 20 mil lugares..É esta logística a que terá de responder, em primeiro lugar, a organização portuguesa, concretizando-se a realização das jornadas de 2022 por cá: alojamentos para acolher centenas de milhares de jovens. Em 2016, na cidade polaca de Cracóvia, já com o Papa Francisco na cadeira de Pedro, estavam inscritos oficialmente cerca de 360 mil jovens para a semana de atividades. No fim de semana, para a vigília e a missa, eram esperados milhão e meio a dois milhões de jovens. Para acampar, havia 37 mil espaços..Perante tamanha multidão, os números atingem outras grandezas: em 2011, seis milhões de refeições foram servidas de terça-feira a domingo no campo de Madrid, com 2000 restaurantes a associarem-se ao evento..Nesse ano, os voluntários foram 30 mil, mais de 4000 jornalistas acompanharam o encontro, quatro milhões de hóstias foram distribuídas por 4600 padres e bispos, durante as missas celebradas nas JMJ, mil litros de vinho foram consagrados nessas celebrações e 13 mil casulas (vestes litúrgicas) foram confecionadas para os padres e os bispos..Na Polónia, nas últimas jornadas realizadas no continente europeu, o número de padres foi de 13 mil, somando-se mais 850 bispos e cardeais..Um desejo antigo.O desejo da Igreja portuguesa de trazer as jornadas para o país é antigo e, já em 2011, nas páginas do jornal Público, se dava conta dessa vontade mas também se antecipava que a iniciativa tinha sido pensada para 2017, para coincidir com o centenário dos acontecimentos de Fátima, mas logo ali se percebia que não seria possível antes de 2020..As últimas edições têm alternado entre continentes, a cada três anos, desde 2002 (exceto no Rio de Janeiro, em 2013, para não coincidir com o Mundial de futebol de 2014), depois de um ritmo mais regular entre 1986, quando foram criadas por João Paulo II. As últimas edições tiveram lugar em Colónia (2005), Sydney (2008) e Madrid (2011), com o Papa Bento XVI, e Rio de Janeiro (2013) e Cracóvia (2016), já com Francisco..Terá sido um encontro com jovens, em 1982, realizado na primeira visita ao país, no Parque Eduardo VII, em Lisboa, que terá levado João Paulo II a pensar num evento destes. O regresso a Lisboa será agora anunciado por Francisco. Talvez a maior incógnita seja esta: se também será Francisco a regressar a Portugal..NÚMEROS.Quatro milhões.O Papa Francisco presidirá às suas terceiras jornadas. Antes dele, João Paulo II presidiu a nove, e em Manila (Filipinas), em 1995, terá sido batido o recorde de participação, com mais de quatro milhões de jovens..375 mil.Em setembro, a organização das Jornadas de 2019 noticiavam que já havia 200 mil inscritos para o encontro no Panamá. O comité organizador local antecipava que participariam cerca de "375 mil peregrinos nacionais e internacionais".