"Close-up é um tipo de plano cinematográfico que aproxima a observação, mas é também um filme incontornável da história do cinema." Assim se apresenta, em jeito de explicação, o Close-up - Observatório de Cinema de Vila Nova de Famalicão, inspirado pelo filme do iraniano Abbas Kiarostami, aqui assumido como símbolo do humanismo da sétima arte..Porquê um observatório e não um festival? Porque o seu formato é intimista. A ideia passa por, de edição em edição (ou episódio), fomentar um olhar continuado e minucioso sobre a produção cinematográfica de hoje, no sentido de um diálogo estreito com os espectadores. Não obstante, a história do cinema também é um dos pilares essenciais da programação, que se apoia nessa arqueologia das imagens em movimento para refletir a partir dos clássicos..Eis então o convite: a partir de hoje e até 20 de outubro, na Casa das Artes de Famalicão, este festival que não o é assinala a sua terceira edição, com vários convidados, debates, sessões especiais, uma exposição de fotografia e vídeo, e filmes-concerto. A noite de abertura acontece com The Legendary Tigerman, que dá música a Os Lobos (1923), de Rino Lupo, um dos valiosos títulos do nosso cinema mudo, recentemente objeto de restauro pela Cinemateca Portuguesa. Durante a tarde já se faz o aquecimento com a inauguração da exposição A Natureza e o Lugar da Natureza, da dupla Ana Guimarães e Virgílio Ferreira, seguida do magnífico Os Amantes Crucificados (1954), olhar trágico de Kenji Mizoguchi sobre o Japão feudal (sessão apresentada pela realizadora Cláudia Varejão), e ainda o muito respeitável filme de gangsters de Bruno de Almeida, rodado no Cais do Sodré - Cabaret Maxime - com a presença do próprio cineasta e do ator Manuel João Vieira, o líder dos Ena Pá 2000 e Irmãos Catita, que depois da meia-noite protagoniza um miniespetáculo no café-concerto da Casa das Artes..Há algo que liga estes e outros filmes do programa do Close-up: a ideia de "lugar". Depois da "memória" e da "viagem", aqui está o mote que orienta as escolhas do cardápio cinéfilo, ou que pelo menos permite abordar as obras na sua consciência física, identitária, e enquanto respiração de uma paisagem. Essa que vemos explicitamente, por exemplo, em Mudar de Vida (1966), de Paulo Rocha - o amor como lugar traído, na vila piscatória do Furadouro (dia 15) -, em Ramiro, esse cosmos lisboeta captado por Manuel Mozos (dia 14), ou em Western, de Valeska Grisebach, que coloca um grupo de alemães em território búlgaro, com a lente voltada para a dinâmica da masculinidade num horizonte estrangeiro (dia 18)..Um dos maiores destaques deste observatório de Famalicão não é sequer europeu. Trata-se de um hino à beleza do crescimento e da aprendizagem: Aparajito - O Invencível (1956), segundo título da admirável trilogia de Apu e grande referência do cinema indiano, de Satyajit Ray, é a história de um jovem hindu prestes a sair de casa para ir estudar para Calcutá. Entre a sabedoria do retrato íntimo e a narrativa social, Satyajit filmou a Índia com a subtileza e o toque de mestre. Esta é uma sessão especial (dia 15) e será apresentada pelo diretor da Cinemateca, José Manuel Costa..Entre cinema de várias idades, nacionalidades e formatos, celebrem-se também as curtas-metragens chamadas a este roteiro, como a belíssima animação de temática rural Água Mole, de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves, a Russa, de João Salaviza e Ricardo Alves, ou, em cenário natural açoriano regado de nostalgia, Flores, de Jorge Jácome - este exibido a par com a fabulosa animação japonesa de Wes Anderson, Ilha dos Cães, em que a técnica stop-motion dá vida à característica inteligência narrativa e geometria visual do cineasta (dia 17)..O Close-up compromete-se ainda com o público infantojuvenil, levando ao contexto escolar o clássico da cinematografia italiana Ladrões de Bicicletas (1947), de Vittorio de Sica, mas igualmente mostrando, no Grande Auditório da Casa das Artes, as melhores produções de animação recentes, como o sucesso da Pixar The Incredibles 2, de Brad Bird (dia 14), ou, dos estúdios britânicos Aardman, A Idade da Pedra, diversão futebolística de Nick Park (dia 15)..O encerramento, no dia 20, fica por conta de Buster Keaton e Noiserv: mais um filme-concerto promissor, em que será exibido Sherlock Jr. (1924), a hilariante saga de um projecionista - o próprio Buster Keaton - em lides detetivescas. O plano perfeito para um sábado em família.