Um Francisco de A a X, de Assis a Xavier
No sábado, na Sala Nervi, no Vaticano, durante a audiência pontifícia a centenas de jornalistas, o Papa Francisco chamou um jornalista cego que assistia, com um cão labrador. O jornalista Alessandro Forlani, emocionado, pediu a bênção para a filha, de cinco meses. O novo Papa, que nunca cessou de o olhar na cara e dar-lhe a mão, disse que abençoaria a bebé, a mulher do jornalista e ele próprio, e acrescentou: "Mas quero também abençoar o seu cão..." E acariciou o animal, num gesto de São Francisco de Assis, que pregava aos pássaros. Ontem de manhã, antes do Angelus, o Papa Francisco foi rezar missa à pequena Igreja de Sant'Anna, dentro dos muros do Vaticano. Um grupo de jovens padres acercou-se e um deles apresentou todos: "Estamos a estudar para ir para a China." O Papa respondeu-lhes: "Não tenham medo." Evocando com essas palavras o apóstolo do Oriente, São Francisco Xavier, que evangelizou no Japão, Malaca e Macau, e está enterrado em Goa.
Naquela reunião na Sala Nervi, Jorge Mario Bergoglio, o argentino que insiste quebrar regras em cada dia do seu pontificado, explicou com lhe surgiu o nome Francisco, que adotou. Geralmente os papas justificam as escolhas, mas guardam-se de contar os pormenores na Capela Sistina, onde o que se diz e faz é de sigilo tradicional: quando João XXII, anos depois de eleito, deixou escapar, numa reunião com estudantes, que disse no conclave que queria ser João por ser o nome do pai foi um pequeno escândalo. Mas, no sábado passado e a jornalistas, Francisco contou tudo: ao seu lado estava o cardeal brasileiro Cláudio Hummes - e do outro, o português José Policarpo - e quando o escrutínio anunciando os votos ia nos 77 (isto é, já eleito) o brasileiro, que é franciscano (da ordem fundada por São Francisco de Assis), disse ao argentino: "Não te esqueças dos pobres." E Bergoglio, jesuíta como São Francisco Xavier, decidiu-se por Francisco, mas por causa de Il Poverello, São Francisco de Assis...