Um ciclo de clássicos e não só sobre a violência no cinema
Não será possível fazer uma história das formas de representação da violência em cinema através de oito filmes... Seja como for, o ciclo "Uma história da violência (no cinema)", além de ser apresentado com um subtítulo prudente ("alguns exemplos"), possui a virtude de contrariar o consumo passivo, automático e "pipoqueiro". E se é verdade que os ciclos temáticos estão a regressar a alguns setores da exibição cinematográfica, tanto melhor!
Os filmes que, a partir de hoje à tarde, vão passar no Espaço Nimas (sempre às 18.15) são suficientemente díspares para que evitemos qualquer generalização temática, descritiva ou interpretativa. O mais recente da seleção - O Capitão (2017), de Robert Schwentke - lembra-nos mesmo que não há uma definição absoluta, muito menos determinista, da violência: afinal de contas, Schwentke filma um soldado alemão que, no final da guerra, se transfigura (violentamente) porque começa a usar uma farda de... capitão.
Alguns títulos transportam o rótulo mítico de "clássicos", até porque se inscreveram no imaginário popular como exercícios de confronto com as manifestações mais radicais, porventura mais irracionais, da violência. São eles: Massacre no Texas (1974), de Tobe Hooper, O Silêncio dos Inocentes (1991), de Jonathan Demme, e Cães Danados (1992), de Quentin Tarantino.
No centro do ciclo surge Saló ou os 120 Dias de Sodoma (1975), título final de Pier Paolo Pasolini, deslocando a obra do Marquês de Sade para o contexto da República de Salò, na zona controlada pelos fascistas nos anos finais da Segunda Guerra Mundial. Filme difícil de enfrentar e compreender (falo por mim, antes do mais), trata-se de um dos exemplos mais elaborados, e também mais perturbantes, da capacidade do cinema nos fazer sentir como o exercício do poder envolve sempre alguma forma de hierarquização dos corpos - a sua herança política e pedagógica permanece essencial.
A produção mais antiga a apresentar é Scarface, o Homem da Cicatriz (1932), com Paul Muni sob a direção de Howard Hawks, por certo um dos momentos mais emblemáticos na história dos gangsters em cinema. Há ainda Brincadeiras Perigosas (1997), de Michael Haneke, autor cuja obra é toda ela um conjunto de variações sobre o(s) desejo(s) de violência, sobrando o momento mais insólito: Cães de Palha (1971), de Sam Peckinpah.
Porquê insólito? Porque, infelizmente, o nome de Peckinpah quase foi rasurado da atualidade cinematográfica - nos canais de televisão, por exemplo, os seus filmes são presença rara. Encenando o sofrimento de um casal (Dustin Hoffman/Susan George) assediado por um bando de malfeitores na sua casa de campo, Cães de Palha talvez não seja um dos melhores filmes de Peckinpah. Não possui, pelo menos, o requinte formal de Os Pistoleiros da Noite (1962) ou A Quadrilha Selvagem (1969). Ainda assim, pode ser uma excelente via de entrada no universo de um dos autores que, ao longo das décadas de 60/70, mais longe levou a releitura crítica do imaginário (bélico) dos EUA - também ele merece um ciclo.
Programação
17 a 29 de janeiro
Hoje
FUNNY GAMES / BRINCADEIRAS PERIGOSAS, Michael Haneke (1997)
Dia 18
RESERVOIR DOGS / CÃES DANADOS, Quentin Tarantino (1992)
Dia 21
DER HAUPTMAN / O CAPITÃO, Robert Schwentke (2017)
Dia 22
SALÓ OU OS 120 DIAS DE SODOMA, Pier Paolo Pasolini (1975)
Dia 24
SCARFACE, O HOMEM DA CICATRIZ, Howard Hawks (1932)
Dia 25
THE TEXAS CHAIN SAW MASSACRE / MASSACRE NO TEXAS, Tobe Hooper (1974
Dia 28
STRAW DOGS / CÃES DE PALHA, Sam Peckinpah (1971)
Dia 29
THE SILENCE OF THE LAMBS / O SILÊNCIO DOS INOCENTES, Jonathan Demme (1991)
Cinema Nimas, às 18.15, bilhetes a 6 euros
Classificação: M/18