Turquia recua e aceita continuação de Assad no poder na Síria
A questão deixou de ser a mudança de regime na Síria, com a Rússia, Irão e Turquia a mostrarem-se em sintonia sobre negociações de paz e um acordo entre a oposição e Assad.
O anúncio foi feito ontem, em Moscovo, no final de um encontro dos ministros de Negócios Estrangeiros dos três países, respetivamente Sergei Lavrov, Mevlüt Çavusoglu e Javad Zarif. O ministro russo declarou que a Rússia, Irão e Turquia estão prontos a funcionarem como Estados garantes de um acordo de paz entre Assad e a oposição.
Antes das declarações de Lavrov e seus congéneres, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, declarara que os ministros iriam analisar aquilo que designou como a "Declaração de Moscovo", base da atuação futura dos três países no conflito, notando que "as tentativas dos EUA e seus aliados" estavam condenadas "ao fracasso. Nenhum deles tem influência sobre a situação no terreno". Sinal da tensão com os EUA, o edifício da embaixada em Ancara foi atacado a tiro na madrugada de ontem, tendo Washington anunciado, o seu encerramento assim como dos consulados em duas outras cidades.
O alinhamento de Ancara com a "Declaração de Moscovo" mostra a falta de alternativas turcas e o desconforto perante o apoio dos EUA às milícias curdas. Revela ainda como a pressão do conflito e a falta de eficácia no terreno das forças apoiadas pela Turquia e, algumas, também pela Arábia Saudita determinaram a alteração de rumo. Uma alteração que indicia a cada vez maior aproximação Ancara-Moscovo, sendo disso prova, como notava um analista da região, Mohammad Bazzi, citado pela Reuters, o facto de a Turquia não ter prestado apoio às forças cercadas em Aleppo. Detalhe significativo desta aproximação a Moscovo e distanciamento face aos EU, Çavusoglu terá comunicado ao seu homólogo John Kerry que Fethullah Gülen, que Ancara tem como responsável do golpe falhado de julho, teria ordenado a morte na segunda-feira do embaixador russo. O que não deixará de acentuar as tensões bilaterais. O que só pode satisfazer a Rússia.
A reunião de Moscovo revela que o conflito sírio entrou numa nova fase, resultado da derrota de Aleppo, a cidade mais populosa da Síria. A oposição controla agora poucas áreas urbanas significativas. Assad está mais forte hoje, apesar de muitas debilidades, do que nos últimos anos. Com o apoio incondicional de Moscovo e Teerão.
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