Quando em março deste ano foi apresentado o novo filme promocional do Turismo Centro de Portugal, na Bolsa de Turismo de Lisboa, Pedro Machado sentiu que aquela seria (mais) uma aposta ganha: "Aquele final, com o McNamara, quando ele diz 'isto não é um jogo, é a vida real'", conquistou o público. A partir daí só podíamos esperar êxitos e prémios", diz ao DN o presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro (reeleito há um ano para um novo mandato, 2018-2023), numa altura em que ainda saboreia a vitória dos números: a 14 de agosto, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou os dados relativos ao mês de junho, e desde então o turismo não para de espalhar a boa-nova: este foi o melhor mês de junho de sempre no centro de Portugal, em que a procura da região cresceu muito acima da média nacional. Enquanto a procura turística do país aumentou 5,6%, o centro atingiu os 11,4%. Mas não é tudo. Pedro Machado não deixa de sublinhar que o Algarve se ficou pelos 3%, e que a região autónoma da Madeira registou uma quebra na procura que a atirou para números negativos.."Isto acontece porque no centro temos tudo aquilo de que o mercado anda à procura", afirma Pedro Machado, referindo-se a essa panóplia que vai desde o património ao turismo religioso, passando pelo turismo de natureza. Ao todo, são cem municípios quem fazem parte da ERT. "Estes números são alavancados pela diversidade, disso não haja dúvidas", acrescenta o responsável, que fala numa "maior qualificação das empresas, e, embora não tenhamos um parque hoteleiro de grandes dimensões, temos alguma oferta de elevadíssima qualidade, e diversificada". Machado refere-se a casos concretos como os de Luz Houses, em Fátima, The Literary Man, em Óbidos, ou ainda o mais recente hotel de Santa Cruz, todos com "serviços diferenciadores", que têm contribuído para um processo de internacionalização do turismo. "Estamos a conseguir chegar a novos mercados, como os Estados Unidos da América ou o Brasil", sustenta Pedro Machado..No total de dormidas, o mês de junho de 2019, em comparação com o mesmo mês de 2018, registou um aumento percentual de 11,4% no centro de Portugal: tinham sido 610 021 em junho de 2018 e foram 679 658 no mesmo mês de 2019, com um acréscimo de mais 69 637 dormidas..A subida foi mais marcante entre os visitantes nacionais, cujas dormidas cresceram 14,8%, para 363 350 - "o que indica que esta região continua a ser uma das preferidas dos portugueses para passar férias ou para uns dias de descanso", sublinha o presidente do Turismo Centro. Mas as dormidas com origem no estrangeiro tiveram também um aumento significativo de 7,8%, para 316 308. Quanto ao número de hóspedes, o centro de Portugal cresceu também na ordem dos dois dígitos: 13,1%. Em junho de 2018, tinham sido contabilizados 353 732 hóspedes na região; em junho de 2019 foram 400 087..O INE centrou-se também nos proveitos da atividade hoteleira, que subiram de 28,9 milhões para 33,1 milhões de euros (mais 14,6%) entre junho de 2018 e junho de 2019. "São mais 4,2 milhões de euros que as unidades hoteleiras do centro de Portugal ganharam no sexto mês do ano", acrescenta Pedro Machado, para quem "estes números positivos confirmam uma tendência clara dos últimos anos: a região centro de Portugal está em franco crescimento ao longo de todo o ano e é a escolha de cada vez mais visitantes, tanto de dentro como de fora do país"..Sol e praia aqui não vendem.Numa região com mais de cem municípios não é difícil imaginar a diversidade do território. Mas há locais que concorrem para esta subida no ranking do turismo nacional. "Há locais que registam subidas mais significativas, como Aveiro, Fátima, toda a região oeste (à conta do golfe), mas também a região de Viseu e Lafões", revela o presidente do Turismo Centro..Os números do INE vieram a público numa altura em que a mesma região se queixa dos números desastrosos do verão. Em 2019, a restauração e alojamento nas praias tem vindo a registar uma diminuição na procura, com os empresários a fazerem contas à vida em toda a costa do litoral. Confrontado com esta dicotomia, Pedro Machado admite que o verão tem sido demasiado agreste nas praias da região: "Nalguns dias de agosto choveu quase torrencialmente." Porém, sem deixar de olhar com atenção para o que serão os números que daí virão, o presidente do Turismo Centro acredita que a região consegue responder com alternativas. "O centro tem esta vantagem competitiva, associada à cultura e ao património, que é apelativa para famílias", enfatiza. "Nunca fomos muito competitivos no produto sol e praia", conclui..A aposta na promoção.Desde 2017 (ano dos incêndios que afetaram a região) que o Turismo Centro desenvolveu uma estratégia de comunicação e marketing bem mais agressiva, sustentada pela promoção e divulgação multimédia. A região conta com um orçamento global anual de 2,4 milhões de euros, um investimento que parece dar frutos. No ano passado, os filmes promocionais foram premiados em 11 festivais internacionais, e neste ano o filme Are You Ready? já conquistou troféus em seis competições internacionais, com destaque para o Festival Internacional de Filme e Vídeo dos Estados Unidos. Entretanto, nos últimos dias soube-se que toda a campanha promocional "Turismo Centro de Portugal - Destino Preferido" é finalista dos prestigiados prémios internacionais de viagens e turismo, que serão atribuídos em novembro, em Londres..Olhar para o turismo inclusivo.Um dos monumentos mais visitados na região centro é o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha. Quando o DN falou com o presidente da câmara, Paulo Batista Santos, por estes dias, a notícia da liderança no todo nacional não tinha chegado ainda àquele município do distrito de Leiria..O autarca social-democrata - entusiasta da delegação de competências e pioneiro em diversas ações de municipalização - fala da importância de "consolidar estratégias na região e no país, no seu todo. É bom termos em atenção que este não é um processo estabilizado, e que é preciso diversificar ainda mais a oferta. Penso que o grande desafio que o Turismo Centro tem pela frente é conseguir chegar ao mercado de turistas com dificuldades de mobilidade, sejam idosos ou portadores de deficiência. É a aposta no turismo inclusivo", afirma..De resto, Paulo Batista Santos acredita que é em momentos como este, em que a região saboreia vitórias, que os municípios devem preparar-se para os inevitáveis recuos. "Um bom exemplo de estabilização de uma marca é a região demarcada do Douro. São exemplos desses que temos de seguir."