Carol Henrique foi a vencedora da competição feminina do Allianz Sintra Pro, quarta etapa da Liga Meo Surf, vencendo na final a surpreendente Mafalda Lopes. Um triunfo que lhe garantiu a Allianz Triple Crown e a liderança do ranking. Apesar de estar mais focada nos objetivos internacionais, continua a "gostar muito" de competir no campeonato nacional..Dê-nos a sua perspectiva do que foi esta etapa da Liga Meo Surf na Praia Grande..Sabia que o campeonato na Praia Grande ia ser difícil; o mar muda muito ali e a adaptação é sempre difícil. Como é relativamente perto da minha casa, em Cascais, fui para lá todos os dias da semana passada para ver as variáveis do mar, com as diversas marés, cheia e vazia. Tive de me adaptar às condições e diria que correu bem [risos]..Foi uma vitória saborosa mas atípica, frente à jovem Mafalda Lopes e não, por exemplo, Teresa Bonvalot ou Camila Kemp, as rivais habituais nestas finais da Liga Meo..Acho que foi uma surpresa para mim e para toda a gente. Mas é normal, pois sabes sempre que não podes entrar nestas baterias a contar com a vitória. Tanto as veteranas como as mais jovens fazem bom surf e podem ganhar a qualquer momento. A competição é muito intensa e obriga-nos a encarar cada heat a 100%..Estas condições de fundo de areia e em especial na Praia Grande, que é conhecida por mudar substancialmente em pouco tempo, são um desafio estratégico e psicológico?.A estratégia e a psicologia são fundamentais porque o campeonato decorre em apenas três dias e é tudo muito intenso. No caso de uma etapa do WQS (Circuito Mundial de Qualificação) tens uma semana, enquanto na Liga Meo é tudo muito mais rápido e tens de preparar muito bem. Por exemplo, estive a competir no México recentemente e sabia que ia ter água quente e muito desgaste físico, enquanto aqui é água fria..A vitória na Liga Meo não é o objetivo principal da Carol Henrique nesta temporada, mas começa a parecer demasiado bom para recusar....Tenho objetivos internacionais, mas gosto muito da Liga Meo. Competir aqui permite-me estar com a família e, sobretudo, com o meu treinador, o que nem sempre é possível no QS, por questões financeiras. Fundamentalmente, é confortável competir na Liga Meo e vencer é ainda mais saboroso..A Carol compete sem patrocinador principal neste ano. Os patrocínios continuam a ser um problema?.Penso que é uma coisa que todos os surfistas procuram, ter um patrocinador principal, para poder ir a todas as etapas. Não o ter obriga a fazer um planeamento rigoroso da temporada. Mas, sem falsas modéstias, não sei porque não recebo melhores propostas de patrocínio, propostas condizentes com os meus resultados..E quais pensa serem as razões para não conseguir ter um patrocinador principal?.As pessoas dizem que há crise, que as empresas têm diminuído os apoios aos surfistas. Creio que é uma fase que estamos a atravessar e espero que passe. Se não houver investimento, não haverá mais mulheres no WQS. Hoje sou muito apoiada pelos meus pais e é claro que as vitórias na Liga Meo também ajudam, pelo prémio monetário. Tudo o que ganho invisto no surf porque é a minha paixão. E é difícil não ter condições, não ter a melhor estrutura como as americanas ou australianas têm... mas se fosse fácil não seria tão saboroso..Essa força e essa raça, sem querer generalizar, são algo de muito brasileiro. No surf e noutros desportos não é?.No meu caso particular, é uma coisa que nasce muito do apoio dos meus pais e da fé que têm em mim. Enquanto puder vou continuar, porque não quero chegar a um ponto da minha vida e dizer que desisti quando encarei os primeiros obstáculos..Como está a ser a temporada da Carol Henrique por cá e internacionalmente?.No início da temporada disse que queria vencer uma etapa do WQS. Duas semanas depois, consegui vencer o Zarautz Pro [País Basco espanhol] e isso deu-me muita confiança. Conseguir realizar os nossos projetos dá muita motivação e faz pensar que até a entrada no World Tour (principal divisão do surf mundial) é possível..O facto de ter vencido etapa do QS tão cedo na temporada foi um anticlímax?.É engraçado porque quando venci foi muito natural. Foi em Espanha, uma etapa complicada, com quase todas as principais surfistas europeias, pelo que fui encarando as baterias uma a uma e só no final, na areia, é que caí em mim e percebi que tinha vencido. Pensamos sempre que se ganharmos vão cair purpurinas do céu, mas afinal,foi só isso [risos]. Mas, claro, a vitória é sempre boa para um atleta porque nos faz apontar para outros alvos. Mesmo se entrasse no CT, o que é um sonho, teria de pensar noutros voos ainda mais altos.