Trump receia ser apanhado na "armadilha do perjúrio" se testemunhar diante de Mueller
"Portanto, se eu disser uma coisa e ele [o ex-diretor do FBI James Comey] disser outra, é a minha palavra contra a dele. E ele é amigo do [procurador especial Robert] Mueller. Por isso Mueller pode dizer: 'Bem, acredito em Comey' e mesmo que eu esteja a dizer a verdade, isso faz de mim um mentiroso. Não é bom", afirmou Donald Trump numa entrevista à agência Reuters.
O presidente dos EUA confessa estar preocupado com o que descreve como a "ratoeira do perjúrio", caso aceite testemunhar diante de Robert Mueller no âmbito da investigação à alegada ingerência russa nas presidenciais de 2016.
Apesar destes receios, Trump não confirmou nem desmentiu a intenção de testemunhar diante de Mueller. O procurador especial está a investigar se alguns membros da equipa de Trump trabalharam com os russos para manipular os resultados das presidenciais e se o presidente fez obstrução à justiça para os tentar encobrir.
O presidente recusou ainda dizer se está a pensar retirar a Mueller o acesso a informações secretas, como fez na semana passada ao antigo diretor da CIA John Brennan, depois de este ter repetido críticas às suas políticas externa e interna. "Não pensei muito nisso", admitiu. Mas admitiu que poderia assumir ele a investigação, caso assim o decidisse, mas que preferiu ficar de fora do assunto.
"Posso chegar lá e fazer o que eu quiser - posso assumir aquilo se quiser. Mas decidi ficar de fora".
O presidente tem criticado fortemente o procurador-geral (o equivalente a ministro da Justiça nos EUA), Jeff Sessions, por ter pedido escusa da investigação. Na entrevista à Reuters, Trump acusou o inquérito de Mueller de estar a minar os seus esforços de aproximação à Rússia e de causar divisões entre os americanos. Repetiu várias vezes que a investigação é "uma desgraça" e acusou Mueller e os seus colaboradores de serem enviesados.
Até agora, a Rússia tem negado de forma veemente qualquer interferência nas presidenciais que ditaram a vitória do republicano Trump sobre a democrata Hillary Clinton.
A ideia de uma "ratoeira do perjúrio" não é nova nestas declarações de Trump. O presidente está a repetir um conceito que o seu advogado, o ex-presidente da Câmara de Nova Iorque Rudy Giuliani, já referira. Numa entrevista na NBC no domingo, Giuliani garantiu que não tem pressa em levar Trump a testemunhar "para ele ser apanhado a cometer perjúrio". E acrescentou: "Quando me dizem que ele devia testemunhar porque vai dizer a verdade e não tem de se preocupar, é uma tontice. É uma versão da verdade. Não a verdade".
O comentário de Giuliani de que "a verdade não é a verdade" gerou uma onda de reações nos media, muitas delas irónicas. O próprio apresentador da NBC, Chuck Todd, leva as mãos à cabeça e contrapõe: "A verdade é a verdade". E Giuliani responde - "A verdade não é a verdade". E novamente o jornalista: "isto vai dar um mau meme".
Robert Mueller foi nomeado procurador especial para investigar se a equipa de campanha do presidente Trump trabalhou com a Rússia para influenciar o resultado das presidenciais.
Em 2016, os serviços secretos americanos concluíram que a Rússia recorreu a uma campanha de ciberataques e colocação de notícias falsas nas redes sociais - tudo isto com autorização estatal - para influenciar o resultado das presidenciais americanas e garantir a derrota de Hillary Clinton.
Desde então, 32 pessoas foram indiciadas no âmbito da investigação, incluindo quatro membros da equipa de campanha de Trump e 25 russos.
Paul Manafort, o antigo diretor de campanha de Trump, foi a primeira pessoa a ser julgada em consequência da investigação de Mueller. Mesmo se as acusações que pesam sobre ele não estão ligadas às eleições, mas sim a evasão fiscal e lavagem de dinheiro - crimes que terá praticado enquanto consultor político na Ucrânia.