Trump oferecia perdão a Assange se ele negasse "pirataria" da Rússia

Segundo a advogada do fundador do Wikileaks, a condição de Trump era que Assange viesse a público negar o envolvimento da Rússia na divulgação dos emails do Partido Democrata, em 2016, quando Hillary Clinton disputava as presidenciais com Trump.
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O presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu um perdão ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, na condição de Assange negar que a Rússia tenha alguma ligação à divulgação de emails da campanha da rival Hillary Clinton nas eleições de 2016, informou um tribunal de Londres esta quarta-feira, segundo a AFP. A contrapartida não era muito exigente: mesmo antes de ser detido, Assange sempre negou que a Rússia tivesse ligação à revelação dos emails pelo Wikileaks.

A advogada de Assange, Jennifer Robinson, disse que Trump transmitiu a oferta através do ex-congressista dos EUA Dana Rohrabacher. A revelação ocorreu numa audiência no Tribunal de Magistrados de Westminster, antes do início formal, segunda-feira, do pedido de extradição de Washington para que Assange enfrente acusações de espionagem. Se for considerado culpado nos Estados Unidos, pode apanhar uma pena de prisão até 175 anos.

A defesa do australiano citou uma declaração de Robinson, na qual esta disse que Rohrabacher tinha ido ver Assange e disse que "por instruções do presidente, estava a oferecer um perdão ou alguma outra saída, se o Sr. Assange dissesse que a Rússia não tinha nada a ver" com a divulgação dos emails.

A juíza Vanessa Baraitser disse que estas provas são admissíveis. Robinson não respondeu às solicitações por email e telefone da AFP para comentar.

O alegado pedido de Trump ao fundador da Wikileaks até vai de encontro ao que Julian Assange sempre disse relativamente à Rússia e os emails. "A nossa fonte não é o governo russo. Não é nenhum estado", garantiu Assange em 2016, por mais do que uma ocasião.

As agências de segurança dos EUA concluíram que a Rússia invadiu os servidores de computador do Comité Nacional Democrata (DNC) durante a campanha de Trump contra a rival democrata Hillary Clinton. Mais tarde, o WikiLeaks publicou os emails, que se mostraram politicamente prejudiciais para Clinton, antes da votação de novembro de 2016.

O cidadão australiano Assange, 48 anos, enfrenta 18 acusações nos EUA, 17 delas sob a Lei de Espionagem. Nenhuma delas está relacionada com a "pirataria" do DNC e dizem respeito à publicação de mensagens diplomáticas e de defesa do WikiLeaks sobre campanhas dos EUA no Afeganistão e no Iraque.

Trump minimizou o envolvimento da Rússia no caso do DNC, e até se colocou ao lado do presidente russo Vladimir Putin sobre a avaliação da sua própria agência de segurança sobre o que aconteceu. "Tenho grande confiança no pessoal do serviços secretos, mas digo que o presidente Putin foi extremamente forte e poderoso na sua negação dos factos", disse Trump durante uma conferência conjunta de imprensa com Putin, em julho de 2018 em Helsinquia.

A audiência de extradição está agendada para começar em Woolwich Crown Court, que fica ao lado da prisão de alta segurança de Belmarsh, onde Assange está detido. A audiência deve durar toda a semana, antes de ser suspensa por três meses, para ser retomada em 18 de maio.

Assange apareceu nesta audiência via video-conferência, vestindo calças de treino escuras e uma sweat-shirt por cima de uma camisa branca. Apenas falou para confirmar o nome e data de nascimento. Sentou-se e segurou uma resma de papéis durante toda a audiência.

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