Trump avisa Kim Jong-un, mas elogia norte-coreanos
À chegada ao Japão, na base aérea de Yokota, foi dado o tom: "Nenhum ditador, nenhum regime, nenhuma nação deve subestimar a determinação americana." O aviso de Donald Trump, vestido com blusão de aviador, tinha um claro destinatário, a Coreia do Norte. Alheia a sanções, a ditadura de Kim Jong-un tem desenvolvido a sua política militarista que inclui testes nucleares e de mísseis de longo alcance, além de uma retórica apocalíptica para com os países vizinhos e os Estados Unidos.
Apesar do aviso, e de anteriores mais belicosos, em que ameaçou "destruir totalmente" a Coreia do Norte, Trump elogiou o "grande povo" norte-coreano, que apelidou de "trabalhador" e de "mais caloroso do que o mundo pensa".
O presidente norte-americano começou neste domingo a viagem asiática - que se prolonga pela Coreia do Sul, China, Vietname e Filipinas - junto do seu maior aliado na região (senão mesmo no mundo), o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. Já se encontraram oito vezes e falaram ao telefone mais de uma dúzia de ocasiões. Entre refeições e partidas de golfe, a estratégia de combate ao regime de Pyongyang e as relações comerciais são os temas em cima da mesa. Trump defende alterações aos acordos que sejam mais favoráveis ao seu país.
A próxima paragem da viagem de 12 dias à Ásia, a maior de um presidente norte-americano desde George Bush, é a Coreia do Sul, que se inicia na terça-feira. Após 48 horas no Japão, Trump passará metade do tempo no país rival. Essa diferença está a ser vista nalguns setores coreanos como uma desconsideração para com o país. A Coreia do Sul "perdeu a face" e a visita não serve "um país digno", insurgiu-se Ahn Cheol-soo, candidato presidencial derrotado nas eleições de maio. Ainda assim, será a primeira visita de Estado de um presidente norte-americano em 25 anos.
Antes de rumar ao país do sol nascente, o avião presidencial aterrou no Havai. A visita de Trump ao 50.º estado norte-americano centrou-se em locais históricos e militares, como o memorial USS Arizona em Pearl Harbor ou o quartel-general da região Ásia-Pacífico (além de uma paragem num hotel com o seu nome). Aproveitou também para se reunir com os governadores do Havai, Guam, Samoa Americana, Marianas do Norte e Alasca. O representante deste último estado, Bill Walker, anunciou que iria juntar-se ao presidente em Pequim para discutirem o projeto de um gasoduto com investidores asiáticos.
No estado em que é menos popular - obteve apenas 30% dos votos nas eleições presidenciais -, não foi uma surpresa que as maiores multidões registadas foram contra a a visita. O maior grupo reuniu-se em frente ao Capitólio, com cânticos contra o travel ban, a proibição da entrada de estrangeiros de alguns países - que um juiz federal de Honolulu anulou pela terceira vez no mês passado - e com cartazes apropriados à ocasião. Uns ridiculizaram a falsa alegação de Trump de que o ex-presidente Obama não nasceu no Havai ("Bem-vindo ao Quénia"), outros davam lições da cultura local ("Aloha também significa adeus") ou de análise política ("Tão mau que faz com que Bush pareça bom").