Trocar uma prenda e ficar com duas. Eis o truque da época de saldos
À agitação de desembrulhar os presentes na noite da consoada, segue-se a azáfama de trocar aqueles que não servem ou de que não se gosta. Por isso, logo no dia a seguir ao Natal as lojas enchem-se de clientes que querem trocar alguns dos presentes que receberam. E até há quem, apesar de ter gostado, aproveite os saldos "para trocar uma peça por duas ou três, porque agora as coisas estão mais baratas", conta Catarina Marques, que além de estar a tentar fazer trocas também trabalha numa loja de roupa no Chiado.
Mas como as trocas não são um direito dos consumidores e a seguir a esta quadra seguem-se os saldos há alguns cuidados a ter quando se tenta substituir um produto deixado no sapatinho. Ana Martins, jurista da Deco - Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, sublinha dois aspetos centrais a ter em conta: os prazos para as trocas e se o produto tem defeito.
Trocar por simpatia
"Em primeiro lugar é preciso saber que as trocas são uma cortesia comercial enraizada em Portugal, mas as marcas não são obrigadas a trocar um produto comprado", diz a especialista da Deco. Depois, no momento da compra, para evitar problemas mais tarde, "é importante perceber as condições em que a loja faz uma troca ou se aceita a devolução do produto. Se é preciso talão original, em quanto tempo se pode fazer essa troca, se a peça tem etiqueta no momento da compra e se ela é precisa para a troca".
As trocas ou devoluções só são obrigatórias no caso de comprar alguma coisa com defeito, para o qual não tenha sido alertado. Por isso, especialmente se estiver a oferecer alguma coisa, verifique com calma as condições do produto, aconselha Ana Martins. Em caso de devolução do valor do produto, atenção que as marcas podem decidir a forma como o fazem: dando o dinheiro ou repondo o montante na conta (no caso de compras pagas com multibanco). Há ainda a ter em conta que durante os saldos há maior tendência para que os produtos e alguns números esgotem, por isso, não deixe passar muito tempo para fazer as trocas.
Entre as centenas de pessoas que enchem as ruas da zona da Baixa e do Chiado, em Lisboa, a única queixa é em relação às longas filas. Um obstáculo que levou Joana Bastos a ir "trocando aos poucos" os presentes de Natal. "Troquei só algumas roupas que deram à milha filha bebé e só troquei porque não lhe servia. Porque há muitas filas nas lojas", explica. Em frente aos Armazéns do Chiado, Catarina Marques também ia tentar trocar uma peça de roupa "mas estava muita gente na fila e não consegui". Para trocar só tem "roupa que não me serve ou não é o meu estilo", explica a jovem de 20 anos.
Mais pessoas na rua
Além da sua experiência como alguém que quer trocar presentes, Catarina também conta o que vê ao longo do dia na loja em que trabalha. "Há muito mais gente a trocar coisas este ano. Mesmo que gostem do presente nota-se que algumas pessoas só estão a fazer trocas para ficarem com duas peças em vez de uma e que esperaram pelo início dos saldos para fazer as trocas dos presentes."
Como esta época é de saldos, Ana Martins, da Deco, recomenda que se mantenha um olhar atento aos preços. "Se comprou um produto com um preço e agora custa metade, a troca deve ser feita pelo valor original." Nestes casos, se trocar apenas o tamanho da peça, a marca "pode entregar o restante valor num vale para gastar na loja ou então permitir que se troque por mais coisas até atingir o valor".
Além disso, as lojas são obrigadas a ter marcado na etiqueta o valor original dos produtos e o preço com saldo, alerta a jurista da Deco. Acrescentando que os consumidores devem estar atentos, já que há casos em que os preços são inflacionados para dar a ideia de um desconto maior agora na época de saldos.
Outro ponto a ter em conta é o facto de nem todas as lojas estarem em saldo. "Desde o início do ano o período de saldos foi liberalizado e as lojas podem lançá-los quando quiserem", recorda Ana Martins. Ainda assim, serão uma minoria as lojas que nesta fase não apresentam descontos na montra.