Troca de acusações e alertas continuam mas Zaporíjia não é Chernobil
Enquanto Rússia e Ucrânia continuam a acusar-se mutuamente de estarem a atacar Zaporíjia, o secretário-geral da ONU veio esta segunda-feira alertar que qualquer ataque contra a maior central nuclear da Europa seria "suicida". E se, como avança a agência RIA Novosti, Moscovo estará disposta a permitir uma visita dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) às instalações que ocupou logo no início da invasão da Ucrânia, mas continuam a ser operadas por técnicos ucranianos, pode ser um sinal positivo, a Europa treme diante do perigo de um acidente nuclear. Mas felizmente os peritos garantem: Zaporíjia não é Chernobil.
Se dúvidas houvesse sobre os receios europeus em relação a um possível acidente na central de Zaporíjia, basta ver o alerta lançado pelo ministro da Saúde romeno. Este apelou à população com menos de 40 anos para se abastecerem "o mais rapidamente possível" com comprimidos de iodo. Com a central ucraniana a ficar a apenas 700 km da fronteira com a Roménia, o Ministério da Saúde divulgou a lista de 2.500 farmácias onde as pessoas com menos de 40 anos - as mais expostas ao desenvolvimento de cancro e lesões da tiróide devido à radiação - podem obter os comprimidos gratuitamente. Estes comprimidos servem para prevenir a absorção de iodo radioativo, ajudando a eliminar esta substância e reduzir o risco de cancro da tiróide.
O Governo romeno armazenou 30 milhões de comprimidos de iodo para a sua população, temendo o risco de uma catástrofe nuclear na Ucrânia.
Perante os receios de um novo desastre nuclear, mais de 36 anos depois da explosão no reator 4 da central de Chernobil, também na Ucrânia, os peritos vêm garantir que o cenário agora é bem diferente. Ao contrário de Chernobil, os seis reatores de Zaporíjia funcionam a água pressurizada e têm estruturas de contenção para evitar qualquer radiação. "Chernobil não tinha qualquer estrutura de contenção", explicou à Bloomberg Dale Klein, ex-presidente da Comissão de Regulação Nuclear dos Estados Unidos e professor na Universidade do Texas.
Ao contrário, por exemplo, da central de Fukushima, no Japão, palco de um acidente nuclear em 2011, o pior desde Chernobil, os reatores de Zaporíjia têm circuitos de água separados para o arrefecimento e para produzir vapor. Segundo Tony Irwin, perito em energia nuclear e professor na Universidade Nacional da Austrália, a central ucraniana tem ainda sistemas de arrefecimento de emergência para o núcleo e múltiplos sistemas de injeção para evitar que o núcleo derreta.
Após vários ataques à central de Zaporíjia na sexta-feira, Moscovo e Kiev acusaram-se mutuamente de comprometerem a segurança da instalação. A operadora de centrais nucleares ucraniana Energoatom acusou esta segunda-feira as tropas russas de terem colocado minas na central como forma de chantagem. A empresa ucraniana disse na rede social Telegram que a eventual explosão da central é uma tentativa das tropas russas de alertar contra as consequências de uma recuperação pelo exército ucraniano de territórios invadidos pela Rússia.
Numa mensagem vídeo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, garantiu que as forças russas "criaram outra situação extremamente perigosa para toda a Europa". "Qualquer bombardeamento desta instalação é um crime aberto e flagrante, um ato de terror", afirmou Zelensky, insistindo no pedido para que a comunidade internacional considere a Rússia como um Estado patrocinador do terrorismo.
A Rússia, por seu lado, contestou estas declarações e acusou Kiev de promover o "terrorismo nuclear". "Os ataques da Ucrânia a instalações nucleares podem ser qualificados ao abrigo do direito internacional como atos de terrorismo nuclear", escreveu o senador russo Konstantin Kosachev também no Telegram.
Com agências