Triângulo

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Na edição de aniversário do DN, publicada quase a fechar 2022, uma entrevista de antevisão com o ministro português dos Negócios Estrangeiros teve como título "Relação com a América Latina pode vir a ganhar relevo especial no ano que agora começa". Ora, comecemos por sublinhar que nunca a diplomacia portuguesa deixou de dar especial atenção à América Latina, sendo o objetivo de João Gomes Cravinho provavelmente enfatizar as vantagens para Portugal das fortes possibilidades de serem finalizados alguns acordos entre essa região e a União Europeia ainda em 2023, nomeadamente com o Mercosul. E são várias as entidades em Portugal que fazem questão, cada qual na sua vertente, de manter estreita a relação com os países latino-americanos, como são os casos da Casa da América Latina (com grande foco cultural, mas sem esquecer a vertente económica, como mostra a recente visita organizada de embaixadores ao Porto de Sines) e do Instituto Português para a Promoção da América Latina e Caraíbas, mais conhecido pela sigla IPDAL.

Das várias atividades do IPDAL, creio merecer destaque o chamado Encontro Triângulo Estratégico, que se realiza hoje e amanhã e visa promover uma aproximação entre Portugal, a América Latina e Caraíbas e ainda África. Se pensarmos como a lusofonia está presente em todos os vértices do triângulo, ao ponto de o português ser a língua mais falada no Hemisfério Sul, percebemos como nem tudo se esgota na cooperação entre a América Latina e a UE e que Portugal, como Estado, tem alguns trunfos a jogar em termos de relações internacionais, um dos legados da sua história de expansão marítima.

Nesta 12.ª edição do Encontro Triângulo Estratégico, são muitos os oradores de peso, com destaque para Luis Almagro (secretário-geral da Organização de Estados Americanos), Andrés Allamand (secretário-geral da Ibero-América), Marie Laure Akin-Olugbade (vice-presidente do Banco Africano de Desenvolvimento) ou Sergio Díaz Granados (presidente do Banco de Desenvolvimento Latino-Americano). Mas no campus lisboeta da Universidade Europeia serão muitas mais as vozes a escutar sobre pistas para que o triângulo proposto pelo IPDAL em debate se torne cada vez mais real e não permaneça apenas um ideal.

Há cerca de um ano, quando foi reeleito para a presidência do IPDAL, Paulo Neves afirmou que os governos portugueses, seja qual for a cor política, têm sempre procurado olhar para a América Latina sem se deixarem monopolizar pelo Brasil, apesar da natural atração por um gigante económico que partilha connosco a língua. E que o papel do IPDAL é ajudar: "Naturalmente que o Brasil tem uma dimensão e uma importância que quase abafa os outros 19 países latinos do continente americano. Mas Portugal já descobriu outros países da América Latina, onde, aliás, temos tido sucessos. A Colômbia é um exemplo flagrante onde temos grandes investimentos. Mas também o Chile, o Peru, o México. Curiosamente, existem outros países onde empresas portuguesas têm encontrado nichos de mercado. Costumamos dizer no IPDAL que existem boas oportunidades em todos os 20 países da América Latina, incluindo o Haiti. É preciso é conhecer. E é exatamente o principal trabalho do IPDAL. Dar a conhecer, em Portugal, a realidade e as oportunidades dos países latino-americanos. De todos."

Amanhã, na sessão de fecho, está prevista a presença de Gomes Cravinho. No fundo, o ministro a ser coerente com o que disse ao DN a 29 de dezembro. A América Latina merece relevo especial quando vista de Portugal, e também África. É, de facto, um interessante triângulo.

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