Três semanas na estrada e uma grande diferença: a política de alianças

Esclarecidos os calendários internos, Rui Rio e Paulo Rangel partem agora para a campanha. A política de alianças é o maior fator de contraste. E resume-se assim: Rui Rio admite tudo e Paulo Rangel não admite nada. Dia 27 se verá quem o PSD prefere.
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Ao fim de mais de oito horas de reunião, sábado, em Aveiro, o Conselho Nacional (CN) do PSD - reunido de forma presencial - deliberou as novas datas para o processo eleitoral interno desencadeado pela direção do partido após as autárquicas. As eleições diretas do líder serão a 27 de novembro (estavam marcadas para 4 de dezembro); e o congresso a seguir será convocado para de 17 a 19 de dezembro (esteve marcado de 14 a 16 de janeiro de 2022). Próximo do Natal, portanto, o partido terá novos órgãos nacionais eleitos, estando assim em condições de aprovar as listas de candidatos a deputados.

As decisões do CN representaram, em toda a linha, uma vitória de Paulo Rangel. Os seus apoiantes derrotaram também a proposta de Alberto João Jardim para atirar todo o processo eleitoral interno para depois das legislativas. E ainda a proposta com que Rui Rio surpreendeu os conselheiros nacionais ao abrir, ontem, os trabalhos: que o universo eleitoral de votantes admissíveis nas eleições diretas do presidente do partido fosse aberto a militantes sem as quotas em dia.

A proposta foi chumbada. E Rio tirou as suas conclusões: "O Conselho Nacional teve medo, os apoiantes de Paulo Rangel tiveram medo que os cadernos eleitorais fossem abertos aos militantes todos. Afinal quem tem medo que votem todos é quem dizia que eu tenha medo". Chumbada a proposta, ficou a certeza: quem quiser pagar as quotas em atraso para poder votar terá de o fazer até 17 de novembro - portanto, dez dias antes das eleições. Os cadernos eleitorais serão consolidados a partir desse dia.

A campanha já estava na estrada mas agora definitivamente acelera. Rangel e Rio têm três semanas para mostrarem o que valem, fazendo a volta às bases em sessões de esclarecimentos. E depois o que vencer terá de fazer nova volta ao país, na campanha para as eleições legislativas que o Presidente da República marcou para 30 de janeiro.

Do que se percebe dos programas de ambos, há uma diferença central nos respetivos discursos: a política de alianças. E a política de alianças tanto no que se refere a entendimentos com o CDS-PP como com o PS. E até o Chega merece de ambos entendimentos que não são inteiramente coincidentes: Rangel diz que é um "limite intransponível"; Rio admite conversas com Ventura mas exigindo antes que o partido se "modere" - o que não tem acontecido, muito pelo contrário.

Neste capítulo, da política de alianças, o contraste entre Rio e Rangel sintetiza-se de forma simples: Rio admite tudo; e Rangel não admite nada.

O admite tudo de Rio inclui a possibilidade de uma aliança pré-eleitoral no CDS-PP. Em rigor, o presidente do PSD nunca descartou esse cenário. Há dias chegou a estar anunciada uma reunião conjunta de Rio com o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues, e o objetivo seria anunciar a possibilidade de entendimentos. A reunião foi cancelada à última hora, devido à situação incendiária que se vive dentro do CDS-PP. Nenhuma coligação pré eleitoral poderia ser anunciada com Francisco Rodrigues dos Santos a ser diretamente desafiado na liderança do partido por Nuno Melo.

A forma como a direção centrista manobrou de forma a atirar o congresso do partido - que chegou a estar marcado para 27 e 28 de novembro - para depois das legislativas, tornou no entanto a atual direção do CDS-PP infrequentável para a atual direção do PSD. O élan coligatório mantido entre os dois partidos nas autárquicas - e que incluiu a vitória em Lisboa - perdeu-se nas guerras internas. Perdeu-se o tempo para um entendimento pré-eleitoral. Mas na cabeça de Rio essa possibilidade existiu. E os contactos foram feitos. Há dias, Rui Rio admitiu estar "dividido" em relação a este cenário.

Ora tal hipótese é rejeitada - e sempre foi - por Paulo Rangel. No sábado à noite, depois da reunião do Conselho Nacional, reafirmou uma "posição de princípio" contra entendimentos pré-eleitorais com o CDS. Admite, é claro, que o assunto pode ser conversado mas acrescenta que quanto a isso é melhor "não alimentar grandes expectativas".

Quanto ao PS, a posição é mais contrastada. Rangel apresentou-se como candidato a líder fazendo da recusa categórica de entendimentos com o PS a sua principal bandeira. "Há pessoas que gostariam de ser vice-primeiros-ministros, eu quero ser primeiro-ministro", disse, numa entrevista à SIC. Portanto, à partida recusa governar tanto com o PS como com o Chega.

Também neste aspeto Rio é mais flexível. "Não descarto a hipótese de dialogar com todos", disse, quando questionado há dias sobre a hipótese de entendimentos com os socialistas. "Os partidos não podem ser assim tão radicais, não devemos fechar as portas todas" e isso pode ter de ser necessário em nome do "interesse nacional."

No final, a realidade ditará os seus termos. Há dias, na mensagem onde anunciou eleições antecipadas, o Presidente da República recordou que no seu tempo como líder do PSD viabilizou três orçamentos do Estado apresentados por um governo minoritário do PS (chefiado por Guterres). Tudo aponta que o próximo governo, seja PS ou PSD, volte a ser minoritário.

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