TPI absolve congolês após três anos de julgamento

Mathieu Ngudjolo Chui, antigo líder do Movimento Revolucionário Congolês, acusado de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, foi hoje absolvido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), depois de três anos de julgamento em Haia, Holanda.
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Ngudjolo Chui foi preso em fevereiro de 2008 na cidade de Kinshasa e transferido posteriormente para o TPI, onde o procurador o acusou de crimes de guerra e crimes contra a humanidade por um massacre de aldeões cometido em 2003, no distrito de Ituri, quando Ngudjolo Chui era ainda líder da Frente Nacional Integracionista (FNI). Cerca de 200 cidadãos morreram na altura, informa a AFP.

Ngudjolo Chui negou ter ordenado os vários ataques e afirmou só ter tido conhecimento dos mesmos vários dias depois. Devido à falta de provas concretas em relação à sua responsabilidade direta nos massacres, o juiz Bruno Cotte afirmou que a acusação "não provou que Mathiey Ngudjolo Chui foi responsável" pelos crimes", e absolveu o antigo líder do MRC. O juiz acrescentou ainda que a decisão foi unânime e que os testemunhos da acusação tinham sido muito "contraditórios", diz o site da BBC.

O tribunal considerou que, apesar de Chui ser na altura o líder do FNI, isso não significava que o próprio tivesse conduzido os crimes. O juiz ordenou a libertação imediata de Ngudjolo, decisão que chocou a ONG 'Human Rights Watch', que afirmou que este veredito "deixa as vítimas de Bogoro e dos outros massacres conduzidos por eles sem qualquer justiça pelo seu sofrimento". Em dez anos de existência é a primeira vez que o TPI concede absolvição, diz a BBC.

Nascido a 8 de outubro de 1970, em Bunia, capital de Ituri, no seio de uma família modesta, Mathieu Ngudjolo Chui rapidamente abraçou a carreira militar e acabou por se tornar cabo nas Forças Armadas Zairenses (FAZ), do ex-ditador Mobutu Sese Seko. Posteriormente, quando a guerra começou, em 1996, ele abandonou o FAZ e, mais tarde, fez uma formação em enfermagem em Bunia, informa a AFP.

Depois de ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato, em 2002, conduzida por membros do PCP (União de Patriotas Congoleses), Ngudjolo assumiu o controlo de Bunia e juntou um grupo de combatentes de etnia lendu.

A sua formação militar e o seu carisma fizeram com que rapidamente se tornasse um dos principais comandantes do FNI. Em 2003 liderou os combatentes em vários massacres, incluindo o de Bogoro, Tchomia, Mandro e Bunia, de acordo com informações da ONG internacional 'Human Rights Watch'.

Nos ataques "usou crianças soldado e assassinou mais de 200 civis em apenas algumas horas. Violaram mulheres, crianças e idosas, saquearam as vilas, e transformaram mulheres em escravas sexuais", afirmou o ex-procurador do TPI, Luis Moreno Campos, na abertura do processo há três anos.

Em 2003 Mathieu Ngudjolo Chui foi preso pela ONU depois de assassinar um motorista de táxi em Bunia, no entanto, por falta de provas foi, em 2004, libertado. Depois de ficar fora do radar durante meses, reapareceu em Uganda e criou o Movimento Revolucionário Congolês, que se encarregou de semear o terror na região Ituri, informa a AFP.

Agora está novamente livre, depois de acusação ter perdido o processo.

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