Torel e Belém. Este ano não há praias no meio de Lisboa

O lago que fez sucesso na Freguesia de Santo António nos anteriores não abre em 2016 devido a obras. A Belém Beach só tem o nome e perdeu quase metade dos comerciantes
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Este verão os lisboetas não têm onde ir a banhos no centro da cidade. No Jardim do Torel, que em 2014 e 2015 recebeu milhares de pessoas durante o mês de Agosto, a experiência não se vai repetir. E no outro espaço da cidade que se intitula de praia - a "Belém Beach" - há pormenores a considerar: não tem nem água, nem areia.

Na freguesia de Santo António, o espaço que nos últimos anos deu lugar à praia do Torel tem, logo abaixo, uma escola básica. É este equipamento que vai entrar em obras. O projeto "foi suspenso pela necessidade de fazer obras na escola, que só podem ser feitas em Agosto para não prejudicar o ano letivo", explicou Vasco Morgado, presidente da Junta de Freguesia de Santo António. "Por questões de segurança não podíamos ter obras em simultâneo com aquele número de pessoas, com picos de afluência até a meio da semana", acrescenta o autarca. Vasco Morgado garante que a praia urbana "no próximo ano, volta de certeza" ao Jardim do Torel. E com melhores condições: "Teremos o mobiliário urbano renovado e o piso melhorado." Quanto à restante área, não será particularmente afetada pelas obras - a parte superior estará "operacional" e a esplanada continuará aberta.

Aproveitando o lago que há no recinto do jardim (com uma profundidade entre os 90 centímetros e 1, 50 metros), a que se juntaram 400 metros quadrados de areia, a Praia do Torel fez sucesso nos últimos verões. Em 2014, recebeu 80 mil banhistas em agosto. No ano passado 60 mil pessoas foram a banhos naquele espaço.

Belém... quê?

Ir a banhos é algo impossível na "Belém Beach". Quem passa na Avenida da Índia vê uma tarjeta azul a anunciar a "Praia", mas terá dificuldades em descortinar o espaço a que se refere o cartaz - atrás dele, o Terreiro das Missas está transformado num espaço de metros e metros de calçada esburacada, quando não clareiras de terra batida. É preciso chegar à beira tejo para divisar as rulotes de comidas/bebidas, em número já longe das 16 que estrearam o espaço no início do mês (a meio da tarde de sexta-feira estavam cinco). Um estrado quadrado, com uma pequena esplanada ao centro.

Os comerciantes que se mantém no espaço - o Terreiro das Missas, perto da estação fluvial de Belém - queixam-se que a Junta de Freguesia pouco fez pelo espaço e ficou longe do prometido. O "Bucha", uma rulote que vende sandes de carne de porco "cozinhada em tacho de ferro" e sandes de peixe espada preto frito , deixou o espaço na sexta-feira. "Vamos sair porque isto não foi o que era suposto ser", diz Marta Gregório. Os comerciantes alegam que a junta falou num projeto que incluía pontos de água e areia, mas isto nunca se concretizou. Também "não houve publicidade", acrescenta Marta.

Terminado o primeiro mês da Belém Beach a plataforma de madeira colocada pela junta de freguesia, à volta da qual se distribuíam as rulotes com diferentes conceitos de street food, só está ocupada a metade. Manuel Gonzalez Rey instalou-se em Belém com a sua "Reysbife". "Éramos 16 conceitos. Na primeira semana de julho saíram quatro, na segunda mais quatro", diz ao DN. Porquê? "Porque isto foi um flop. Não se fatura nada do que se estava à espera". Ao lado, Rafael Simões, que vende hambúrgueres artesanais e empanadas na Mr. Pig & Go, diz que o projeto - que "começa mal logo pelo nome" - merecia um investimento maior. "O espaço está mal aproveitado", acrescenta. Na I Love Cook, que aposta nos sumos naturais, Marta Santos também diz que foi colocada muita expectativa no espaço, que acabou por não corresponder. "Vamos ver como corre agora", acrescenta. Numa coisa todos concordam: com o Tejo ali a dois passos, a vista é muito agradável. Mas a meio da tarde de sexta-feira a Belém Beach tem duas pessoas sentadas na esplanada e as espreguiçadeiras estão vazias.

"Local que não estabilizou"

O presidente da Junta de Freguesia de Belém, Fernando Ribeiro Rosa, tem uma versão diferente. Resume assim a saída dos comerciantes: "Havia muita gente que não queria pagar taxas." E diz que "acabou a brincadeira": "Esta segunda-feira vamos fazer um ponto da situação. Quem não pagar as taxas, sai."

O autarca diz que o Terreiro das Missas "é um local de lazer que não estabilizou ainda" e acrescenta que a Belém Beach foi uma forma de angariar recursos financeiros para a recuperação do espaço, que deverá entrar em obras "em Novembro". "Vai ser tudo levantado", diz ao DN, e reabilitado "mantendo a mesma disposição". O objetivo é que esta área possa servir de palco à realização de eventos, dado que é um espaço amplo que permite a montagem de estruturas provisórias de grande dimensão. Segundo Fernando Ribeiro Rosa, a requalificação do espaço terá um custo de 150 mil euros: "Já temos 50 mil, vamos ter que pôr mais 100 mil." De investimentos anteriores ficou uma placa em pedra, uma ironia face ao estado atual do terreiro: "A Administração do Porto de Lisboa investiu no arranjo desta zona ribeirinha para lhe proporcionar um espaço de identificação com o incomparável estuário do Tejo."

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