"Tokaji é o rei dos vinhos mas são muitos os bons vinhos húngaros"
Quando se fala de vinhos húngaros em Portugal, em regra as pessoas sabem do tokaji. O que faz tão especial esse vinho?
Ágnes Herczeg (A.H.) - O tokaji é um vinho doce e todas as famílias nobres europeias de séculos passados, reis , czares, imperadores, costumavam bebê-lo. Era o vinho favorito nas cortes. Luís XIV, por exemplo, disse que o tokaji era "o rei dos vinhos e o vinho dos reis". Da França à Rússia, passando pela Áustria e pela Hungria, era apreciado e muito. E continua a sê-lo.
Curiosamente, o tokaji é um vinho feito a partir de uvas afetadas por um fungo. É esse o segredo?
Gábor Herczeg (G.H.) - É mais do que isso. Provém de uma região vulcânica, que sempre produziu vinhos de grande qualidade e que tem uma casta célebre, a furmint.
A.H. - Mas sim, existe aquilo a que chamados a podridão nobre, um fungo que afeta as uvas e as faz mirrar. Isso provoca uma reação nos bagos que lhes dá um sabor único. O açúcar fica muito concentrado e o equilíbrio com a acidez é perfeito. Por isso, é tão agradável de beber o tokaji. E tão elegante.
Mas a Hungria tem muitos mais vinhos...
A.H. - Muitos, muitos [risos]. Tintos, brancos, espumantes, todo o leque. Produzimos vinhos de qualidade em todo o país.
Falámos do tokaji, que é produzido na região chamada Tokaj, mas outra famosa região vinícola húngara é a que rodeia o lago Balaton.
A.H. - Sim, à volta do Balaton são muitos os produtores, e vale a pena visitá-los. Se alguém for à Hungria, recomendo um passeio pela região do lago Balaton. É muito bela. E com bons vinhos para saborear, nas adegas locais. A parte norte tem mais colinas, e também é vulcânica, a parte sul é plana.
Como tem evoluído a tradição de consumo de vinho na Hungria? Está agora mais na moda do que nunca?
A.H. - Durante o comunismo, até 1989, bebia-se muito vinho, mas não era de grande qualidade. Agora sim, o vinho húngaro ganhou qualidade, ou recuperou-a, graças a muitos novos produtores, alguns que até retomaram uma tradição familiar. Hoje a Hungria dedica-se a produzir vinhos de qualidade e há uma tendência dos húngaros para valorizar o bom vinho.
Exportam muito?
G.H. - Podemos vender mais. E falando da Happy Hungarian Wine, a minha empresa, não queremos exportar em grandes quantidades, não queremos exportar o típico vinho barato para venda em supermercados. Estamos a trabalhar muito no setor da gastronomia, juntos dos restaurantes e bares.
Quais são os principais mercados da Happy Hungarian Wine?
G.H. - Reino Unido e Escandinávia, mas esperamos desenvolver o mercado polaco, pois a Polónia e a Hungria partilham muita história e penso que há lá vontade de descobrir o vinho húngaro.
A.H. - Queremos também aumentar as nossas vendas em Portugal. Começámos há três anos, mas a covid parou tudo. Organizámos desta vez com o nosso parceiro português um evento no Belém Altis Hotel e conhecemos peritos e consumidores e estamos otimistas.
Em Portugal, se quiser beber um vinho húngaro tenho de ir a um restaurante obrigatoriamente?
A.H. - Sim, não será num supermercado, pois vocês portugueses têm grandes vinhos. E assim é sempre difícil de vender os nossos vinhos. Por isso, apostamos nos restaurantes e bares, onde há quem queira provar algo novo. Mas o nosso parceiro português, a Garrafeira Nacional, tem uma seleção de vinhos húngaros, incluindo tokaji [risos].
G.H. - E vamos nas próximas semanas aumentar essa seleção.
É possível dizer que estes cinco vinhos de que foi feita prova aqui na embaixada em Lisboa são os cinco melhores da Hungria? Enumero: Szent Tamás Furmint (Adega Balassa), Gella (Adega Figula) Kétvölgy Kékfrankos (Adega Vesztergombi) Hangács Egri Bikavér Grand Superior (Adega St. Andrea) Tokaji Aszú "6 puttonyos" (Heritage Hungarian Wine).
G.H. - Consegue dizer-me as cinco mulheres mais belas do mundo?
A.H. - Ou os cinco homens? [risos]
G.H. - Mas sim, posso garantir que são todos grandes vinhos, com prémios em competições internacionais. E com castas húngaras.
Há pouco referiu uma experiência que teve com um tinto português.
G.H. - Estou há 23 anos no mercado do vinho. Um dia em Nova Iorque, em 2007, num evento da revista Wine Spectator, provei um tinto e nunca tinha sentido antes aqueles aromas e sabores. "Que vinho é este meu Deus!", pensei. Era um touriga nacional. Uma experiência que me marcou. E desde então tenho um grande apreço por essa casta portuguesa [risos].
É possível encontrar os bons vinhos portugueses em Budapeste?
G.H. - Sim, claro. Em bons restaurantes. E em bares de vinho.