Todos os clubes ingleses desistem. Superliga morre antes de nascer?
A bomba caiu ao fim da noite, avançada em primeira mão pelo canal público de televisão britânico: os seis clubes ingleses fundadores da Superliga Europeia decidiram abandonar o projeto, após toda a polémica que o mesmo provocou junto de adeptos e instituições.
Fica assim a competição reduzida, para já, a metade dos 12 clubes que a criaram. Está assim acabada a Superliga? Possivelmente, mas a questão ainda está em aberto, pois não há ainda uma posição formal nem dos outros clubes fundadores (Real Madrid, Atlético Madrid, Barcelona, Milan, Inter, Juventus) nem dos próprios órgãos do projeto.
Durante o dia de ontem, terça-feira, foram muitas as movimentações que levaram a este desfecho. O Manchester City foi o primeiro a formalizar a saída, após manifestações dos adeptos, da condenação por parte da opinião pública em todo o mundo e das instituições envolvidas.
Além disso, também os capitães de todas as equipas se reuniram de emergência, o plantel do Liverpool tomou posição pública contra a prova e o primeiro-ministro Boris Jonhson voltou a dizer que tomará "as medidas necessárias para parar o projeto".
A polémica tinha levado mesmo à demissão de Ed Woodward, vice-presidente do Manchester United, depois de uma reunião com os jogadores dos red devils.
Entretanto, em Itália Andrea Agnelli também se preparava para se demitir da presidência da Juventus.
Seja como for a batalha judicial entre a Superliga e a UEFA já começou e houve mesm o um triunfo parcial para o original grupo dos 12, que jogou na antecipação. Os "dissidentes", liderados por Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, interpôs uma ação no Tribunal do Comércio de Madrid, que, ontem, determinou medidas cautelares para impedir qualquer ação que inviabilize a Superliga Europeia, criada domingo à revelia da UEFA e com reprovação da FIFA.
As medidas cautelares visam impedir ações da FIFA, UEFA e todas as suas federações ou ligas associadas que "proíbam, restrinjam, limitem ou condicionem de qualquer maneira, direta ou indiretamente, o avanço da Superliga". O tribunal proibiu ainda que se adotem "quaisquer medidas sancionatórias ou disciplinares contra os clubes participantes, os seus jogadores ou dirigentes"...
o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, contou ontem com um aliado de peso: Gianni Infantino, atual presidente da FIFA que, em tempos, como secretário geral da UEFA, enfrentou um processo idêntico do chamado G14. "Se alguns escolherem seguir o seu próprio caminho, devem viver com as consequências das suas escolhas e são responsáveis por elas. Isto significa exatamente que ou estás dentro ou estás fora, não podes estar meio dentro e meio fora", avisou o líder da FIFA.
Ferida no orgulho, a UEFA , pela voz de alguns dirigentes já apontou a sanções e castigos exemplares para os desertores. E houve mesmo quem defendesse a exclusão imediata dos emblemas ainda em ação na Champions e na Liga Europa - o que poderia até levar à repescagem do FC Porto.
A federação alemã (DFB) foi uma das que pediu mão pesada à UEFA e defendeu a exclusão dos fundadores "até que pensem nos muitos adeptos que os transformaram em gigantes do futebol mundial, e não apenas no porta-moedas". Fritz Keller, presidente da DFB, apelidou ainda a nova competição de "algo para os super-ricos e super sem escrúpulos".
Miguel Poiares Maduro, antigo presidente do comité de governação da FIFA, considerou o terramoto criado com a Superliga Europeia como uma oportunidade para a União Europeia legislar globalmente sobre uma "atividade que está desregulada" e que "representa 3,7% do PIB europeu". E essa podia muito bem ser a forma de Portugal marcar a sua presidência da UE, defendeu o ex-ministro à agência Lusa, acrescentando que "o atual enquadramento legislativo da UE e as regras da concorrência não serão suficientes para impedir a criação da Superliga". Além disso, utilizar essas regras como argumento "pode ter o efeito contrário", pois instituições como a UEFA e a FIFA "são simultaneamente as reguladoras das competições e as operadoras económicas que organizam o mercado", algo que "viola as regras da concorrência".
De acordo com o jornal o Financial Times, a Superliga Europeia prevê tetos salariais para os jogadores, limites de gastos dos clubes e distribuição de lucros, num modelo semelhante ao das grandes ligas profissionais norte-americanas, como a NBA (basquetebol). De acordo com a mesma notícia, os 15 clubes participantes repartiriam entre si 32,5% dos proveitos comerciais, provenientes maioritariamente dos direitos televisivos e dos patrocínios, no valor total de quatro mil milhões de euros (o dobro do encaixe que atualmente obtêm da UEFA). Os outros cinco emblemas convidados teriam direito a verbas chorudas, mas abaixo do valor da dos pioneiros.
A resposta da UEFA deve chegar até sexta-feira, com a previsível distribuição de sete mil milhões de euros no novo formato da Champions, que terá 36 equipas, quando o valor inicial previsto para a reformulação da prova era de 4,5 mil milhões. A confirmar-se o aumento do bolo a distribuir pela maior competição europeia ganha peso a teoria de bluff ou chantagem dos clubes ricos para pressionar a UEFA a abrir os cordões à bolsa, como defendeu Emanuel Medeiros na edição de ontem do DN.
Com Filipe Gil e Ricardo SImões Ferreira